terça-feira, 31 de maio de 2016

Coxinha não identificada aparece em transmissão da Rede Globo

Uma misteriosa aparição de uma Coxinha está dando o que falar nas mídias sociais. Veja o vídeo, que impressionante!

https://www.youtube.com/watch?v=LZR_w40niZQ

O que seria essa Coxinha? Um eleitor do Aécio? Um telespectador da rede globo? Um ministro do gabinete de Michel Temer? Não percam as próximas notícias, porque o final Você Decide.

Escracho à Rede Globo

Pernambuco, 30 de maio de 2016.

Finda uma gargalhada intensa, após tomar fôlego, resolvi compartilhar um vídeo sobre a cobertura ao vivo da passagem da tocha olímpica por Caruaru, onde manifestantes esculacharam a Rede Globo pedindo "Fora Temer". O repórter tentou disfarçar, mas não deu muito (nem um pouco) certo.

Rede Globo, que papel mais ridículo você está se prestando ao tentar encobrir o óbvio... Seu império está ruindo por causa disso e você nem está percebendo.

 

O Anacronismo na Universidade de São Paulo

A Universidade de São Paulo é conhecida, principalmente, pelo seu renome internacional como centro de formação e pesquisa. É conhecida também pelos seus escândalos, principalmente envolvendo seus alunos -- histórias de embriaguez, estupro, morte, execração pública de calouros e racismo aparecem com certa frequência na mídia.

O que talvez não seja muito do conhecimento público é como a entidade se comporta com relação à "coisa pública", à administração da Universidade.

Juridicamente, a USP é uma autarquia especial estadual, gozando de autonomia administrativa e financeira em relação ao Poder Executivo do Estado de São Paulo. Tal autonomia serve para, teoricamente, dar maior dinamismo à forma como ela se gerencia e evitar ingerências dos poderes executivos e legislativos, resultando em uma instituição neutra e apta a concluir sua missão, sem pressões políticas ou lobbies.

Tudo isso, em teoria. A prática se mostra bem diferente,

Primeiramente, devemos notar que a comunidade USP é dividida em estamentos, tal qual num sistema feudal; e estar em um estamento mais alto significa ter privilégios, contrariando a essência da res publica e os princípios da igualdade, da supremacia do interesse público, da isonomia e mesmo da moralidade. No topo da pirâmide, encontra-se os docentes. São eles os únicos que podem se candidatar aos cargos relevantes de gerência, tais como de Presidência de Colegiado, mesmo que o cargo nada tenha a ver com o ensino. Um pode dizer que essa prática também é comum em outras entidades ou órgãos públicos, como os desembargadores são os congregados do Tribunal, os Ministros/Conselheiros, os dos tribunais, e assim por diante; sim, formalmente é a mesma coisa que acontece, no entanto, se levarmos em consideração a sintonia entre os conhecimentos necessários para ser bem sucedido como administrador público e os conhecimentos de alguém que mexe com auditoria de órgãos públicos e compararmos isso com o conhecimento de um enfermeiro, entendemos que o simples ctrl c, ctrl v de um modelo para o outro não é algo que possa ter  Um docente da faculdade de medicina pouco sabe de moralidade pública a ponto de poder ser um diretor ou um chefe executivo de uma entidade pública. Uma autarquia não pode ser considerada como uma empresa, pois serve ao interesse público

Disso, surge o corporativismo. Todos os Colegiados da Universidade de São Paulo asseguram a participação de funcionários administrativos e alunos, mas sempre numa posição que não ameace a corporação. Por exemplo, a Congregação da Faculdade de Direito apresenta 81 membros; desses, apenas 4 são servidores administrativos: 5% do Colegiado; são 7 representantes discentes, sendo um ex-aluno, o que faz com que 86% da Congregação seja composta por docentes. Agora imagine que esses 86% fossem formados, e.g., em Educação Física; entendem tudo de morfologia do corpo humano, fisiologia etc. Por fim, imagine que esses são os caras que vão fiscalizar as obras, as licitações, o emprego do dinheiro público, etc. O que nos leva à perceber que. muito embora os dirigentes da USP tenham grau mínimo de doutorado (e ai de quem não coloca o Dr. antes do nome do cidadão), a eficiência não é muito melhor do que a de uma Prefeitura de cidade pequena -- às vezes, é muito pior.

Sobre os privilégios do estamento docente. O modelo patrimonialista que se instalou e permaneceu na Universidade, que tanto preza a "meritocracia", obliterou o Estado de Direito. Lá, a lógica difere do resto do país. Sua expressão maior se encontra no regime de contratação dos novos senhores doutores feudais: o regime de dedicação integral à docência e à pesquisa (RDIDP). Quem lê a expressão deve de pensar que os professores são escravizados pelo sistema; alguns deles até pensam que são, de tão descolados que se encontram da realidade; e quando se vê o estatuto, quase se tem uma certeza disso: o servidor que assim for contratado tem que dar aulas e pesquisar, além de eventualmente desempenhar um cargo administrativo. Não há folha de ponto: a dedicação é exclusiva, tem que estar à disposição da Universidade sempre que for preciso. Quem se enquadra nesse regime não pode desenvolver outra atividade econômica. Agora, de novo, vamos voltar à realidade: boa parte (não digo todos pois seria injustiça com quem realmente trabalha) dos que apresentam cargos administrativos (e ganham uma comissão muito boa para isso) somente vão às seções para assinar os documentos, muitas vezes sem ter a mínima ideia do que estão assinando. Outros fazem pior: escaneiam a assinatura e pede para o funcionário colocar no ofício, para não ter o trabalho de aparecer no local de trabalho.

Na área da pesquisa, quem está no dia a dia sabe que quem pesquisa é o aluno de iniciação científica, de mestrado e de doutorado. Muitos fazem o mesmo que fazem administrativamente: apenas emprestam seu "renome" (oriundo de uma presunção de intelectualidade simplesmente por serem professores da USP) para subscrever artigos, para que aqueles que realmente tocam a pesquisa possam adentrar no mercado do trabalho científico.

Com relação à docência, a situação é ainda pior: os bacharéis não têm didática alguma e, quando uma turma vai mal, atribuem a culpa aos alunos, na maioria das vezes sem apresentar uma forma de sanar o problema de aprendizado que surge. Outros, terceirizam inclusive a atividade docente aos mestrandos, doutorandos e alunos PAE que supervisionam.

Não obstante tudo isso, os docentes reclamam da centralização das atividades em sua categoria, mas são categóricos em dizer não a descentralizar o que dá para ser descentralizado. E, para piorar, apesar de serem servidores de "dedicação integral", 40% destes desenvolvem outras atividades fora da universidade, com o aval da Administração (que é feita majoritariamente por seus pares, como já discuti). Isso é um sintoma da camaradagem que surge entre eles na hora dos colegiados fiscalizarem: todos fazem vista grossa e, dessa forma, ninguém delata ninguém. Cabe ressaltar que, além dessa porcentagem, existem aqueles de dedicação integral que desenvolvem atividades econômicas extra-USP ilegalmente: basta pescar o nome, por exemplo, de um docente da Faculdade de Odontologia de Bauru, que seja RDIDP, e procurar no Google se o bonito tem consultório e você se espantará com os resultados.

Cabe ainda ressaltar o assédio moral com os alunos e com os funcionários administrativos, que é simplesmente lindo. Algumas comunidades e hashtags lançadas nas mídias sociais nos dão uma dimensão sobre quão escrabosa é a situação dentro da Universidade-modelo do Brasil (por exemplo, a comunidade "IFSC, isso não é normal" e "Meu Professor Feano", com diversos relatos de alunos que foram ridicularizados por terem entrado em depressão, após assédio moral, e assédios sexuais a alunos e alunas -- uma delas afirma ter pegado AIDS do professor). Em uma reunião da Congregação da Faculdade de Farmácia de Ribeirão Preto, por exemplo, diversos docentes fizeram escárnio da situação de um refugiado que pedia revalidação de diploma, por ser sírio. Uma docente do IQSC chegou a falar em alto e bom som, após uma reunião da CG, que era contra a invasão de nordestinos na Universidade de São Paulo porque a autarquia era dos paulistas e, por isso, queria ter votado CONTRA a adesão ao programa SiSU. Com relação aos funcionários administrativos, a relação muitas vezes é a de senhor-vassalo, fazendo-o muitas vezes ter de executar tarefas fora da legalidade para atender a suas vontades.

Com raras exceções, o peso no nome da USP se apoia em ombros de gigantes, de uma minoria de docentes que fazem uma pesquisa de qualidade, que se preocupam em ensinar e que desempenham atividades administrativas relevantes, preocupando-se com o interesse público. E o renome se deve muito mais à quantidade de dinheiro público que é injetado (sem fiscalização) do que à qualidade da pesquisa que surge. A Universidade de São Paulo, depois de 85 anos, continua sendo um antro de corporativismo, patrimonialismo e corrupção; mas seu reinado soberano não durará mais duas décadas.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Winter on Fire - Ukraine's Fight For Freedom - review



Netflix had bet heavily upon independent productions - and it has been a case of success. Subject to Winter on Fire, it was not different. It is a beautiful production, with an exuberant photography, which reveals how much the State acts within a dubious play of representant and opressor of the people.

The documentary have as subject the insatisfaction of Ukraine's population regarded to the politics of the President Viktor Yanukovich, who had promised an enlargement of relations with European Union, nevertheless, it was with Putin that the mandatary had become best friend forever.  Old fissures over the society emerged out of this problematic, such as the question of identity and the feeling of belonging to a comunity.

The main vilain of the movie is the repression of the Police State against the democratic resilience of win the authoritarismo -- even at the cost of lives. It is salutary to notice the popular mobilisation around an "effort of war" to keep the Square of Liberty occupied until the befall of the President. It is also interesting to notice how the violence scalated, beginning with the repression of a pacific protest of huge proportions to the edge of a civil war.

The Ocidental contemporary Police State is not an Ukraine novelty, being present in several other countries of Europe, in United States (consigned as anti-terrorism politics and spying), as to the Brazil, as we can see on the seletivity of the media and the repressive organs against the demonstrations pro-Dilma, when compared to those against. The most emblematic cases is the reintegration of the students occupation without juridic basement, the anti-terrorism acts which can frame the social protests as crimes of terrorism, as to the spanking of teachers and repression of Unions which fight for better salaries,as we can see in the states governed by Beto Richa (PSDB-PR) and Geraldo Alckmin (PSDB-SP). All these attitudes contrasts with the demagogy of the "stormtroopers" whose take selfies with the protesters and salute them, when the demonstration is against Labour Party (PT).

Although Winter On Fire being touching, we shall undo some unilateral concepts which may rise by watching this movie. The question of Ukraine is far more complex than the production suggests. At the first place, considering the country as a whole, it is not a consense the alignment of the country with the Europe, as to the sense of belonging to the Community. Oriental Ukraine is constituted mostly of ethnic Russians; secondly, some groups were so resilient with the idea of europeanism that sometimes leads to chauvinism, which is the nest of xenophobia, at the long term. According to the Financial Times, 55% of the Euromaidans were from the ocidental portion of the country, and only 21% from east (the rest is from the centre). This is influenced greatly by the geographic location of the capital, although the ethnic and ideologic alignment of the east is very relevant. The frontiers between these two worlds - East and West - make Ukraine have airs of a buffer state, with a nationally partially artificial, of high instability and without an homogenic social identity.


Yanukovich had an impeachment controverse and summary, juridically speaking. Perhaps the biggest basement that could take off the mandatary would be its crimes against humanity; however, the prompt delivery of the national interests, without a conversation to the East Side of the Force, enraged the other part of population. As a consequence, Russia quietly annexed Crimea - her intentions was to foreclose the advance of NATO to her zone of influence, revealing a bipolarisation still existent between the two main nuclear states, and guarantee the control over the naval bases on Sebastopol.  The territory was subject to great disputes between Russia and the West in the past, being stage of the bloody War of Crimea (1863). During the government of Stalin, the territory belonged to Russia; however, Kruschev, by starting the de-stalinisation, had the "brillant" idea of annexed to the Ukraine, as a declared reparation of Holodomor, which stressed the two countries after the debâcle of USSR.



After the befall of the president Yanukovich, the interine Alexander Turchnov did not have a moderate profile of the East-West conflict, but aligned completely with Europe. He comitted the same mistake of his predecesor, but having another portion of population as victim: he elaborated authoritative measures, constrained the Russian as official language, persecuted minorities, which fed up protests in Luhansk and Donetsk (second bigger city of Ukraine), inspired on #maidan. The police repression and the resignation of  the pro-russians gave room to a escalation of violence, culminating in a horrible civil war, which still endures. The West accuses Putin of support the separatists with missiles, armament and soldiers; Russia denies and accuses the West of ingerency.

Nothing excuses Yanukovich from his crimes against homeland and humanity. His government killed innocent people in cold blood, and make use of a disproportional violence. But we cannot simplify the subject: the supporters of Yanukovich were in the East, and this were not taking into account during the movie, creating a false sense of "unanimity" around the claims of the people of Kiev. Making this exception, the documentary is awesome and unfortunately gives us a feelin' of threat agaisnt democracy and peace, as to some sense of impotency.

Mello-Oliveira's Grade: 8,5

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segunda-feira, 23 de maio de 2016

Áudio de Romero Jucá com Sérgio Machado e a tese do golpe

Os vazamentos políticos têm sido quase um fato cotidiano para o povo brasileiro. Em geral, tais vazamentos são seletivos e enfraquecem nitidamente a posição do governo de Dilma Rousseff. Contrariando a maré, hoje veio a público um áudio revelador de Romero Jucá conversando com Sérgio Machado, antes do processo de impeachment passar pela Câmara dos Deputados. Quem disponibilizou a conversa foi a Folha de São Paulo.

Durante a conversa, o dirigente da Transpetro tratou sobre a derrubada da presidente e afirmou que a melhor saída [para eles, e não para o Brasil] seria Michel Temer assumir o poder. Leia os trechos e a análise:

SÉRGIO MACHADO - Mas viu, Romero, então eu acho a situação gravíssima.

ROMERO JUCÁ - Eu ontem fui muito claro. [...] Eu só acho o seguinte: com Dilma não dá, com a situação que está. Não adianta esse projeto de mandar o Lula para cá ser ministro, para tocar um gabinete, isso termina por jogar no chão a expectativa da economia. Porque se o Lula entrar, ele vai falar para a CUT, para o MST, é só quem ouve ele mais, quem dá algum crédito, o resto ninguém dá mais credito a ele para porra nenhuma. Concorda comigo? O Lula vai reunir ali com os setores empresariais?
MACHADO - Agora, ele acordou a militância do PT.
JUCÁ - Sim.
MACHADO - Aquele pessoal que resistiu acordou e vai dar merda.
[Eles já sabiam que ao acordar a militância, seria meio complicado os empresários ganharem a briga tendo o Lula como interlocutor]
JUCÁ - Eu acho que...
MACHADO - Tem que ter um impeachment.
JUCÁ - Tem que ter impeachment. Não tem saída.
MACHADO - E quem segurar, segura.
JUCÁ - Foi boa a conversa mas vamos ter outras pela frente.
MACHADO - Acontece o seguinte, objetivamente falando, com o negócio que o Supremo fez [autorizou prisões logo após decisões de segunda instância], vai todo mundo delatar.
JUCÁ - Exatamente, e vai sobrar muito. O Marcelo e a Odebrecht vão fazer.
MACHADO - Odebrecht vai fazer.
JUCÁ - Seletiva, mas vai fazer.
MACHADO - Queiroz [Galvão] não sei se vai fazer ou não. A Camargo [Corrêa] vai fazer ou não. Eu estou muito preocupado porque eu acho que... O Janot [procurador-geral da República] está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho.
[...]
JUCÁ - Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. [...] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.
[...]
MACHADO - Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer].
JUCÁ - Só o Renan [Calheiros] que está contra essa porra. 'Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha'. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
MACHADO - É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
JUCÁ - Com o Supremo, com tudo.
MACHADO - Com tudo, aí parava tudo.
JUCÁ - É. Delimitava onde está, pronto.
[...]
MACHADO - O Renan [Calheiros] é totalmente 'voador'. Ele ainda não compreendeu que a saída dele é o Michel e o Eduardo. Na hora que cassar o Eduardo, que ele tem ódio, o próximo alvo, principal, é ele. Então quanto mais vida, sobrevida, tiver o Eduardo, melhor pra ele. Ele não compreendeu isso não.
JUCÁ - Tem que ser um boi de piranha, pegar um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem.
*
MACHADO - A situação é grave. Porque, Romero, eles querem pegar todos os políticos. É que aquele documento que foi dado...
JUCÁ - Acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com...
[Legal essa ironização de político não corrupto, como se isso fosse impossível. Francamente, isso só incrimina mais ainda Romero Jucá]
MACHADO - Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB, não sei se caiu a ficha já.
JUCÁ - Caiu. Todos eles. Aloysio [Nunes, senador], [o hoje ministro José] Serra, Aécio [Neves, senador].
MACHADO - Caiu a ficha. Tasso [Jereissati] também caiu?
JUCÁ - Também. Todo mundo na bandeja para ser comido.
[...]
MACHADO - O primeiro a ser comido vai ser o Aécio.

JUCÁ - Todos, porra. E vão pegando e vão...
MACHADO - [Sussurrando] O que que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele ser presidente da Câmara? [Mudando de assunto] Amigo, eu preciso da sua inteligência.
JUCÁ - Não, veja, eu estou a disposição, você sabe disso. Veja a hora que você quer falar.
MACHADO - Porque se a gente não tiver saída... Porque não tem muito tempo.
JUCÁ - Não, o tempo é emergencial.
MACHADO - É emergencial, então preciso ter uma conversa emergencial com vocês.
JUCÁ - Vá atrás. Eu acho que a gente não pode juntar todo mundo para conversar, viu? [...] Eu acho que você deve procurar o [ex-senador do PMDB José] Sarney, deve falar com o Renan, depois que você falar com os dois, colhe as coisas todas, e aí vamos falar nós dois do que você achou e o que eles ponderaram pra gente conversar.
MACHADO - Acha que não pode ter reunião a três?
JUCÁ - Não pode. Isso de ficar juntando para combinar coisa que não tem nada a ver. Os caras já enxergam outra coisa que não é... Depois a gente conversa os três sem você.
MACHADO - Eu acho o seguinte: se não houver uma solução a curto prazo, o nosso risco é grande.
***
JUCÁ - [Em voz baixa] Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem 'ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca'. Entendeu? Então... Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar.
[Essa é a parte mais chocante do áudio: o cara influencia o Supremo e conversa com os generais! Tem outro nome isso a não ser golpe???]

MACHADO - Eu acho o seguinte, a saída [para Dilma] é ou licença ou renúncia. A licença é mais suave. O Michel forma um governo de união nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse país volta à calma, ninguém aguenta mais. Essa cagada desses procuradores de São Paulo ajudou muito. [referência possível ao pedido de prisão de Lula pelo Ministério Público de SP e à condução coercitiva ele para depor no caso da Lava jato]
JUCÁ - Os caras fizeram para poder inviabilizar ele de ir para um ministério. Agora vira obstrução da Justiça, não está deixando o cara, entendeu? Foi um ato violento...
MACHADO -...E burro [...] Tem que ter uma paz, um...
JUCÁ - Eu acho que tem que ter um pacto.

[...]
MACHADO - Um caminho é buscar alguém que tem ligação com o Teori [Zavascki, relator da Lava Jato], mas parece que não tem ninguém.
JUCÁ - Não tem. É um cara fechado, foi ela [Dilma] que botou, um cara... Burocrata da... Ex-ministro do STJ [Superior Tribunal de Justiça].
Romero Jucá - Exatamente, e vai sobrar muito. O Marcelo, e a Odebrecht, vão fazer.
Machado - Odebrecht vai fazer.
Jucá - Seletiva, mas vai fazer.
Machado - A Camargo vai fazer ou não. Eu estou muito preocupado porque eu acho que... O Janot está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho.
Jucá - [inaudível]
Machado - Hum?
Jucá - Mas como é que está sua situação?
Machado - Minha situação não tem nada, não pegou nada, mas ele quer jogar tudo pro Moro. Como não tem nada e como eu estou desligado...

[Não tem nada significa que não conseguiram nenhuma evidência incriminadora, e não que Machado é inocente]

Jucá - É, não tem conexão né...

Machado - Não tem conexão, aí joga pro Moro. Aí fodeu. Aí fodeu para todo mundo. Como montar uma estrutura para evitar que eu "desça"? Se eu descer...

[Machado cita o Moro e faz uma ameaça bem sutil a Jucá - se ele descer, graças à "tortura judiciária" ao qual as pessoas que ficam encarceiradas por tempo indeterminado, Machado iria abrir a boca. Significa dizer que se ele se der mal, está apto a levar todo mundo junto. A tal "estrutura" que sugestiona, como veremos a seguir, trata-se de colocar Michel Temer no poder]

Jucá - O que que você acha? Como é que voc...

Machado - Eu queria discutir com vocês. Eu cheguei a essa conclusão essa semana. Ele acha que eu sou o caixa de vocês, o Janot. Janot não vale "cibazol" [algo sem valor]. Quem esperar que ele vai ser amigo, não vai... [...] E ele está visando o Renan e vocês. E acha que eu sou o canal. Não encontrou nada, não tem nada.

[Não é difícil inferir aqui que Janot é conhecido de Machado e Jucá. Quando o interlocutor diz que este não vale nada, infere-se que seja sua "lealdade" com relação a eles]

Jucá - Nem vai encontrar, né, Sérgio.

[Olha a preocupação do Romero Jucá em ser pego com as calças na mão...]

Machado - Não encontrou nada, não tem nada, mas acha... O que é que faz? Como tem aquela delação do Paulo Roberto dos 500 mil e tem a delação do Ricardo, que é uma coisa solta, ele quer pegar essas duas coisas. 'Não tem nada contra os senadores, joga ele para baixo' [Curitiba]. Tem que encontrar uma maneira...

["Não tem nada" é sinônimo de "eu fiz tudo direito"]

Jucá - Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. [...] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.

[essa porra = Lava Jato. Bom... de acordo com Jucá, essa porra significa o desemprego...]

[Quando essa afirmação veio a público, pela manhã, veio descontextualizada, somente textos soltos. Jucá se defendeu perante a imprensa de que a "sangria" a qual falava seria a economia. Agora, com a devida contextualização, percebemos que se trata da Lava Jato mesmo]

Machado - Tem que ser uma coisa política e rápida. Eu acho que ele está querendo... o PMDB. Prende, e bota lá embaixo. Imaginou?

Jucá - Você conversou com o Renan?

Machado - Não, quis primeiro conversar contigo porque tu é o mais sensato de todos.

Jucá - Eu acho que a gente precisa articular uma ação política.

[ação política= tirar a Dilma do poder de alguma forma para abafar o caso]

Machado -...quis conversar primeiro contigo, que tenho maior intimidade. Depois eu quero conversar com Sarney e o Renan, com vocês três. [...] Eu estou convencido, com essa sinalização que conseguiu do Eduardo [incompreensível]. Desvincula do Renan.


Jucá - Mas esse negócio do Eduardo está atacando [incompreensível].

Machado - Mas ele [Janot] está querendo pegar vocês, tenho certeza absoluta.

Jucá - Não tem duas dúvidas.

Machado - Não, tenho certeza absoluta. E ele não vale um 'cibazol'. É um cara raivoso, rancoroso e etc. Então como é que ele age? Como não encontrou nada nem vai encontrar. [inaudível]

Jucá - O Moro virou uma 'Torre de Londres'.

Machado - Torre de Londres.

Jucá - Mandava o coitado pra lá para o cara confessar.

Machado - Pro cara confessar. Então a gente tem que agir como [incompreensível] e pensar numa fórmula para encontrar uma solução para isso.

Jucá - Converse com ele [Renan], converse com o Sarney, ouça eles, e vamos sentar pra gente...

Machado - Isso, Romero, o que eu acho primeiro: que é bom pra gente.

[...]

[Sarney estava a favor do governo em 2015; no dia 11 de abril, perto da data dessa conversa, declarou estar em cima do muro. No final das contas, votou a favor do impedimento]


*
Segundo trecho

Jucá - Eu acho que você deveria procurar o Sarney, devia procurar o Renan,e a gente voltar a conversar depois. [incompreensível] 'como é que é'.

Machado - É porque... Se descer, Romero, não dá.

Jucá - Não é um desastre porque não tem nada a ver. Mas é um desgaste, porque você, pô, vai ficar exposto de uma forma sem necessidade. [...]

Machado - O Marcelo, o dono do Brasil, está preso há um ano. Sacanagem com Marcelo, rapaz, nunca vi coisa igual. Sacanagem com aquele André Esteves, nunca vi coisa igual.

Jucá - Rapaz... [concordando]

Machado - Outra coisa. A frouxidão de vocês em prender o Delcídio foi um negócio inacreditável. [O Senado concordou com prisão decretada pelo STF]

Jucá - Sim, pô, não adianta soltar o Delcidio, aí o PT dá uma manobra, tira o cara, diz que o cara é culpado, como é que você segura uma porra dentro do plenário?

Machado - Mas o cara não foi preso em flagrante, tem que respeitar a lei. Respeito à lei, a lei diz clara...

Jucá - Pô, pois então. Ali não teve jeito não. A hora que o PT veio, entendeu, puxou o tapete dele, o Rui, a imprensa toda, os caras não seguraram, não.

Machado - Eu sei disso, foi uma cagada.

Jucá - Foi uma cagada geral.

Machado - Foi uma cagada geral. Foi uma cagada o Supremo fazer o que fez com o negócio de prender em segunda instância, isso é absurdo total que não que não dá interpretar, e ninguém fez nada. Ninguém fez ADIN, ninguém se questionou. Isso aí é para precipitar as delações. Romero, esquentou as delações, não escapa pedra...

Jucá - [incompreensível] no Brasil.

Machado - Não escapa pedra sobre pedra.
[incompreensível]

Machado - Eu estou com todos os certificados do TCU, agora me deram, não devo nada, zero. E isso adianta alguma coisa? Então estou preocupado.

Jucá - Não, tem que cuidar mesmo.

Machado - Eu estou preocupado porque estou vendo que esse negócio da filha do Eduardo, da mulher, foi uma advertência para mim. E das histórias que estou sabendo, o interesse é pegar vocês. Nós. E o Renan, sobretudo.

Jucá - Não, o alvo na fila é o Renan. Depois do Eduardo Cunha... É o Eduardo Cunha, a Dilma, e depois é o Renan.

Machado - E ele [Janot] não tem nada. Se ele tivesse alguma coisa, ele ia me manter aqui em cima, para poder me forçar aqui em cima, porque ele não vai dar esse troféu pro Moro. Como ele não tem nada, ele quer ver se o Moro arranca...

Jucá -...para subir de novo.

Machado -...para poder subir de novo. É esse o esquema. Agora, como fazer? Porque arranjar uma imunidade não tem como, não tem como. A gente tem que ter a saída porque é um perigo. E essa porra... A solução institucional demora ainda algum tempo, não acha?

Jucá - Tem que demorar três ou quatro meses no máximo. O país não aguenta mais do que isso, não.

Machado - Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel.
Jucá - [concordando] Só o Renan que está contra essa porra. 'Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha'. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.


Machado - É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.

Jucá - Com o Supremo, com tudo.

Machado - Com tudo, aí parava tudo.

Jucá - É. Delimitava onde está, pronto.

[uma pausa para respirar: um acordo nacional,com o Supremo, com tudo? Significa então que o impeachment é uma forma de obstruir a justiça? O Grande Conciliador Golpista-Mor entraria em cena para conciliar os corruptos do legislativo com o judiciário e pôr fim à Operação?]



Machado - Parava tudo. Ou faz isso... Você viu a pesquisa de ontem que deu o Moro com 18% para a Presidência da República?

Jucá - Não vi, não. O Moro?

Machado - É aquilo que você diz, o Aécio não ganha porra nenhuma...

Jucá - Não, esquece. Nenhum político desse tradicional não ganha eleição, não.

Machado - O Aécio, rapaz... O Aécio não tem condição, a gente sabe disso, porra. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB...

Jucá - É, a gente viveu tudo.

[Que esquema, Aécio?]


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Ou seja, meus caros, o Romero Jucá conseguiu o apoio do Supremo Tribunal Federal e dos generais das Forças Armadas para tirar a Dilma Rousseff do poder, no intuito de estancar a Lava Jato - e não porque pedaladas fiscais são crimes de responsabilidade. Ou seja, adotarei permanentemente e sem ressalvas  a partir de agora que esse impeachment foi indubitavelmente um golpe de estado.
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O que acontecerá depois da revelação desse áudio?

Primeiramente, a Globo já pediu a cabeça, em editorial, de Romero Jucá, e esse obedeceu. Certamente que esse golpe de estado é muito mais do que simplesmente uma tentativa de abafar a Lava Jato: soma-se a isso aos interesses da FIESP, dos empresários, das petrolíferas americanas e a sanha de poder de Michel Temer (no afã de deixar de ser decorativo: porém, decorativo ele sempre será, quem governa agora é o Eduardo Cunha, como o próprio Renan bem sabe) e do PSDB que, como Jucá nos revelou, não ganha nenhuma eleição mais  -- nenhum desses políticos tradicionais ganharão. Além disso, a Globo se vê numa situação pouco favorável no governo petista, vendo suas verbas publicitárias diminuírem proporcionalmente com relação aos outros canais de comunicação, conjugado com a sonegação de impostos sem anistia e com a queda natural e perene de sua audiência, graças à internet. Por fim, tem-se o "anti-bolivarianismo", uma ideia sem pé nem cabeça que ataca a administração do PT por supostamente querer instaurar um regime comunista aqui no país (risos...)

Michel Temer irá lançar seu programa de maldades econômicas, com atenuantes, mas terá mais cautela para não macular sua frágil administração. Irá tentar esperar um pouco antes de fazer cortes sociais. Alguns partidos da base aliada irão retirar o alinhamento automático, e terão posturas mais "independentes" - isso supostamente desvincularia a imagem do partido com a ideia do golpe e daria maior poder de barganha para chantagear o Decorativo, que ficará ainda mais decorativo.

Porém, a parte mais radical que apoiou o golpe vai querer que o governo promova as medidas contra as minorias e Temer vai se ver num dilema: ou devolve o poder para Dilma, ou joga o jogo. As manifestações vão ficar maiores e vai chegar ao ponto de ter que usar a força - o Estado Policial já está começando a existir, como podemos notar com o cerco que fizeram ao Palácio do Planalto. O Decorativo vai esperar chegar 1º de janeiro de 2017 para renunciar, evitando assim as eleições diretas. O próximo que sobe governará com mãos de ferro e a população sofrerá. Chegará 2018, ganhará Ciro Gomes.

domingo, 22 de maio de 2016

Winter On Fire: Ukraine's Fight For Freedom - review



A Netflix tem apostado pesado em suas produções independentes - e tem sido um caso de sucesso. No caso do Winter on Fire não foi diferente. Trata-se de uma produção belíssima, com uma fotografia exuberante, que joga na cara o quanto o Estado atua como o papel dúbio de representante e opressor do povo.

O documentário trata da insatisfação do povo ucraniano com relação às políticas do presidente Yanukovitch, o qual havia prometido uma maior aproximação com a Europa, não obstante foi do Putin que ficou mais amigo. Velhas fissuras na sociedade emergem dessa problemática, tais como a questão da identidade e o sentimento de pertencimento a uma comunidade.

O vilão maior do filme é a própria repressão do Estado Policial contra a a resiliência democrática de vencer o autoritarismo -- mesmo que a custa de vidas. Salutar é notar a mobilização popular em torno de um "esforço de guerra" para manter a praça ocupada até que o presidente caísse. É interessante notar como que a violência acabou por escalar, indo desde um protesto pacífico de amplas proporções, até à beira de uma guerra civil.


O Estado Policial contemporâneo ocidental não é uma novidade ucraniana, estando presente em vários outros países da Europa, Estados Unidos (políticas antiterroristas e de espionagem), como também no Brasil, como podemos ver na seletividade como a polícia trata as manifestações pró e contra a oligarquia brasileira. O caso mais emblemático é a expulsão das ocupações estudantis sem embasamento jurídico, as leis "antiterroristas" que podem enquadrar as manifestações sociais e populares como crime de terrorismo, e o espancamento de professores que pedem por aumentos salariais, como acontece nos estados de Beto Richa (PSDB-PR) e Geraldo Alckmin (PSDB-SP) -- e a demagogia dos "stormtroopers" tupiniquins que descem o cacete no pobre, no professor e no estudante, e tira selfie/batem continência em manifestações da classe média.

Apesar de a produção de Winter On Fire ser bem tocante, devemos desfazer alguns conceitos unilaterais que talvez possa vir a surgir ao assistirmos o filme. A questão da Ucrânia é muito mais complexa do que a produção possa sugerir. Em primeiro lugar, tomando o país como um todo, não é consenso o alinhamento com a Europa e a identidade europeia. A Ucrânia Oriental é constituída muito mais de russos do que a Ocidental; a resiliência democrática nos protestos não foi consenso, às vezes beirando ao chauvinismo, o que faz nascer o gérmen da xenofobia, no longo prazo. De acordo com o Financial Times, 55% dos manifestantes do Euromaidan era da porção oeste do país e apenas 21% da porção leste. Isso é influenciado em grande medida por Kiev fazer parte da porção ocidental, mas cabe lembrar que o leste é composto de uma população que carrega muito da identidade russa. A fronteira entre os dois mundos faz com que a Ucrânia tenha ares de estado-tampão, nacionalmente artificial, de alta instabilidade e sem uma identidade social homogênea definida.


Yanukovich teve um impeachment controverso e sumário, juridicamente falando. Talvez o maior embasamento que pudesse dar cabo à sua queda seria justamente seus crimes contra a humanidade; porém, o "entreguismo" sumário à União Europeia enraiveceu o lado oriental da força. Como consequência da queda do mandatário, a Rússia anexou silenciosamente a Crimeia - sua intenção era barrar o avanço da Otan rumo à sua zona de influência, revelando uma bipolarização ainda existente entre os dois mundos nucleares, e garantir o controle sobre as bases navais russas de Sebastopol, que agora eram colocadas estrategicamente em xeque. O território já foi alvo de grandes disputas entre a Rússia e o Ocidente no passado, sendo palco da sangrenta Guerra da Crimeia (1863). Durante o governo de Stalin, o território pertencia à República Russa; porém Kruschev, ao iniciar a desestalinização, teve a "brilhante" ideia de anexá-la à República Ucraniana, como reparação pelo Holodomor, causando tensões entre a Federação Russa e a Ucrânia após o debâcle soviético.



Após a queda do presidente, o sucessor interino Alexander Turchnov não teve um perfil moderador dos conflitos leste-oeste, mas alinhou-se completamente à Europa. Cometeu os mesmos erros que o antecessor, mas tendo outra porção da população como vítima: elaborou medidas autoritárias, proibiu o uso do russo como língua oficial e perseguiu  minorias, o que fez surgir manifestações em Luhansk e Donetsk (segunda maior cidade ucraniana), muitos deles inspirados no próprio Euromaidan. A dureza da repressão policial, aliado com o extremismo político, dessa vez mais voltado para a esquerda (consubstanciado nas declarações de independência e constituição de "Repúblicas Populares", nomes que fazem remeter à época da União Soviética) fez a sociedade civil internacional testemunhar uma escalada de violência que culminaria em uma horrorosa guerra civil, algo que quase aconteceu na Praça da Independência. O Ocidente acusa Putin de apoiar os separatistas com mísseis, armamentos e até RH.

Nada desabona Yanukovich de seus crimes de lesa-pátria e contra a humanidade. Seu governo matou pessoas inocentes a sangue frio, utilizou de violência policial desproporcional,e cometeu graves violações de direitos humanos. Mas sempre que olharmos para um documentário de natureza política, devemos questionar a forma como os fatos são apresentados, ou existe alguma base popular que tenha dado suporte - no caso ucraniano, os "glassroots" do presidente fujão estavam bem longe, em Luhansk e Donetsk, o que fez passar o sentimento de "unanimidade" para o povo de Kiev. No mais, o documentário é ótimo, bem-feito, comovente e nos passa, infelizmente, um sentimento de ameaça à democracia e à paz do mundo.

A escuridão do desentendimento está tomando conta da humanidade, tal como em 1914, infelizmente.E mais uma vez, isso acontece graças aos interesses escusos dos grandes empresários.

Nota atribuída ao documentário na Escala Mello-Oliveira: 8,5

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Artigo de Celso Amorim na Folha de São Paulo sobre Serra



Leia trechos do artigo do diplomata Celso Amorim na Folha:

"Em suas primeiras ações, o novo chanceler disse a que veio: com palavras incomumente duras, que fazem lembrar os comunicados do tempo da ditadura, como a acusação de que governos de países da nossa região estariam empenhados em "propagar falsidades", as notas divulgadas (aliás, estranhamente atribuídas ao Ministério das Relações Exteriores e não ao governo brasileiro, como de praxe, com o intuito provável de enfatizar a autoria) atacam governos de países amigos do Brasil, ameaçam veladamente o corte da cooperação técnica a uma pequena nação pobre da América Central e acusam o secretário-geral da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), um ex-presidente colombiano, eleito pela unanimidade dos membros que constituem a organização, de extrapolar suas funções.

Um misto de prepotência e de arrogância pode ser lido nas entrelinhas, como se o Brasil fosse diferente e melhor do que nossos irmãos latino-americanos.

Talvez, por prudência (ou temor do sócio maior dessa entidade), as notas evitaram palavras equivalentes sobre a OEA (Organização dos Estados Americanos), a despeito das expressões críticas do seu secretário-geral e da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Até o momento, eximiu-se de manifestar-se sobre as preocupações expressadas pela pequena, mas altiva Costa Rica, insuspeita de bolivarianismo.

Mas o que mais preocupa é o afã em diferenciar-se de governos anteriores, acusados de ação partidária, como se esta só existisse na esquerda do espectro político. Quando o partido é de direita, e as opções seguem a cartilha do neoliberalismo, não haveria partidarismo. Tratar-se-ia de políticas de Estado.

Há muito que "especialistas", cujos discursos são ecoados pela grande mídia, acusam de "partidária" a política externa dos governos Lula e Dilma, esquecendo-se que muitas de suas iniciativas foram objeto de respeito e admiração pelo mundo afora, como a própria Unasul —aparentemente desprezada pelos ocupantes atuais do poder— os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul; sem os quais não teria havido a primeira reforma real, ainda que modesta, do sistema de cotas do FMI e do Banco Mundial) e o G-20 da OMC (Organização Mundial do Comércio), que mudou de forma definitiva o padrão das negociações em nível global.

Ao mesmo tempo, busca-se derreter o Mercosul, retirando-lhe seu "coração", a União Aduaneira (para tomar emprestado uma metáfora do presidente Tabaré Vasquez).

Em matéria comercial, o afã em aderir a mega-acordos regionais do tipo do TPP (a Parceria Transpacífico ) denota total ignorância das cláusulas, que cerceiam possibilidades de políticas soberanas (no campo industrial, ambiental e de saúde, entre outros).

Chega a ser espantoso que alguém que se bateu, com coragem e firmeza, pelo direito de usar licenças compulsórias para garantir a produção de genéricos, não esteja informado da existência de cláusulas, intituladas enganosamente de Trips plus (na verdade, do nosso ponto de vista, seriam Trips minus), que, de forma mais ou menos disfarçada, reduzem a latitude para o uso de tais medidas, no momento em que comissões de alto nível criadas pelo secretário-geral da ONU alertam para o risco de debilitar a Declaração de Doha sobre Propriedade Intelectual e Saúde, consagrada pelos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, aprovada pelos chefes de Estado na 20ª Assembleia Geral da ONU.

A África, de onde provém metade da população brasileira e onde os negócios do Brasil cresceram exponencialmente —sem falar na importância estratégica do continente africano para a segurança do Atlântico Sul- ficará em segundo plano, sob a ótica de um pragmatismo imediatista. Sobre os Brics, o Ibas (Índia, Brasil e África do Sul), as relações com os árabes, uma menção en passant. Esqueça-se a multipolaridade, viva a hegemonia unipolar do pós-Guerra Fria. Nada de atitudes independentes.

A Declaração de Teerã, por meio da qual o Brasil, com a Turquia (e a pedido reiterado do presidente Barack Obama, diga-se de passagem) mostrou que uma solução negociada era possível, completou seis anos, no dia 17 de maio. Na época, foi exaltada por especialistas das mais variadas partes do mundo, inclusive nos Estados Unidos. Porém causou horror aos defensores do bom-mocismo medíocre em nosso país.

Mas as elites não terão mais nada a temer. Nenhuma atitude desassombrada desse tipo voltará a ser tomada. O Brasil voltará ao cantinho pequeno de onde nunca deveria ter saído.

sábado, 21 de maio de 2016

Políticas de um governo ilegítimo #5


O governador interino resolveu recriar o Ministério da Cultura, após várias manifestações no país todo. A meia-volta foi grandemente influenciada pela indignação dos artistas em geral, o que poderia funcionar como um catalisador da insatisfação popular do governo ilegítimo; no entanto, apesar de as manifestações dos artistas terem tido maior peso, as populares ganham confiança e pode trazer mais dores de cabeça ao mandatário de facto. Michel Temer parece ser muito fã da Metamorfose Ambulante de Raul Seixas - adora desdizer aquilo que ele disse antes. O novo ministro de facto será Marcelo Calero, que ocuparia o Puxadinho da Cultura no MEC, após várias negações por parte de artistas mulheres. Os prédios seguem ocupados.


Caetano Veloso cantou ao lado de Erasmo Carlos contra o golpe e contra o fechamento do Ministério da Cultura no Palácio da Capanema. Não discursou, porém, evocou os fantasmas da ditadura com as músicas escolhidas para a manifestação. Em Odeio, a plateia adaptou a letra para colocar o nome de Temer antes do refrão. Essa letra já havia sido adaptada quando de um show conjunto com Gilberto Gil, mas o alvo era Eduardo Cunha. Quando cantou Tieta, a galera gritou"Eta, Eta, Eta, Eta, Eduardo Cunha quer controlar minha buceta".
[Odeio Temer]
[Eta Eduardo Cunha]

Caetano já havia participado de shows que acabaram sendo contagiados pelo clima político. No último dia 18, o cantor tocou junto com Elza Soares, no mesmo dia da grande manifestação pró-democracia. Muitos cantaram junto com Elza "não vai ter golpe" - a baiana pediu para os fãs lutarem pela democracia; o baiano, em silêncio, sorriu.

Tom Morello, guitarrista do Rage Against the Machine, saudou o MST no dia 20 durante a cerimônia do prêmio Chaplin, destacando o movimento como inspiração de luta e de poder popular. O músico criticou o golpe de estado nas mídias sociais e depois cantou com artistas americanos e do MST, que você pode ver no vídeo abaixo:
[video tom morello + MST]

A TV Brasil desistiu de cobrir o show de Mano Brown no dia de hoje (21), talvez por medo de manifestações políticas contra o Sem-Pescoço. Durante um show do Carlinhos Brown, houve gritos de "fora Temer" captados pela estatal, que agora está no comando de Laerte Rimoli, depois de o interino ter exonerado ilegalmente o ex-presidente Ricardo Melo.

Na Virada Cultural de São Paulo, o show de Ney Matogrosso foi marcado por coros de protesto contra Michel Temer.

Enquanto isso, acontece o Grito da Liberdade, reunindo artistas, intelectuais e lideranças sociais, que tem como intuito criar consensos sobre a oposição ao governo interino. Em um ato emblemático, o escritor Fernando Morais rasgou sua ficha de filiação ao PMDB em público. O jornalista Audálio Dantas também se desfiliou.

Maradona vestiu a camiseta da seleção com o nome Lula e o número 18, fazendo referência às próximas eleições presidenciais. As fotos foram postadas nas mídias sociais com a legenda "Um soldado de Lula e Dilma".

The Economist lançou um editorial falando sobre a crise no Partido dos Trabalhadores. Fazendo uma análise realista de direita, criticou o governo Temer, afirmando: "In naming a cabinet composed purely of white men, he is taking Brazil back to the early 1980". O jornal fez um balanço sobre a contradição enfrentada pelo PT e ainda afirmou que a crise política pode trazer o partido de volta à tona.

No dia 15, o Decorativo mandou avisar que iria aumentar o PIS e o Cofins. Com a medida, as mensalidades em faculdades e universidades privadas podem aumentar em até 6,5%, podendo diminuir em 13% a demanda pelo ensino superior pago, conforme estudo de impacto pelo IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação)

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quinta-feira, 19 de maio de 2016

Políticas do governo ilegítimo #4

Os deputados Júlio Lopes (PP), Carlos Sampaio (PSDB), Pauderney Avelino (DEM), Rubens Bueno (PPS), Antônio Imbassahy (PSDB e Paulo Pereira da Silva (SD) entraram (18/04) com processo no Supremo Tribunal Federal para que a presidente legítima afastada Dilma Rousseff preste esclarecimentos sobre o porquê chama o golpe de golpe. De acordo com eles, "é de gravidade ímpar, sobretudo, ao se levar em consideração a recente história nacional e as possibilidades  de ruptura que declarações desse tipo podem trazer à sociedade brasileira". Faltou explicar aos nobres deputados que a ruptura já aconteceu. Vamos economizar demagogia, ok?
Continuando a narrativa, os deputados exigem que a Presidenta enumere quais atos compõem o golpe denunciado por ela, quem são os responsáveis e as instituições que atentam contra o seu mandato, e que providências Dilma Rousseff vai tomar, na condição de Chefe de Governo e de Estado, para resguardar a República. De acordo com o despacho de Rosa Weber (PSDB), Dilma Rousseff tem 10 dias para se pronunciar sobre a notificação. É a primeira tentativa de censura pública depois do golpe.

O garçom José Catalão, que servia o terceiro andar do planalto, foi demitido. A única explicação para a demissão é por ele "ser simpático ao PT". O ex-presidente Lula ligou ao demitido e prestou-lhe solidariedade. Não se sabe ao certo se tem muito a ver, mas o garçom é negro e o gabinete do Temer é branco.

Enquanto isso, Beto Richa tentava reintegrar a posse de terras de sem-terras assentados. A fazenda pertencia a citado na Operação Lava Jato: Licínio de Oliveira Machado Filho, presidente da Etesco, e a Sérgio Luiz Cabral de Oliveira Machado, ex-presidente da Transpetro. Foi dado dois dias para que os camponeses retirassem seus pertences da fazenda, mas a opressão começou no dia 18 mesmo.

André Moura (PSC, partido dos defensores dos torturadores) foi escolhido líder do governo do Decorativo, causando espanto até em "The Guardian". O nobre deputado é suspeito de assassinato, réu em três ações penais no STF -- desvio de dinheiro púlico -- e investigado em pelo menos outros três inquéritos, entre eles tentativa de homicídio e na Operação Lava Jato. O cidadão já foi condenado em Sergipe por improbidade administrativa por crimes de apropriação/desvio/utilização de bens públicos. Esses jornais que se beneficiam da lei Rouanet...

Os Estados Unidos vestiram o quepe do golpe perante a Organização dos Estados Americanos. De acordo com o embaixador americano, Michael Fitzpatrick, "há um claro respeito pelas instituições democráticas, uma clara separação de poderes, vigora o Estado de Direito e há uma solução pacífica das disputas. Nada disso se parece com o caso da Venezuela e essa é nossa preocupação". Mais uma vez, a diplomacia imperialista se soma aos interesses privados de grupos brasileiros (coloniais) e americanos (metropolitanos).

O Decorativo pediu prioridade para votar a nova meta fiscal, pois , caso não fosse votado, quem cometeria pedalas das fiscais seria ele. Pausa para risos. Como se ele nunca tivesse cometido nenhuma... Todo mundo sabe que o Amigo do Cramunhão pedalou muito mais que Dilma... Agora, tenta vender à população que a situação fiscal do país é pior do que se imaginava; meu sensor de chuva diz que aumentos nos impostos - dos mais pobres - virão por aí. O governo maldito também espera a aprovação da PEC de Desvinculação de Receitas da União, que aumenta de 20 para 30% a desvinculação de receitas. Significa mais subsídios aos empresários e mais sucateamento de serviços para a classe média. Esse governo não acerta uma...

A Operação Lava Jato do Moro condenou José Dirceu a uma pena de 23 anos. Com relação ao pessoal do lado Temer da força, ainda não há previsões de prisão.


quarta-feira, 18 de maio de 2016

Políticas do governo ilegítimo #3

Relações Exteriores. José Serra pediu estudo de caso para poder fechar embaixadas no exterior, nos países da África e do Caribe, demonstrando que, de fato, o plano PSDB é o de vender o Brasil para os interesses americanos. Abandona-se assim o protagonismo experimentado pelo governo Lula no exterior e o Brasil volta a ser a colônia dos atlânticos de sempre. A medida também afetará os países, pois, por reciprocidade, estes terão que fechar as embaixadas aqui no país.  As relações comerciais serão afetadas e haverá custos com o rompimento de contratos, desmontagem de estruturas e devolução de imóveis. E a credibilidade internacional brasileira perante esses países, que têm se mostrado um lugar de grandes possibilidades para o nosso capital, ficará afetada. Ainda sobre as relações internacionais, lembremos que o único líder mundial que telefonou pro Temer foi um fake: um radialista se passando pelo presidente da Argentina. O Decorativo deve estar chateadíssimo.

Mesmo estando CARECA de saber a quais autoridades se destina, o Chanceler do Golpe aprovou passaporte diplomático para o pastor Samuel Castro Ferreira, da Assembleia de Deus. Para refrescar a memória, a Assembleia é a mesma igreja que foi utilizada por Eduardo Cunha para receber propina, de acordo com denúncia do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot. Samuel é o responsável pela igreja perante a Receita Federal.


A Prof.ª Flávia Piovesan, da PUC, aceitou o cargo de Secretária dos Direitos Humanos da República das Bananas. O Centro Acadêmico 22 de Agosto repudiou a conduta da docente. Trata-se da primeira mulher a aceitar um cargo de segundo escalão no governo golpista.

Bruna Lombardi rejeitou o convite de Marta Vasconcellos (PMDB) para ocupar o Puxadinho Nacional da Cultura. A atriz deu uma resposta muito educada, afirmando que não tinha pretensões políticas e estava totalmente envolvida com seus projetos profissionais. O medo agora é que a pasta vá parar na mão da própria Marta...


Teve até coralzinho cantando uma versão moderna de Händel, na ocupação dos prédios do Ministério de Cultura. A letra combinou...

O Senador Zezé Perrella, dono do helicoca, falou em entrevista para a BBC no dia 14 que Dilma foi afastada não pelas pedaladas fiscais, mas pelas "vozes das ruas". E ainda ameaçou Temer: se ele não cuidar bem do Senado, ela volta.

O Desenvolvimento Social e Agrário revogou 35 mil moradias do Minha Casa Minha Vida, apesar de o Decorativo ter prometido não mexer nas medidas sociais. Foram duas portarias revogadas, a 178 e a 180.

O "MEC" suspendeu contratos do FIES, ProUni e Pronatec em nove universidades por supostas ilegalidades. O movimento é um teste para ver como a opinião pública absorve as revogações.



Noam Chomsky fala sobre o impeachment

Assista.