domingo, 9 de maio de 2021

Colômbia Sublevada

Há mais de uma semana, o povo da Colômbia saiu às ruas após o presidente Ivan Duque, do partido de extrema-direita "Centro Democrático", divulgar que iria aumentar os impostos sobre as classes mais pobres para amenizar a crise econômica oriunda da pandemia do novo coronavírus sobre os grupos mais ricos.


Diante do ataque direto à classe trabalhadora colombiana, os trabalhadores decretaram, no dia 28 de abril, uma greve geral com ampla aderência de diversos setores. Os camponeses de Catatumbo fizeram bloqueios e o povo tomou as ruas de Medellín, Cali e Bogotá. Em resposta à manifestação popular, a polícia de Ivan Duque abriu fogo contra os populares, assassinando 27 pessoas. 359 colombianos seguem desaparecidos.


O presidente colombiano afirmou que iria voltar atrás na reforma tributária e refazer para atingir os mais ricos; o Ministro da Fazenda renunciou. O povo, no entanto, continuou nas ruas pedindo o fim da repressão policial e as garantias democráticas, desestabilizando o governo, cujo mandato terminará no ano que vem. Além disso, o descontentamento social só aumenta com o crescimento da pobreza, que agora atinge 43% da população. Meio milhão de firmas foram fechadas ao longo da pandemia.


A Comunidade Internacional tem registrado protestos à violência de Estado na Colômbia, especialmente os Estados Unidos e o bloco europeu. A oposição colombiana tem ganhado terreno Com o derretimento do apoio a Duque. Gustavo Perto, ex-FARC, é o atual presidenciável favorito, mas o governo não o reconhece como um interlocutor para desarmar a crise. A estratégia do atual mandatário é a do desgaste, vencer os manifestantes pelo cansaço e pela articulação; pode ser que seja bem sucedido, como aconteceu no Brasil de 2013, mas pode ser também que a Colômbia experimente um processo de desagregação política tal como aconteceu nos países da Primavera Árabe.


De qualquer forma, para o atual rearranjo geopolítico de forças, uma crise social dessa magnitude na principal aliada sul-americana é péssima aos americanos.


#colômbia #políticainternacional #diplomatasdesealand #FuerzaColombia

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

O FEUDALISMO





Apesar do senso comum, nem sempre o mundo foi capitalista. Na verdade, esse modo de produção tem aproximadamente 250 anos apenas.Um dos sistemas que vigorou anteriormente, foi o feudalismo, um sistema social-econômico que se tornou dominante na Europa entre o século XI e XIII. 

A economia feudal tinha por base uma produção agrária, praticamente autossuficiente. O proprietários de terra eram os senhores feudais, o alto clero e os chefes tribais - a elite da sociedade da época. Ou seja, quando vemos alguma representação gráfica daqueles príncipes todo empavonados, estamos, na verdade, diante de um fazendeiro que gosta de rezar bastante.

A unidade econômica de produção, era o feudo, que se dividia em três partes: as terras arrendadas aos camponeses (manso servil), as terras do nobre, que continha o castelo fortificado (manso senhorial) e as terras coletivas (manso comunal), nas quais os animais e homens podiam circular livremente - pastos e florestas.


A aristocracia era financiada pelo imposto, que muitas vezes era pago em alimentos ou trabalho, e a igreja pelo dízimo. O feudalismo declina com as Cruzadas, que reanimam a rota de comércio do Mediterrâneo, o que logo traz pestes, êxodo rural, fome, distúrbios e repressão. Logo, os inúmeros feudos europeus vão começar a guerrear entre si e a Europa vai sofrer uma enorme transformação social. #historiamundial #diplomatasdesealand

O ANTIGO REGIME

 

Conforme o comércio foi crescendo durante a Baixa Idade Média, os burgueses foram se aproximando dos reis em busca de uma centralização burocrática que facilitasse os negócios. O rei, antes uma figura quase decorativa, agora garantia a unicidade da moeda, a simplificação tributária e a padronização dos pesos e medidas. Os nobres enfraquecidos pela escassez de mão de obra no campo, empobrecimento e aumento da violência se viram obrigados a procurar o monarca para garantir a segurança de seu feudo, que então contava com um exército profissional, quando nao entravam em um conflito direto com esse - e perdiam - resultando num regime político chamado Absolutismo.
Para garantir todo esse crescimento, logo os grandes reinados se viram à procura de ouro e matérias-primas no mundo exoeuropeu, primeiro nos principados da Índia e da China. Logo os Otomanos buscaram confrontar o Império Habsburgo na Europa Central e começou a controlar boa parte das rotas de comércio entre Oriente e Ocidente; isso gerou uma pressão por aventuras para fora da Europa e por rotas alternativas de comércio: começam as grandes navegações e os primeiros impérios coloniais, principalmente Portugal e Espanha.
A América foi invadida, conquistada, saqueada e dominada pelos impérios europeus; na África, inúmeros entrepostos e feitorias foram fundados pelos lusitanos, enquanto a reorganização de poder no continente eurasiano descambava para intermináveis guerras sangrentas. Em pouco tempo, essa onda de globalização resultaria em mais fome e revoluções que mudariam o mundo inteiro.

A REFORMA PROTESTANTE



O movimento cristão protestante teve seu início na França, ao longo do século XIII. O início dos questionamentos à autoridade católica começou quando Pedro Valdo encomendou a tradução da Bíblia para o francês e passou a fazer pregações por conta própria, sem o sacerdócio.

Valdo era rico, de origem burguesa, e sua fortuna veio do comércio de roupas em Lyon; porém, quando da sua epifania cristã, o comerciante francês distribuiu sua riqueza, mantendo somente o suficiente para a subsistência de sua família. Amparava sua teologia a partir do Evangelho, onde se lê: "Ninguém poderá servir a dois senhores: Deus e o dinheiro" (Mt 6:24). Tentou fundar uma ordem na Igreja Católica, mas foi rechaçado, de forma que continuou a pregar por conta própria. Assim, viria a ser excomungado anos mais tarde, o que não o impediu de dar prosseguimento a sua interpretação da Bíblia. Uma ordem não católica se formou, os valdenses, que seriam perseguidos pela Igreja por três séculos.

Vários acontecimentos importantes mudaram a sorte dos valdenses e da Igreja Católica: o cativeiro do papa em Avignon, no reinado francês e o Grande Cisma do Oriente. O debate da fé atingiu as classes mais baixas. Passou-se a questionar a opulência da Igreja e seus dogmas e a demandar um retorno ao cristianismo primitivo, no qual a igreja era pobre e mais próxima de seus seguidores.

 

O marco inicial da reforma aconteceu quando Martinho Lutero afixou nos portões de Wittenberg as suas 95 teses, que são o apanhado geral de todos os questionamentos que haviam sido feitos pelos protestantes desde Valdo. Interessante, porém, é notar a mais polêmica: a doutrina do sola fides, na qual o homem poderia ser salvo somente por acreditar em Deus, independente de realizar obras boas na Terra.

Mas, afora todo o debate da fé, algo mais essencial estava ligado ao surgimento da reforma cristã: o mundo estava mudando desde as Cruzadas. O comércio havia ressurgido e a prática da usura (acumulação de riqueza) era condenada pela Igreja, apesar de ela própria, como instituição, poder praticá-la. A burguesia se incomodava das críticas ideológicas que limitavam seus vultuosos lucros e demandavam uma nova religião - uma na qual não seria pecado enriquecer além da necessidade humana. Por outro lado, a aristocracia tinha suas razões econômicas para apoiar o movimento: queria se livrar dos pesados tributos devidos ao clero e se apossar de suas terras; alguns nobres, inclusive, dependiam dessa surrupiação, ameaçados que estavam de serem extirpados com o Renascimento Comercial e a centralização absolutista.

Por essa razão, principalmente no Império Romano Germânico (atual Alemanha) a nobreza iria se apropriar das 95 teses de Lutero para apoiar e organizar os anticatólicos.

Lutero destratava dos pobres; condenava as rebeliões camponesas e apoiava a aristocracia. Sobre os famintos que se insurgiram contra os nobres, Lutero escreveu: "Contra as hordas de camponeses (...), quem puder que bata, mate ou fira, secreta ou abertamente, relembrando que não há nada mais peçonhento, prejudicial e demoníaco que um rebelde". Super cristão, não?

Mais do que uma reforma de fé, a Reforma Protestante se tornou o alicerce da ideologia burguesa: uma visão de mundo que não se importava mais com o amor ao próximo, com a justiça social, uma visão com forte teor antipopular. Ironicamente, o movimento que se iniciou com Pedro Valdo, que pregava a pobreza e a caridade, iria evoluir mais tarde para o calvinismo, fundada sobre a doutrina da prosperidade, a pedra angular da ideologia burguesa e do capitalismo moderno

A Paz de Vestfália




A Reforma Protestante influenciou burgueses e aristocratas a se sublevarem contra nobres católicos e o clero, tomando-lhes as terras. Logo, um intenso conflito se deu dentro do Sacro Império Romano Germânico, que, na época, era dividida em 224 países, constituída desde grandes reinados, até cidades livres e abadias.

A Paz de Augsburgo viria a promover um cessar-fogo temporário, mas, conforme o calvinismo se espalhava pela Alemanha, logo as hostilidades voltaram à reacender a chama da guerra, principalmente pelo fato de os termos de paz serem acertados somente entre luteranos e católicos, deixando os calvinistas de fora. As grandes potências da época estavam interessadas no que acontecia no interior do Império Germânico, por inúmeros motivos: a França (católica e anti-Habsburgo) via-se cercada pelo Reino Habsburgo; a Espanha tinha (católica) colônias limítrofes com estados alemães e a Suécia (luterana) e a Dinamarca-Noruega (luterana) estavam de olho nos territórios do norte. Desenrolou-se então uma das guerras mais sangrentas da história da humanidade até então: a Guerra dos Trinta Anos. Além disso, nos Países Baixos, revoltosos holandeses iniciaram sua longa campanha de independência contra os espanhóis (Guerra dos Oitenta Anos), também opondo luteranos e católicos. A Paz de Vestfália, um conjunto de tratados assinados em Münster, Osnabrück e Pirineus, encerrou os conflitos e lançou as bases do moderno sistema internacional. A partir dele, princípios importantes até hoje para o direito internacional foram lançados: 1. Soberania estatal - cada príncipe só é soberano em seu próprio território e o direito interno e internacional devem ser separados. 2. Estado-nação - Estado é um governo, sobre um povo, em um território delimitado. 3. Equilíbrio de poder - só se pode haver uma paz duradoura se os Estados de um sistema não forem, em sua soma, menos poderosos que um estado específico. 4. Não intervenção - um Estado não poderia interferir nos assuntos internos de outro Estado. Surge da negociação desses tratados as bases da diplomacia moderna! #historiamundial #cacd #diplomacia #diplomatasdesealand #alemanha

A REVOLUÇÃO INGLESA


Até o reinado de Carlos I, a Inglaterra se regia pelo sistema monárquico absolutista, no qual o rei era considerado infalível e sua conduta inquestionável. O Parlamento era um órgão temporário, que só era convocado para opinar sobre impostos e guerras e o rei sequer era obrigado a seguir suas deliberações.

Um clima de conflito político se iniciou com o casamento de Carlos com Henrietta Maria, de origem puritana e viria a se agravar com a participação inglesa na Guerra dos 30 Anos. Carlos I enviou o duque de Buckingham para comandar a participação britânica, que sofreu uma derrota fragorosa na França. O Parlamento pediu então a sua demissão, irritando o monarca, o qual dissolveu o Parlamento.

Um novo legislativo foi formado dois anos depois, 1628, e Oliver Cromwell foi eleito parlamentar. O novo Parlamento aprovou o fim das detenções arbitrárias e da lei marcial em tempos de paz, além de estender seu poder para opinar sobre todos os impostos. Mesmo assim, Carlos I buscou estender o imposto "ship money", até então alfandegário, para todo o país, sem a anuência do Parlamento, além de mandar prender Sir John Eliot, autor da petição, e outros oitos parlamentares, por evasão fiscal.

Por 11 anos, Carlos I viria a governar sem Parlamento e o fez de maneira desastrosa. Um brutal conflito entre ingleses e escoceses, de origem religiosa, veio à tona, e Carlos I inclusive mandou torturar e cortar orelhas de nobres ingleses que criticavam a sua reforma religiosa. A Inglaterra perdeu a guerra e aceitou, de maneira humilhante, pagar reparações à Escócia.

Sem dinheiro, Carlos I resolveu convocar outro Parlamento, com a finalidade de conseguir receitas para acabar com a rebelião no norte. O Parlamento se recusou a aprovar os impostos e foi dissolvido. Mais uma vez o rei atacou a Escócia e foi repelido.

Outro Parlamento foi convocado e uma petição foi aprovada prevendo periodicidade convocatória para a assembleia. Carlos I teve a brilhante ideia de tentar usar um exército católico irlandês para atacar os escoceses, mas o Parlamento ficou bravo às tampas e prendeu o dono do exército na Torre de Londres, o Lorde Strattford; um dos parlamentares mandou executá-lo.

Os católicos ingleses reagiram violentamente, temendo uma restauração protestante. A tentativa de Carlos I em prender 5 parlamentares por traição falhou. Carlos fugiu de Londres e agrupou seu exército em Nottingham, enquanto o Parlamento reuniu tropas leais aos nobres.
A Inglaterra se viu conflagrada numa guerra civil que revelaria Cromwell como uma grande liderança militar. Carlos fugiu para a Escócia (!), onde foi raptado e preso, fugindo e sendo recapturado duas vezes.

Os militares, insatisfeitos com a falta de pagamento, passaram a apoiar Carlos I, e marcharam para Londres. Secretamente, o rei negociou um acordo de paz com os escoceses que incluía uma reforma religiosa e outra guerra civil estourou em menos de dez anos.

O lado monarquista capturou e baniu 2/3 do Parlamento e o outro 1/3 organizou um tribunal que condenaria Carlos I à pena capital. Interessante notar que a maioria dos juízes que concordaram com essa pena seria executada após a restauração monárquica.

Entre 1649 e 1653, a Inglaterra se tornaria o primeiro país europeu a governar de maneira republicana, repetindo a façanha entre 1669 e 1670. Durante o interregno desses dois períodos, Cromwell inauguraria uma forma de governo muito comum em países que lutam por governos mais democráticos: a ditadura militar.

As guerras civis dizimaram 15% da população da Inglaterra e, após a restauração, o corpo decomposto de Cromwell foi exumado e executado em praça pública.

Após o desfecho da crise política, o absolutismo caiu e emergiu um novo sistema de governo: a monarquia parlamentar, na qual o Chefe de Estado é o rei, mas quem governa é o Primeiro-Ministro.

Os acontecimentos na Inglaterra prenunciavam o que iria a acontecer na França cem anos depois, na revolução que mudaria, como nunca antes, a história da humanidade.
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AS FRONTEIRAS DO BARÃO



AS FRONTEIRAS DO BARÃO

O Barão do Branco empreendeu diversas negociações com outros países cujas fronteiras com o Brasil necessitavam de soluções. Os tratados que assinou com a Venezuela, Colômbia, Equador, Bolívia, Peru, Uruguai, Argentina e Guiana Holandesa definiram os contornos finais do território brasileiro.

QUESTÃO DO ACRE

Em 1902, o Barão do Rio Branco foi convidado pelo presidente Rodrigues Alves para assumir a pasta de Relações Exteriores. Logo no início, se defronta com a Questão do Acre, que foi resolvida por Rio Branco por meio do Tratado de Petrópolis, de 17 de novembro de 1903, por meio do qual o governo brasileiro comprou o território acreano da Bolívia sem precisar entrar em guerra com o País. Para homenageá-lo, foi dado o seu nome à capital do estado. O Barão permaneceu na função de chanceler durante o mandato de quatro presidentes: Rodrigues Alves, Afonso Pena, Nilo Peçanha e Hermes da Fonseca.

A QUESTÃO DO PAN-AMERICANISMO

O mais instigante na figura do Rio Branco foi a sua percepção da transformação geopolítica no início do século XX, época da intensificação das rivalidades entre as grandes potências europeias. O Império Inglês, que Rio Branco acompanhou de perto, estava gastando bastante tempo e dinheiro em guerras locais que ocorriam em suas colônias na Ásia e na África. Além disso, não demoraria muito para estourar a Primeira Guerra Mundial.

Antevendo a catástrofe europeia, Rio Branco promoveu uma intensa aproximação com os Estados Unidos, que nessa mesma época apresentavam-se sob a liderança do presidente Theodore Roosevelt, como uma grande potência alternativa àquelas da Europa. Além disso, Roosevelt era simpático do pan-americanismo da Doutrina Monroe, que previa um bloco geopolítico integrado no continente americano.

A melhor "ferramenta" utilizada por Rio Branco nesse deslocamento diplomático da Europa para os Estados Unidos foi [nomear] Joaquim Nabuco. Assim como Rio Branco, Nabuco era um aristocrata e diplomata do Império que, com o colapso deste, continuou prestando os seus serviços para a República. Quando o Barão foi nomeado Ministro das Relações Exteriores, Nabuco, que era partidário do pan-americanismo, foi feito embaixador do Brasil em Washington, capital dos EUA.

Por Ariane Bertoli Muscari