terça-feira, 29 de março de 2016

Evolução Geopolítica da Primeira Guerra Mundial

Este artigo é o primeiro de uma série de quatro sobre Geopolítica, os quais terão os seguintes temas:

1) Primeira Guerra Mundial
2) Segunda Guerra Mundial
3) Guerra Fria
4) Conflitos de interesse final do século XX e início do século XXI

Para tratarmos da Primeira Guerra Mundial, devemos primeiramente nos remeter ao Congresso de Viena, que colocou fim nas guerras napoleônicas. Napoleão empregou uma tática muito parecida ao Plano Schlieffen, utilizado pela Alemanha nas duas Guerras Mundiais. A tática consistia em controlar o continente europeu para ter espaço vital para competir contra a Inglaterra.

A bem da verdade, o "Plano Schlieffen" não chegou a ser sistematizado por Napoleão Bonaparte, uma vez que a Geopolítica em si tampouco existia. Porém, o aparente anacronismo desaparece quando temos em mente que o que está por trás do plano de dominação mundial francês e alemão é algo que pode ser induzido com grande intuição, especialmente para os países europeus nessas épocas. Tratava-se, em última instância, de tentar reconstruir um Novo Império Romano.

Fig. 1: Expansão Napoleônica

Assim como na época de Wilhelm II e Hitler, o exército europeu é vencido pelo inverno e pela resiliência russa.

O Congresso de Viena foi o fórum de negociação do pós-guerra onde as grandes potências decidiram como seria a nova ordem mundial emergente depois da queda de Napoleão. As grandes potências que mandariam no mundo daí por diante foram:

o Império Britânico (a potência hegemônica da época)


o Império Francês (potência derrotada que foi reintegrada ao consórcio mundial em 1823)



o Império da Prússia (que posteriormente viria a ser o Império Alemão)


o Império Czarista da Rússia

e o Império Habsburgo (os descendentes do Império Sacro-Germânico, também conhecidos como Império Austro-Húngaro)


Como podemos perceber, juntando os mapas de todos os impérios, não havia muito mais o que ser conquistado no mundo, perto de 1914. A maior fonte de conflitos ficava justamente na junção entre os impérios austríaco, alemão e russo, qual seja, o Império Otomano, o qual era subserviente aos impérios britânico e francês, por ser entreposto comercial e ponto estratégico para o Oriente. O Império Otomano desmantelou após a Primeira Guerra e o que foi o seu território é, ainda hoje, fonte dos maiores conflitos geopolíticos mundiais -- vide Síria, ex-Iugoslávia, Iraque, Irã, etc...


O primeiro conflito sério por causa de "cerca colonial" aconteceu na Guerra da Criméia, a qual opôs a Rússia contra otomanos+britânicos+franceses+Reino da Sardenha (que depois comporia a Itália). Moscou sempre considerou a Crimeia como parte de seu espaço vital (até hoje é assim, como podemos ver na anexação silenciosa promovida por Vladimir Putin em 2014). Os russos expandir o controle para o Mar Negro e assim expandir sua marinha e talvez conquistar os estreitos de Bósforo e Dardanellos (eu sei que parece nome de personagem de Alice no País das Maravilhas, mas os trem se chamam isso mesmo). Perdeu feio. Após isso, as tensões entre as grandes potências viriam sempre de suas colônias, quer sejam formais, quer sejam informais.

Otto von Bismarck unificou a Alemanha e projetou-a mundialmente por meio de seu sistema de alianças e da Realpolitik. Em meio às críticas do novo imperador, Wilhelm II, deixou a chancelaria em 1890 e o paradigma de relações internacionais foi trocado pela Weltpolitik, que consistia em uma corrida colonial sem interesses pragmáticos. O erro do novo imperador era fazer-se valer de uma diplomacia de prestígio irracional, da mesma forma como o francês Napoleão III havia feito.

A Weltpolitk levava em consideração basicamente a ideia geopolítica de Friedrich Ratzel (Lebesraum - espaço vital), na qual quem conseguisse conquistar a Ilha-Mundo (i.e. Europa, ex-império Romano), governaria o mundo. A estratégia-primeira então era dividir para conquistar e a primeira vítima da nova política internacional alemã seria a França. Para testar a aliança franco-britânica e na tentativa de fomentar atrito entre as duas potências, valendo-se da estatuinte marroquina após sua independência informal, Berlim lutou para que o país fizesse uma declaração formal de independência e queria fazer com que seus interesses comerciais fossem assegurados. Logrou sucesso na primeira questão, mas foi uma vitória de Pirro, uma vez que a Grã-Bretanha ficou do lado francês, fazendo os "germanos" voltarem diplomaticamente humilhados para a casa. O Marrocos, como se pode ver, é um país bem estratégico entre a África e a Península Ibérica:

 


Jean-Jacques Rousseau -- J'ai Perdu Tout mon Bonheur

 Jean- Jacques Rousseau é mais conhecido por sua filosofia e sua influência sobre o Direito Internacional do que por suas músicas. Até porque, ele não era exatamente um compositor palaciano, profissão muito comum em sua época. Certa vez, o filósofo disse que os "franceses não podem ter música", devido aos fonemas pouco agradáveis da língua francesa e a cadência sempre tendente a gerar palavras oxítonas. Contrariando a si mesmo, compôs uma ópera cômica trés charmant com o nome Le Devin du Village.

O libretto, também composto por si próprio, fala do romance entre Colin e Colette, que é uma forma de "casamento dos pequenos burgueses" do Chico Buarque, na versão renascentista, onde um suspeita que o outro está o traindo. No final, os dois vão atrás de um adivinho e colocam suas suspeitas de lado, casando e se enganando vivendo felizes para sempre. 

A ária que coloco nesta postagem trata-se da desconfiança de Colette sobre seu amado Colin; em sua visão, ele está se engraçando com uma pastora.

J’ai perdu tout mon bonheur

Colette soupirant et s’essuyant les yeux de son tablier.
(Colette, sighing and drying her eyes with her apron.)
 
I.
  • J’ai perdu tout mon bonheur;  (Eu perdi toda a minha felicidade) 
  • J’ai perdu mon serviteur;  (Eu perdi todos os meus servos)
  • Colin me délaisse ! (Colin se afastou de mim!)
  • Colin me délaisse !
  • J’ai perdu mon serviteur
  • J’ai perdu tout mon bonheur; 
  • Colin me délaisse !
  • Colin me délaisse !
2.
  • Hélas il a pu changer ! (Enfim, ele pode mudar!)
  • Je voudrais n’y plus songer : (Eu gostaria de poder não pensar mais sobre isso)
  • Hélas, hélas (Alas)
  • Hélas,
  • Hélas, il a pu changer !
  • Je voudrais n’y plus songer: 
  • Hélas, Hélas
  • J’y songe sans cesse ! (Eu estou sempre pensando sobre isso)
  • J’y songe sans cesse !
3.
  • J’ai perdu mon serviteur;
  • J’ai perdu tout mon bonheur;
  • Colin me délaisse !
  • Colin me délaisse !
  • J’ai perdu mon serviteur;
  • J’ai perdu tout mon bonheur;
  • Colin me délaisse !
  • Colin me délaisse !
4./5.
  • Il m’aimait autrefois, et ce fut mon malheur. (Ele me amou no passado, e este foi meu infortúnio.)
  • Mais quelle est donc celle qu’il me préfère ? (mas quem é a outra que ele prefere a mim?)
  • Elle est donc bien charmante ! Imprudente Bergère, (Ela deve ser encantadora!  Pastora imprudente,)
  • Ne crains-tu point les maux que j’éprouve en ce jour? (você não teme a dor que eu sinto hoje?)
  • Colin m’a pu changer, tu peux avoir ton tour. (Colin pôde me substituir, você pode ser a próxima.)
  • Que me sert d’y rêver sans cesse ? (Qual a utilidade para mim em ficar remoendo isso sempre?)
  • Rien ne peut guérir mon amour, (Nada pode curar o meu amor,)
  • Et tout augmente ma tristesse.  (e tudo aumenta minha tristeza.
J’ai perdu mon serviteur ;
J’ai perdu tout mon bonheur ;
Colin me délaisse !
Colin me délaisse !
 
6.
  • Je veux le haïr … je le dois … (Eu quero odiá-lo... eu preciso)
  • Peut-être il m’aime encore … pourquoi me fuir sans cesse ? (Talvez ele ainda me ame… por que ele sempre foge de mim?)
  • Il me cherchait tant autrefois ! (Ele me procurou tanto no passado!)
  • Le Devin du canton fait ici sa demeure ; (O adivinho da vila fez sua casa aqui)
  • Il sait tout ; il saura le sort de mon amour. (Ele sabe tudo; ele saberá o destino do meu amor)
  • Je le vois, et je veux m’éclaircir en ce jour. (Eu o vejo, e eu quero esclarecer para mim hoje)

quinta-feira, 24 de março de 2016

A lista de Odebrecht

O "trend topic" do dia de hoje é a lista de beneficiários da Odebrecht que foi tornada pública. Vários nomes da política, mais de 200 parlamentares, prefeitos de capitais, entre outros nomes estão arrolados na planilha.

Ao contrário do grampo ilegal que expôs a vida privada do senhor Lula, o juiz Sérgio Moro decretou sigilo aos documentos apreendidos e é difícil ver esse ato sem pensar que os nomes de Lula e de Dilma não figuram dentre eles. Qual seria o enfoque se pelo menos o nome de Lula estivesse lá?

O documento praticamente pôs abaixo a República. Virtualmente todos os partidos com representação no Congresso estão envolvidos nas doações da Odebrecht, muito embora ainda seja cedo para falar o que foi propina e o que foi doação legal. No entanto, o impacto social é grande; pessoas que trabalham com assessoria em Brasília dizem que o clima é o de terra arrasada.

Aproveitando-se da situação, o Partido Socialismo e Liberdade (PSol) vangloriou-se de ser o único a não ter nenhum nome lá; no entanto, o Senador Randolfe Rodrigues era PSol na época do esquema. Hoje ele é Rede, o que faz com que praticamente todos os partidos tenham mãos sujas.

O Jornal Nacional deu pouca atenção à lista, que é muito mais indiciosa que os grampos, os quais tiveram reportagens de 40 minutos, praticamente uma lavagem cerebral. Não quis citar nomes, dizendo que seria injustiça falar de uns sem falar dos outros -- como se não fosse de interesse público pelo menos saber quais são os ministros e presidentes parlamentares envolvidos.

O senhor Marcelo Odebrecht falou que irá depor e falar como funcionava tudo. Um dia antes, o ministro Teori criticou a atuação de Sérgio Moro, impôs sigilo às gravações e impediu a remessa dos autos para o Paraná até a reunião do STF, que referendará ou não a liminar contra a posse do ex-presidente. Na prática, o ato do relator impede em partes a eficácia do despacho do ministro-coronel Gilmar Mendes.

Teori afirmou que o papel do juiz é o de trazer a estabilidade social, e não trazer mais desordem. Criticou a ilegalidade dos grampos, baseando tirar o sigilo unicamente em interesse público. E defendeu o foro por prerrogativa de função da presidente Dilma.