quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Renúncia de Tiririca: A Tragédia do Pobre que Não Tem Consciência de Classe


Tiririca foi à tribuna, pela primeira e última vez, para comunicar sua renúncia ao mandato de Deputado Federal. O parlamentar comentou que teve uma desavença com um outro deputado, que era mais "sujo que pau de galinheiro".

Saiu da Casa com o discurso de "estar de cabeça erguida", pediu mais saúde para o povo e menos ego aos parlamentares, denunciando a corrupção.

Muitos dos grupos de esquerda preferiram lançar uma campanha de desgaste ao palhaço, ao invés de olhar a situação com um olhar crítico. O caso de Tiririca nos sibila uma realidade que a "esquerda" (e digo isso entre aspas porque esquerda que não tem autocrítica renuncia ao progressivismo e não pode ser chamada de esquerda) insiste em se cegar; ao invés, preferem berrar na internet "EU ESTAVA CERTO", em busca de proventos políticos.

Pois bem, é inegável que Tiririca tenha uma origem humilde e, pela sua postura ainda como deputado, principalmente depois de sua fala simples na tribuna, que este não renunciou suas raízes. Não obstante, isso não o impediu de votar a favor da destituição de Dilma Rousseff, contra o trabalhador e a favor da entrega do Pré-Sal ao capital financeiro, tudo dentro das linhas de seu partido, o Partido da República.

Seu discurso de estar de cabeça erguida nos diz algo: ele votou assim porque achava que estava fazendo o melhor para o Brasil. Atrelou a vida difícil do pobre à falta de acesso ao serviço público de qualidade, o qual, por sua vez, é ruim porque há ego e corrupção.

Eis a mensagem: o pobre humilde, mesmo quando parlamentar, acredita que o problema da pobreza é a corrupção e que a mudança pode acontecer simplesmente a partir de uma simples moralização!

O problema é que não são os políticos os reais detentores do poder; são eles apenas os gerentes. Quem manda na porra toda é a classe burguesa, que coopta a política de acordo com seus interesses. Por trás de cada mala de dinheiro, há uma empresa comprando influência; por trás das campanhas de marketing eleitoral, há uma corporação doando enormes somas e isso se aplica também aos partidos de esquerda!

Deve-se reconhecer os limites da democracia burguesa. Devemos lidar com ela, mas sempre tendo em mente de que somos um estranho na festa.

Tiririca é o arquétipo do pobre que, mesmo bem intencionado, poderia muito bem votar em um certo candidato fascista do Rio de Janeiro. Tudo isso porque, sem a consciência de classe, acredita que tudo pode ser simplificado a uma mera "moralização" da política.


terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Reprovação de Dória triplica em menos de um ano

O Prefeito de São Paulo João Dória (PSDB) viu o seu índice de reprovação crescer durante o ano. No início de sua gestão, sua reprovação era de 13%, agora amarga a marca de 39%, mesma marca de Fernando Haddad.

Ao contrário, porém, de seu rival petista, a queda de sua popularidade não se dá no bojo da comoção de megaprotestos, mas da percepção nítida e paulatina de que o prefeito não fez muita coisa além de viajar. O resultado enterra de vez as pretensões presidenciais de Dória, o político de carreira que se vendeu como novidade empresarial para o paulistano.

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Terceira Temporada de Narcos








Infelizmente, a terceira temporada de Narcos não conta com o pitoresco castelhano aportuguesado de Wagner Moura e, com a saída do grande herói/vilão, Pablo Escobar, muitos olharam com desconfiança o que estaria por vir. Não obstante a temporada não deixou nada a desejar, tanto em termos de produção e de suspense, quanto de profundidade.

A nova temporada da série conta a história da queda do Cartel de Cali, que conseguiu a primazia sobre o negócio da cocaína depois da morte de Pablo Escobar. Tudo começa com a promessa de rendição por parte de Gilberto Rodríguez e a caçada por parte de Javier Peña contra os quatro godfathers do narcotráfico. Os produtores procuraram explorar as falhas da “guerra às drogas”, deixando para trás o centralismo em torno de um narcotraficante, o que mostra que o tráfico não tem cara - ao se tirar um, outro tomar o lugar. O personalismo é deixado de lado e o problema começa a ser visto através da lógica corporativista.

Algo que também é retratado é a leniência do governo dos Estados Unidos com relação ao real problema - durante toda a trama, Peña vai ter que realizar suas operações a contragosto da Embaixada e do governo de seu país, cujos interesses mediatos são mais escusos do que se pode imaginar à primeira vista. E tudo isso tem um motivo: o narcotráfico nada mais é do que apenas mais um negócio lucrativo no mundo capitalista. O objetivo não é acabar com o mercado, mas controlá-lo de forma a estabelecer oligopólios. Assim como acontece com outros mercados, o processo vai interferir da democracia - algo não muito diferente do que acontece pelas terras tupiniquins quando vemos helicópteros e aviões de senadores e deputados abarrotados de cocaína e nenhuma punição. Tal aconteceria ao Cartel de Cali se não fosse a intervenção da Peña para mobilizar a opinião pública colombiana, colocando o presidente contra a parede.

Além de uma eficiente fonte de financiamento para campanhas, a promiscuidade dos grandes comerciantes de drogas com a democracia serve para legitimar um discurso, o da segurança nacional e, dessa forma, viabilizar o controle social e consequente limitação do gozo dos direitos políticos. No seriado, isso é retratado quando a história esbarra no escândalo de corrupção de Ernesto Stamper, presidente do país, que recebeu dinheiro do Cartel de Cali para se lançar à cadeira executiva colombiana, numa celeuma que ficou conhecida como Processo 8000.

Porém, para os detentores de poder, enquanto houver lucro, haverá o braço curto em se resolver o problema e todos se gostam. Tanto é verdade que, mesmo sendo público e notório que o narcocandidato Ernesto Stamper de fato recebeu o dinheiro sujo do narcotráfico para conseguir chegar à presidência, nenhuma punição foi aplicada e o pior, em verdade o ex-mandatário foi premiado nos dias atuais com a Secretaria-Geral da Unasul, o órgão decisório mais importante do continente sul-americano. A coisa fica ainda mais feia quando vem à tona que Stamper é um arauto dos interesses norte-americanos e a Unasul foi criada justamente para confrontar o imperialismo deste no continente em questão, com aptidão para ser uma alternativa à Organização dos Estados Americanos.

Ao final da temporada, vem à luz o fato de que a Embaixada já sabia de todo o esquema e o ignorava com a desculpa da não intervenção nos assuntos internos, quando na verdade os cartéis já estavam arraigados inclusive em suas entranhas democráticas. Para o capital, a Guerra às Drogas não é um fracasso, mas sim um puta case de sucesso, algo que gera uma demanda infinita por segurança.

Mas, se o discurso da erradicação das drogas pela repressão cai tão bem ao senso comum, por que ele não funciona na prática? A resposta encontra-se no fato de que, movimentando o volume de dinheiro que se movimenta, os narcotraficantes podem comprar todo o aparato do Estado para defender seus interesses - juízes, parlamentares e, no caso, até presidentes. A criminalização do usuário (algo que não foi abordado ainda em Narcos) é algo ainda pior, pois transfere todo o ônus para aquele que é vitimado pela realidade material das drogas, que acede a essa realidade por inúmeros caminhos, desde a pura irresponsabilidade juvenil até o escapismo da péssima vivência em que se encontra - não à toa, os usuários que incomodam a opinião pública encontram-se marginalizados nas ruas e nas favelas.

Após as investidas da DEA e da Embaixada estadunidense no país sul-americano, (portanto, depois de terminar o seriado) a história real continua com o presidente Pastrana defendendo um “Plano Marshall” para desenvolver o país e assim lidar com o problema das drogas. O resultado foi o Plano Colômbia, colocado em prática nos governos Bush e Obama, que nada mais é do que uma desculpa para a presença militar ianque na América do Sul, com o objetivo não só de desmantelar as FARC, mas de ter poder de barganha nas relações internacionais contra os interesses sulistas - uma sutil diplomacia do porrete.

Narcos termina com uma crítica a esse tipo de política e apresenta a solução mais plausível: não faz sentido reprimir o comércio de drogas sem atuar pesadamente na prevenção e recuperação do usuário.

quarta-feira, 28 de junho de 2017

FIESP: O pato amarelo dá aulas de demagogia


Merece ou não merece um escracho?

Reagindo à redução orçamentária de Temer à Lava Jato, PF suspende emissão de passaportes



Há um mês atrás, após o escândalo da troca de Ministro da Justiça, Michel Temer reduziu a equipe responsável pela Operação Lava Jato e cortou verbas da Polícia Federal, em retaliação à gravação feita por Joesley Batista, no âmbito do inquérito policial.




Há três dias, a perícia da Polícia Federal concluiu que os áudios gravados não estão adulterados. O relatório final do inquérito, disponibilizado à Procuradoria-Geral da República ontem, afirmou que Temer incentivou pagamentos indevidos a Cunha. Hoje, a PF aumenta ainda mais a pressão sobre Michel Temer, suspendendo a emissão de passaportes, às vésperas das férias escolares, e acusando o governo de facto por falta de verbas. O que os responsáveis pelo ato estão fazendo pode ser crime de prevaricação (deixar de praticar ato de ofício para atender sentimento ou interesse pessoal). A crise institucional é tão grande, que os próprios órgãos da República cometem crimes e os publicam.


Segue a nota do cancelamento da emissão de passaportes:


Sobre o serviço de passaportes, a Polícia Federal informa que está suspensa a confecção de novas cadernetas de passaportes solicitadas a partir de hoje, 27/06, às 22 horas.


A medida decorre da insuficiência do orçamento destinado às atividades de controle migratório e emissão de documentos de viagem.


O agendamento online do serviço e o atendimento nos postos da PF continuarão funcionando normalmente. No entanto, não há previsão para entrega do passaporte solicitado, enquanto não for normalizada a situação orçamentária.


Usuários atendidos nos postos de emissão até o dia 27/06 receberão seus passaportes normalmente.


A Polícia Federal acompanha atentamente a situação junto ao Governo Federal para o restabelecimento completo do serviço.


Divisão de Comunicação Social

Polícia Federal

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Afeganistão: Atentado terrorista em banco lotado mata 29 e fere sessenta

Um atentado terrorista contra uma sucursal do New Kaboul Bank, no coração de Lashkar-Gah, capital de Helmand (Afeganistão), matou vinte e nove pessoas e feriu sessenta. A explosão aconteceu enquanto militares e civis sacavam seus salários.

Um outro atentado havia sido perpetrado em feveireiro contra a mesma sucursal, sendo reivindicada pelo Talibã. A violência é consequência da intervenção militar desastrosa dos Estados Unidos em 2001, que deixou um vácuo de poder no país, fazendo com que cidadãos afegãos sejam presas fáceis para partidos radicais, tais como os Talebãs, e guardam correlação também com a histórica divisão entre xiitas e sunitas.


quarta-feira, 21 de junho de 2017

The Keepers - o que Rafael Braga, Lula e a Irmã Cesnik Têm em Comum?


Muito embora tenha desagradado alguns fãs nos últimos dias, com o cancelamento da série Sense8, nada desabona o fato de que a Netflix é, atualmente, a produtora mais promissora de séries, filmes e documentários da atualidade. Para diferenciar das demais, o streaming tem apostado em produzir conteúdos com viés progressistas e The Keepers é uma docussérie que se enquadra nessa lógica.

A trama gira em torno do assassinato não solucionado de uma freira, Catherine Cesnik, que ministrava aulas em uma escola católica, Seton Keough High School, depois que um grupo de ex-alunas resolve romper o silêncio e investigar o caso por conta própria, décadas depois. Porém, ao contrário da tradição dos unsolved crimes series comuns, a narrativa não se concentra somente no caso do homicídio e vai se imbricando para diversas histórias paralelas, relatando os abuso sexual de menores que aconteceram sob a tutela da Igreja, tendo como perpetrador o padre que administrava  o colégio, Joseph Maskell, e seus amigos - padres, policiais e outros cidadãos de bem.

Aos poucos, The Keepers vai denunciando não só a conduta repugnante dos abusadores, mas também a leniência das estruturas de poder, mormente a Igreja Católica, a Polícia e o Judiciário, bem como, e principalmente, o machismo estrutural da sociedade, o qual atinge seu ponto máximo de expressão, no discurso, quando Jane Doe vai depor contra Maskell no tribunal.

É bom perceber, porém, que a história de Cathy Cesnik está muito mais adjunta de nossa realidade do que supomos à primeira vista. A freira assassinada está muito mais próxima de Lula e Rafael Braga, do que do Papa Francisco. Bem, e o que uma freira, um sem teto e um trabalhador têm em comum? São todos sujeitos passivos do abuso de autoridade, da opressão, do conluio daqueles que detêm o poder do Estado, ou é amigo deste. Entre a Arquidiocese de Baltimore e o Tribunal de Justiça de São Paulo, ou o TRF de Curitiba, há menor distância do que gostaríamos de supor.

A semelhança entre as três figuras reside no símbolo de questionamento do poder puro das elites dominantes. Caso Cathy houvesse denunciado Maskell a tempo, a questão viraria um escândalo e a Igreja iria ter sérios reveses, assim como toda a estrutura política sustentada por ela - não devemos nos esquecer que, nos lugares onde o sentimento religioso é muito forte, é difícil separar a fé institucionalizada da própria política, pois os representantes são escolhidos devido ao atrelamento de suas imagens à vida na comunidade religiosa; um escândalo significaria um abalo nessa estrutura - seria o questionamento dos homens privilegiados pelas mulheres oprimidas. Para Rafael Braga, a relação é mais direta: trata-se de um negro que participou de manifestações as quais questionavam diretamente o poder do Estado (mais de duas mil pessoas foram averiguadas, nenhum branco foi detido). No tocante a Lula, o questionamento de poder toma ares de preferências políticas e de um grau (limitado, diga-se de passagem) de empoderamento de certas classes emergentes, as quais podem causar problemas às elites econômicas e políticas, principalmente no contexto de uma crise econômica - o processamento do ex-presidente, na base de meras convicções, simbolicamente demonstra o questionamento do espaço dos trabalhadores dentro de uma economia capitalista (apesar de que Lula não represente, nem de longe, a negação do capital).

Portanto, para conservar o poder, aqueles que o exercem são capazes de afastar as leis e os direitos, passando por cima dos mais vulneráveis - dos negros, dos trabalhadores e das mulheres - tudo em nome do controle social. Assim aconteceu nos desdobramentos do caso Cesnik: depoentes foram hostilizadas, provas foram suprimidas e sentenças  contra legem prolatadas. A Arquidiocese jogou panos quentes o quanto pôde. O crime pode ter sido cometido por um ou outro, mas toda a estrutura de poder concorreu para a sua impunidade. Para Lula e Rafael Braga, basta uma condenação sem provas, pois um é "ladrão" e o outro é "vândalo". Foi preciso uma união muito contundente e o vazamento para a mídia para que, no caso dos assédios em Keough, alguma atitude fosse tomada.


Moral da história: se você é um fudido, não confie nas estruturas de poder. Associe-se com outros fudidos e faça o máximo de barulho que conseguir. Caso não seja o suficiente, prepare-se para uma revolução.

Enquanto isso, no futebol da tarde, o padre, o promotor, o juiz e o empresário seguem mantendo sua bonita amizade, agindo com o arbítrio que lhes aprouver, tendo a certeza de que permanecerão livres, leves e soltos, pois o capital sustenta as estruturas de poder que lhes garantem a sua imunidade. Eis a face mais escancarada do conservadorismo. Como diria o Capitão Nascimento: O Sistema é foda.

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Eleições diretas são possíveis?


A internet é trem loko. Vira e mexe, a gente sempre dá uma olhada nos diversos grupos sociais para saber o que está rolando em suas investidas, até porque, como todo mundo sabe, mas ninguém ousa dizer, estamos em uma guerra política total.

Ontem, um tsunami de instabilidade assolou o país. Michel Temer foi pego no pulo numa tentativa de interferir nas forças-tarefas da Operação Lava Jato, depois que Joesley Batista, um dos donos da JBS Friboi, entregou diversas provas à Procuradoria-Geral da República e à mídia. A Globo, temendo perder um de seus maiores anunciantes, resolveu promover o furo e logo depois já lustrou seu arcabuz para conter a turba pedindo eleições diretas.

Diante disso, grupos fascistóides, que mitificam a ladroagem, entraram na defensiva. Como argumento, utilizaram que não se pode mudar a Constituição para fazer uma eleição direta, pois isso iria ferir uma cláusula pétrea. E os cidadãos-de-bem chamavam todo mundo que não tinham conhecido do jargão de burro, como é de praxe.

Sim, existem as chamadas cláusulas pétreas no direito brasileiro e elas estão vazadas no art. 60, §1.º. De acordo com o dispositivo, não pode ser objeto de deliberação qualquer proposição legislativa que tende a abolir:
  • A forma federativa do Estado;
  • O voto direto, secreto, universal e periódico;
  •  A separação dos poderes;
  •  Os direitos e as garantias individuais.

Pois bem, uma PEC que determina eleições diretas suplantando as indiretas, para conter a crise de 2017, não atenta contra nenhuma dessas premissas. O voto periódico continua assegurado, uma vez que apenas está se deliberando as eleições diretas para um mandato-tampão. A praxe de inserir dispositivos no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias é perfeitamente plausível. Aliás, o próprio Michel Temer fez isso ao aprovar a Emenda Constitucional n.º 95, com um dispositivo que nem é tão transitório assim: o estabelecimento do Teto constitucional por VINTE ANOS. Além disso, outras reformas eleitorais foram feitas por meio de emenda constitucional, tal como diminuir o mandato do presidente de 5 para 4 anos e permitir a reeleição (no primeiro caso supostamente mexeria com a periodicidade do voto, de uma forma muito pior do que a proposta atualmente).

Ou seja, argumento jurídico para não se ter eleições não existe. O argumento de que “não se pode por a mão na constituição como se fosse corrimão”, ou de que “as regras estão aí para serem seguidas” (como se elas fossem imutáveis) também não, até porque elas não foram seguidas para destituir Dilma Rousseff. Só sobra um argumento, e ele é baseado no realismo político: essas pessoas sabem que se houver uma eleição agora, sem Lula estar preso, o candidato palmito perde.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Por que a Globo entregou Temer e Aécio

O Brasil vive a maior convulsão política desde o fim da ditadura. Com o furo jornalístico empreendido pela Rede Globo, Michel Temer e Aécio Neves, o queridinho da emissora, estão mortos politicamente; cabe saber o que irá acontecer daqui em diante.

A pergunta que naturalmente surge é: por que houve esse furo? Será que a Globo está finalmente cumprindo seu papel de imprensa, que é o de informar o povo e denunciar, de forma imparcial, independente do lado que está o denunciado? Vamos analisar na perspectiva do interesse da Rede Globo: como se trata de uma empresa capitalista, sua finalidade é sempre o lucro. Um dado importante a ser levantado é que a JBS Friboi é o terceiro maior anunciante da emissora, em volume de capital. Isso significa que os interesses da primeira convergem aos interesses da segunda.

Mais do que que simplesmente obter lucros, é de conhecimento geral que a Rede Globo passa por sua pior crise financeira e, sem os proventos da JBS, ficará difícil fechar o balanço mensal. Isto foi sentido quando a JBS foi denunciada pela Operação Carne Fraca, amargando prejuízos à emissora. A JF Holding, conglomerado internacional que controla a JBS, está pronta a fazer uma abertura milionária em Wall Street e o escândalo certamente mexeu com seus interesses - será preciso primeiro limpar o nome perante a Justiça brasileira para que a captação seja possível.

Dessa forma, os irmãos Batista, que não são filhos do Lula (apesar da campanha fakenews que andou acontecendo na internet), entenderam que seria melhor fechar a delaçaõ com a Procuradoria-Geral da República, pois sabiam que na primeira instância, controlada por Sérgio Moro, isso não seria possível, tendo em conta a seletividade do magistrado em colher provas. Não devemos nunca esquecer o clima de romance que houve entre Moro e Aécio, durante a premiação "Brasileiro do Ano". Triste é constatar que os "Brasileiros do Ano" foram justamente Aécio, Temer, Moro e Henrique Meirelles. 

Percebendo que, mesmo com a delação, a JBS seria cobrada a pagar R$ 700 milhões e que a simples delação não os livraria da cadeia, os delatores distribuíram cópias da delação a vários meios de informação. Caso a Globo não levasse o furo para frente, perderia seu maior anunciante. Para a classe burguesa, o cálculo de lucros ou de minimização das perdas é sempre o vetor para suas ações - vão-se os anéis, ficam-se os dedos - e, por este motivo, a Globo vazou a delação, ferindo de morte o governo de Michel Temer e Aécio Neves.

Cabe agora analisar qual que é a postura da Rede Globo com essa convulsão toda. Hoje de manhã, a afiliada RBS já afirmava que não "há clima para eleições gerais". O questionamento que fica para nós é: não há clima para quem? Para o povo ou para os burgueses? A emissora já demonstra sua preferência pelas eleições indiretas, em nome da "estabilidade", e surgem especulações em torno do nome de Fernando Henrique Cardoso e Nelson Jobim para receber o mandato-tampão, enquanto o concorrente declarado à presidência do Partido dos Trabalhadores era linchado, mostrando uma miríade de documentos não assinados que "comprovavam" que este havia se reunido pelo menos trinta vezes com diretores da Petrobrás enquanto era presidente. Fica claro portanto qual é a estratégia: derrubar Temer, inviabilizar as eleições diretas e tirar o principal vetor de mobilização, no momento, da corrida eleitoral.

À classe trabalhadora, por ora, só resta pedir a cabeça de Temer, contrapondo, no entanto, toda tentativa de frustrar o processo de estabilização democrática legítimo, enquanto constrói sua base para criar o poder popular e uma saída à esquerda. Para viabilizarmos as eleições gerais, devemos, sobretudo, confrontar os interesses da Rede Globo, promovendo a maior campanha de boicote que este país já viu e e erigir a partir daí o alicerce para uma mudança mais profunda, sem cair na apatia ou na indiferença, mesmo se o quadro for de vitória temporária.

Vamos rir um pouco? "Agora é Aécio!"

Aaaah, nada melhor do que aproveitar esse dia 18 de maio vendo alguns atores globais e cantores sertanejos apoiando o Aécio...

A internet não perdoa.


sexta-feira, 28 de abril de 2017

Ribeirão Preto adere à Greve Geral

Para muitos cantos do Brasil, o dia 28 de abril de 2017 significou um dia de greve geral, trancaços e reivindicações. O governo federal, que não se importa com a legitimidade nem com a verdade, tentou diminuir a importância da aderência dos trabalhadores ao movimento, dizendo que foi menor do que se esperava, apesar de ter sido a maior Greve Geral da história brasileira, tendo a aderência de 40 milhões de trabalhadores, de acordo com o jornal francês Le Monde. A mídia, por sua vez, tentou desmoralizá-la, dizendo que seus atos de "vandalismo" (eu diria de resistência e indignação) trouxeram a ojeriza do povo. 


Sabemos que greve é o resultado mais leve do conflito de classes e que isso significa, trocando em miúdos, que todos aqueles que forem pró-capital serão contra a greve, tentarão diminuí-la, deslegitimá-la ou simplesmente descer o cacete.
Fato curioso, não obstante, são as pesquisas referentes à Greve Geral e à forma como os trabalhadores que não pararam reagem às pautas -- quase todos apoiam, aplaudem, gritam, tiram fotos etc. A maioria dos que reclamaram, xingaram na internet e se disseram indignados são justamente os patrões. É muito bom que eles se incomodem, sinal que o 28 de abril lembrou essa galera que os trabalhadores existem e são imprescindíveis.

É sintomático que em Ribeirão Preto, uma cidade com perfil assaz conservador, houve uma aderência de 5 mil pessoas à Greve Geral. Isso significa que, ao contrário do que fazem tentar nos dizer as grandes mídias, o ressentimento e o apoio popular às pautas são grandes. Grandes a ponto de a Polícia Militar, pela primeira vez em muito tempo, tratar os manifestantes e trabalhadores com cordialidade; de seguranças não impedirem intervenções, nem socos nas vidraças, mas pelo contrário, acenarem sorrindo; de comerciários cantarem junto as palavras de ordem e entrarem no espírito do "vandalismo" do 28A.
 
Terminal Rodoviário de Ribeirão Preto parou completamente durante o dia

Acompanhamos as movimentações desde a manhã, primeiramente no portão da USP. Lá, acontecia um piquete, com entrega de panfletos e café da manhã comunitário, realizado pelo Sintusp e pelas entidades estudantis, dentre elas o CAAJA, da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto, o Centro Acadêmico Lourenço Roselino, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, e alunos da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.
  
 
 


Em seguida, o grupo seguiu em passeata pela Avenida do Café, passando pela área comercial, cantando palavras de ordem e entregando panfletos à população, em direção à praça XV de Novembro, onde se juntaram a todas as demais entidades classistas e estudantes que aderiram à greve. Após uma rápida deliberação, o povo de Ribeirão Preto decidiu fazer uma passeata com destino à praça Salvador Spadoni, passando pela Avenida Nove de Julho. Houve a participação de aposentados, auditores fiscais, setores ligados à Igreja (inclusive tinha uma freira muito animada que apitava e buzinava, ao mesmo tempo) e pessoas que foram aderindo à muvuca durante a passeata.



 


 





No fim da tarde, houve ainda um ato, às 17 horas, no Terminal Rodoviário de Ribeirão Preto.

Vagabundo é aquele que enriquece da exploração do trabalho alheio!

sábado, 25 de março de 2017

Moro se prepara para prender Lula

Os ventos indicam que a prisão de Lula está próxima. Um movimento claro que indica que o momento está próximo é a convocação da horda de inocentes úteis seguidores do MBL de sair às ruas, para que a mídia explore o ódio de classe e assim prepare os corações para o evento do século.

A prisão faz-se necessária para coroar a vitória da elite dominante sobre os "lulopetistas", a mais nova pecha atribuída àqueles que contrariam seus interesses. São os "subversivos vagabundos" do momento. Todo marco é simbólico e o fim da Constituição, que já apresenta um marco jurídico, carece agora de um social.

Por trás da "defesa da Lava Jato", como se o Judiciário precisasse de bênção popular para instalar a Exceção, encontra-se unicamente o objetivo de acabar com a classe trabalhadora.  Sabemos disso, pois, o MBL é um "bloco partidário" responsável por articular a opinião pública em favor do PMDB, PSDB e DEM, que são fracos em base social e precisaram "terceirizar" tal trabalho. Ora, o único político de esquerda relevante que ainda não foi punido, antagonista desses partidos, é justamente o Lula.

Este já sabe que vai ser preso. Todo mundo sabe. E tenta barganhar a sua prisão através do potencial de reação social que isso pode gerar. Com isso, se lança a presidente. Ciro Gomes também sabe da certeza do que irá acontecer e também se antevém a isso. Seu discurso de que só sairá candidato se Lula não o for é sintomático, bem como a disposição de Lupi em punir os correligionários que apoiaram o golpe. A burocracia visa a 2018. Os trabalhadores, massa de manobra social, apostam suas últimas fichas no queremismo; são capitalistas demais para quererem uma revolução.

Enquanto isso, As Meninas se mostram cada vez mais sociológicas:o de cima sobe e o debaixo desce.

sexta-feira, 17 de março de 2017

Epitáfio de Seikilos

A música erudita foi rica desde sempre. Mesmo que não tenha uma linguagem muito complexa durante a Grécia Antiga, sua engenhosidade é rica e bonita de se conhecer.

O Epitáfio de Seikilos é a música mais antiga que temos por completa. Trata-se de uma melodia grafada em um túmulo, com um poema. O local apresenta a seguinte inscrição: "Eu sou um túmulo, um ícone. Seikilos me pôs aqui como um símbolo eterno da lembrança imortal". Também há a gravação de que Seikilos fez esta bonita homenagem à sua esposa, presumivelmente enterrada naquele lugar.



A letra é igualmente encantadora:


Hoson zés, pháinou
Medén hólos sý lýpou
Pros olígon estí to zén
To télos ho khrónos apaitéi
Enquanto viveres, brilha.
De todo não te aflijas,
Pois curta é a vida
E o tempo cobra seu tributo.

Segue abaixo uma interpretação contemporânea da música:




A mensagem era hedonista e positiva. Hoje, posso dizer que ela apresenta um novo significado. Enquanto viveres, brilha. Não seja um filha da puta fascista, porque essa galera que não brilha tenta apagar o brilho dos outros. A vida é tão curta que não vale a pena torná-la pior para o próximo. 

A desinformação de Zago, reitor da USP

Em resposta ao uso parcial da imprensa da USP por parte do dirigente máximo, Zago, trabalhadores da USP encaminharam o seguinte esclarecimento:



INFORMAÇÃO É PODER

A Reitoria enviou uma mensagem apresentando a versão parcial da realidade sobre o que aconteceu na reunião do Conselho Universitário. Usou o endereço "Imprensa" para dar um aspecto de seriedade (coisa que a maior parte da imprensa já perdeu faz tempo) e isenção (como se possível) . 

Em um exercício ridículo tenta colocar o Reitor como vítima e chega a falar de "violência psicológica" sofrida pelos conselheiros, demonstrando uma total incapacidade de refletir sobre o assunto ou mesmo de apresentar argumentos em defesa da truculência provocada pela ação da Reitoria que orientou os conselheiros a esperarem lá fora criando assim um clima de tensão.

Uma mensagem recebida via e-mail (com a autoria perdida, mas conteúdo plenamente válido) faz boas considerações sobre a referida mensagem da Reitoria!


"Recebi, como todos vocês, este informe, e penso que a Reitoria poderia divulgar, também, os depoimentos de membros do Co que já disseram algo bem diferente. Junto com estes. é claro. Assim mostraria verdadeira preocupação pela situação gerada. Mas prefere compor uma matéria no estilo Cidade Alerta, menosprezando a inteligência dos receptores. Homogeneizando o Co contra o "inimigo interno". Até repete a determinação do título daquele triste comunicado de 2014 ("A USP sob ataque") em que inauguraram a denominação "inimigo interno".

Além disso, matéria fraca, considerando que pessoas em condições de fuga conseguiram imagens bem mais nítidas. Por que não há uma única foto ou filmagem dos supostos "cerco e empurralhamento"? Ou do impedimento de entrar, isso último -que também não justificaria a selvageria policial- seria essencial, já que, na sessão do Co, vários declararam não terem sido impedidos em momento nenhum, coincidindo com vários colegas que deram depoimentos públicos. Das três fotos que acompanham, uma parece um pique-nique, na outra está Fischerman escoltado e na terceira uma pessoa arroja alguma coisa (contra os policiais, não contra os conselheiros), depois de que os policiais começaram o ataque.

Alguns dos depoimentos são diretamente atos falhos: “Até o início das ações da PM, eu e a maioria de meus colegas conselheiros fomos continuamente assediados com palavras", diz o diretor do IF de São Carlos. 

Então, as palavras são assédio? Houve centenas ou mais de um milhar atacados com cassetetes, bombas, e spray pimenta. Todos somos atacados cotidianamente pela Reitoria e esses membros coniventes do Co com o sucateamento do patrimônio público, ocultamento de informações vitais, violência institucional, e, também, com palavras. 

Uma matéria para consumo dos convencidos, que não sinaliza nenhuma perspectiva."

Nota-se assim que estamos em uma guerra de informações. Para que não sejamos manipulados, principalmente pela Reitoria e Jornalões que apenas publicam o que interessa aos seus patrocinadores, é preciso buscar outras fontes de informação.


Neste sentido, no anexo 1 há três artigos/depoimentos lúcidos e comoventes de Conselheiros que estavam no dia da votação e que entendem o papel da Universidade e de como as coisas podem e devem ser bem diferentes, com o uso do diálogo e troca de opiniões para resolver nossas diferenças. Fica claro que apesar de haver o protesto e até alguma hostilização (xingamentos), reprováveis, porém compreensíveis diante da situação, dava sim para os conselheiros entrarem, não sendo necessário uma ação tão truculenta da Polícia. Talvez um grande agravante foi a ordem da Reitoria para os Conselheiros se aglutinarem mas não entrarem.

No anexo 1 também há:
- Carta Aberta da ADUSP, SINTUSP E DCE sobre a proposta do Reitor.
- Moção do Departamento de Antropologia / FFLCH
- Carta Aberta / Abaixo assinado Contra a violência e pela Democracia na USP , a qual continua recebendo adesão: https://www.change.org/p/contra-a-falta-de-democracia-e-uso-de-viol%C3%AAncia-na-usp?recruiter=692452100&utm_source=share_petition&utm_medium=copylink


Outras fontes que ajudam a entender o que realmente aconteceu no dia da reunião do “CO”:
- o vídeo do pessoal das creches disponível em https://pt-br.facebook.com/ocupacaocrecheaberta/videos/1955223204701038/
- Facebook do Bruno Gilga Rocha - representante dos funcionários no CO, destaco a lúcida e pertinente fala dele na reunião do CO https://www.facebook.com/brunogilgarocha/videos/1851784468411249/

Mas, para quem quer entender o que realmente está acontecendo na USP segue no anexo 2 alguns artigos com análises mais aprofundadas, mais abrangentes e mais honestas sobre os números, as ações e a situação da USP.
Segue também o resultado da votação do CO com quem votou contra e a favor dos parâmetros.

Anexos:

Para receber os relatos do ocorrido no dia da votação, mande uma solicitação para o  e-mail ssetrep@protonmail.ch.

segunda-feira, 13 de março de 2017

A entrevista censurada de Eugênio Aragão sobre Alexandre de Moraes

A juíza Cristina Inokuti, da 3ª Vara Cível de São Paulo, determinou no dia 10 que o PT retire de seu site reportagem feita com o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão, em que ele critica a conduta do futuro ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Na sentença, a juíza diz que a entrevista possui "indícios de abuso do direito constitucional de liberdade de expressão e informação" e que as opiniões de Aragão vinculam Alexandre de Moraes "à facção criminosa e ao cometimento de ilicitudes".


A juíza ainda estipulou um prazo de cinco dias para que o partido retire do ar a reportagem, sob pena de multa no valor de R$ 1.000.


Indignado com a censura sofrida, o PT divulgou nota oficial comunicando que irá recorrer da decisão.


A censura sofrida pelo página do PT na internet, a partir de uma ação judicial movida pelo ex-ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, é mais um atentado à democracia perpetrado por integrante do ilegítimo governo golpista que hoje ocupa o poder no Brasil.


É profundamente lamentável, e causa grande preocupação, o fato de que Moraes, recentemente nomeado para a mais alta corte de Justiça do país, tenha mobilizado seus esforços para censurar a opinião do ex-ministro do Governo Dilma Rousseff, Eugênio Aragão, exposta em entrevista à Agência PT.


O Partido dos Trabalhadores irá recorrer contra essa decisão, que lembra os piores dias do regime militar, e continuará lutando pelo retorno do Brasil ao Estado Democrático de Direito, que só acontecerá quando houver novas eleições diretas para a presidência da República.

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Segue a íntegra da entrevista censurada:








Servidores da Prefeitura de Ribeirão Preto protestam contra Duarte Nogueira

Servidores municipais ocuparam o calçadão da praça XV de Novembro neste sábado, (11) para exigir melhores condições de trabalho. De acordo com os trabalhadores, apesar do discurso, o prefeito Duarte Nogueira (PSDB) se nega a negociar sobre suas pautas, aparelhando politicamente os órgãos da prefeitura com cargos comissionados, inflando a folha de pagamento e legando os Servidores de carreira para segundo plano. Ainda, como forma de deslegitimar as reivindicações, os Servidores afirmam que o prefeito tenta jogar a população contra os interesses do povo e da classe.





Além das condições trabalhistas, o grupo salienta o sucateamento dos serviços públicos, especialmente na área de educação e saúde. Há escassez de medicamentos e de suprimentos básicos nas UBS e UBDS, bem como falta de segurança e equipamentos quebrados. O prefeito também é acusado pelos funcionários de não cumprir a carta-compromisso assinada durante a campanha eleitoral -- o que significa que Duarte Nogueira, deputado que apoiou o golpe de Estado que colocou Temer no poder, no ano passado, mentiu em sua campanha eleitoral.

Lista de medicamentos em falta na Farmácia da UBDS Central

Outra manifestação está marcada para o dia 14 de março, em frente ao Palácio Rio Branco, na qual será encaminhado a pauta de reposição salarial mais um aumento real; caso não haja diálogo, os servidores discutirão uma greve geral por tempo indeterminado e a consequente paralisação da máquina pública. Os servidores afirmam que foram arrecadados R$ 18 milhões nos 66 primeiros dias de 2017, o que contrariaria o discurso de Nogueira de ausência de verba para a campanha salarial.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Antes cair das nuvens, que de um terceiro andar

O Século XX foi marcado por grandes paradoxos e contrastes para a humanidade. Até o final de sua primeira metade, o mundo vivenciou um período de difusão do ódio, o que desencadeou guerras terríveis e consequências lastimáveis. Quando a Segunda Guerra Mundial terminou, a Sociedade Internacional fundou a Organização das Nações Unidas com a promessa de zelar pela paz, lançando suas bases no entendimento mútuo e no respeito ao Direito Internacional, sobretudo no tocante à defesa dos direitos humanos.
Não obstante, mal as estruturas de governança global haviam sido instituídas e o confronto entre o mundo capitalista e socialista se deflagrou, perdurando por quarenta anos. Ambas as ideologias pretendiam ser o vetor para a organização de um mundo mais justo e sem guerra, entretanto, o que se assistiu foi a emergência da violência sistemática generalizada, sintoma de uma ordem mundial em perpétua bipolaridade que separava a humanidade através do discurso de “nós” e os “outros”, constituindo para cada uma das superpotências seus próprios “vilões” e “heróis”.
Com o débâcle da União Soviética, o mundo parecia ter entrado finalmente em uma época de entendimento e de paz. A vitória do capitalismo enquanto projeto global de Sociedade Internacional, e de sua expressão maior, a globalização, parecia dar lugar a um mundo sem fronteiras, tanto para as transações comerciais, quanto para as trocas culturais. A revolução científico-tecnológica ajudou imensamente para construir a utopia de irmandade entre as nações, sendo que a própria superpotência restante afirmava seu ímpeto de construção de uma nova ordem mundial que abarcasse tais valores, os quais, somados à ideia de democracia, tornaria possível a paz.
Para conformar tais ideais, no plano econômico, o neoliberalismo era a ideologia vigente. O entendimento era de que se deveria diminuir o Estado, pois este era ineficaz e constrangia a liberdade individual, cuja vivência seria uma premissa básica para a felicidade. Ao ator global fundamental, deveria ser legado somente as funções básicas, tais como a administração da justiça e segurança, bem como a regulação do sistema financeiro, de forma a criar um ambiente propício para que a economia se desenvolvesse, beneficiando a todos os indivíduos.
Paradoxalmente, apesar de se universalizar os padrões de consumo e liberalizar parte considerável dos fluxos de capitais e comércio, não se verificou a esperada abertura das fronteiras, o que tornou a mão-de-obra cativa da conjuntura de seu Estado Nacional, causando consequências catastróficas para os países da periferia e a concentração do poder nos grandes centros hegemônicos. A ideia de concertação global não vingou e o que se verifica é o aprofundamento das desigualdades regionais e entre as classes trabalhadoras e empresárias.
Portanto, o discurso globalista-universalista somente serviu para as elites dominantes consolidarem seu poder, debilitando o Estado de poder prover quaisquer mudanças substanciais nesse quadro. Um pequeno refluxo neste processo aconteceu durante os anos 2000, nos quais setores progressistas lograram alcançar o governo, no entanto, a utopia havia dado lugar ao realismo político, o que, após alguns anos de tentativa de implantar um Estado de Bem-Estar Social, transmudou em cálculo geopolítico para as grandes potências e para um regresso conservador na periferia, acelerando a acentuação das diferenças sociais.

O resultado deste processo tem sido a universalização dos padrões de consumo, o agravamento das diferenças de acesso a esses padrões, o amplo acesso do capital nos mercados emergentes e periféricos, sem uma contrapartida social proporcional, a precarização do mercado de trabalho, em contraste com a apropriação cada vez maiores de lucros por parte dos grandes conglomerados, e a circunscrição da miséria.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Acontecimentos de janeiro

25 de janeiro de 2017

O jornalismo chapa-branca vazou a tomografia de Marisa Silva, mulher de Lula. O juiz que pode substituir Teori Zavascki no STF é machista e homofóbico. 

              26 de janeiro de 2017 

Saiu a foto oficial de Michel Temer, por ocupar a presidência. Trata-se de uma montagem desleixada, fazendo jus ao seu governo.

Janot arquivou o inquérito contra Lindbergh Farias na Operação Lava Jato. Temer afirmou que é contra a homologação da Odebrecht pelo STF antes da redistribuição do processo da Lava Jato, após o assassinato de Teori Zavascki. Ele está querendo se blindar das acusações. 
Donald Trump decretou a construção do muro na fronteira do México. Ele afirma que o país latino-americano arcará com todas as despesas da empreitada, de um jeito ou de outro. O presidente mexicano Enrique Peña Nieto afirmou que não arcará com as despesas do muro e pediu respeito ao homólogo estadunidense, mas não cancelou sua visita a Washington. O custo estimado do muro é de 20 bilhões de dólares. É bom lembrar que a imigração de mexicanos vem caindo anos a fio. Além desse decreto, Trump assinou outro prevendo punição para as grandes cidades que protegerem imigrantes ilegais e afirmou que assinará mais um proibindo a entrada de imigrantes de países "propensos ao terrorismo", bem como proibindo a entrada de refugiados. A Marcha das Mulheres contra Trump, no dia 20, foi o maior protesto da história dos Estados Unidos. Trump afirmou que tortura dá certo para combater o terrorismo, mas que vai consultar a CIA antes; John McCain afirmou: Trump pode assinar o decreto que quiser, mas o Legislativo não irá trazer de volta a tortura aos Estados Unidos. Trump mandou apagar os relatórios sobre aquecimento global e retirou todos os sites do governo americano em outras línguas. 
Adail Pinheiro recebeu indulto presidencial de Michel Temer com relação aos seus crimes de estupro de menores. A pena de 11 anos foi extinta. A sentença condenatória havia sido prolatada por Luis Carlos Valois, o mesmo juiz que negociou com os presos para estancar a horrenda rebelião no presídio do Amazonas. 
"Cidadãos de bem" desejaram a morte de Marisa Silva na internet. São os mesmos que haviam trocado sua vinheta do Facebook para "Força Chape", em homenagem à queda do avião da Chapecoense. Enquanto isso, muitos mandam mensagem de apoio à ex-primeira dama. 
Dória anunciou o fechamento de farmácias do SUS e aprovou aos guardas municipais em retirar os pertences dos moradores de rua, tais como colchões e cobertores. Membros de seu governo pediram demissão coletiva em razão disso. 
Alexandre Moraes enfrenta demissão coletiva do Conselho de Política Penitenciária. Trechos da carta: “A índole assumida por esse Ministério, ao que parece, resume-se ao entendimento, para nós inaceitável, de que precisamos de mais armas e menos pesquisas”, avaliam os membros do conselho. “A atual política criminal capitaneada pelo Ministério da Justiça, a seguir como está, sem diálogo e pautada na força pública, tenderá, ainda mais, a produzir tensões no âmago de nosso sistema prisional, com o risco da radicalização dos últimos acontecimentos trágicos a que assistiu, estarrecida, a sociedade brasileira.” 
Um policial militar deu choque em uma criança de colo e ameaçou quem o criticou. A abordagem encontra-se nas mídias sociais. 

31 de janeiro de 2017 

Carmen Lúcia surpreendeu a classe política e homologou por sua conta própria as 77 delações da Odebrecht, apesar de Michel Temer ter falado que acreditava que o STF não faria uma coisa dessas sem antes redistribuir o processo. A mensagem que se passa é que o Judiciário também entende que possa ter havido sabotagem na morte de Teori Zavascki. A classe política deve estar se sentindo traída, após o acordão, "com Supremo e tudo mais", para "estancar a sangria", o que significava dar aumento aos juízes e ministros em troca de blindagem na Operação Lava Jato. Quando as delações incriminavam o ex-presidente Lula, o processo corria sem sigilo. Dessa vez, o tratamento foi diferenciado. Assim se faz política. 
"GOVERNO TEMER FECHA AS CONTAS DE 2016 COM ROMBO RECORDE DE R$ 154,3 BILHÕES, 34% MAIS QUE EM 2015, COM DILMA  Mas a conta é pior ainda, e o rombo com Temer muito maior. Em 2015, com Dilma, o TCU obrigou o governo a quitar o débito com os bancos públicos, o que totalizou R$ 72,4 bilhões. Temer teve em 2016 uma renda extra de R$ 48 bilhões, das repatriações, o que não é garantido que se repetirá em 2017. Se descontarmos essas duas excepcionalidades, o déficit com Dilma, em 2015, seria de R$ 43 bilhões. Já o de 2016, com Temer, seria de R$ 202,3 bilhões.  Afinal, para o onde vai o dinheiro no governo golpista, que o rombo só aumenta e os direitos sociais só diminuem?" 
Com relação a Donald Trump, grandes conglomerados anunciaram medidas contra suas políticas xenofóbicas, entre elas a Starbucks e a Airbnb. Uma juíza suspendeu parcialmente a ordem executiva que mandava reter imigrantes para deportação, até mesmo aqueles que apresentavam green card. A China começou com o seu plano de aproveitar o vácuo de mercado deixado por Washington com suas políticas isolacionistas. A procuradora-geral Sally Yates afirmou que não estava convencida de que as ordens executivas de Trump eram legais; em resposta, o presidente a demitiu, afirmando que ela havia traído o Departamento de Justiça. Os decretos fizeram a bolsa de Nova Iorque afundar, consequentemente a brasileira foi junto. Latinos e judeus se uniram no sul da Califórnia contra os decretos de Trump, lançando a campanha "somos todos muçulmanos". Gostaria que assim o fosse também na Palestina. 
Dória congelou R$ 2,6 bilhões em investimentos em saúde e educação; culpou a gestão Haddad com relação ao corte. The Wall Street Journal afirmou que Dória irá lançar um grande plano de privatização, o maior já feito por um município. Ao jornal, o prefeito contou que irá privatizar de tudo, desde o Sambódromo do Anhembi aos cemitérios municipais. Morrer ficará mais caro a partir de agosto. Claramente, Dória se utilizou dos chavões de que o Estado é intrinsecamente ineficiente e corruptível. Com a ajuda da McKinsey e de outras firmas de consultoria, ele planeja privatizar também a concessão de 107 parques, 22 cemitérios, o serviço funerário da cidade, o crematório, 16 mercados, 29 terminais de ônibus, o sistema de bilhetes para transporte público e o estádio de futebol do Pacaembu até 2018. 

O meme do dia é o Eike Batista careca. Sem diploma, ele teve que passar por todos os procedimentos da ralé, tendo a cabeça raspada quando foi para a prisão.