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segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Análise do Resultado das Eleições Gerais - 1.º Turno


Chega ao fim mais um emocionante, dramático e talvez o último primeiro turno de uma eleição direta da Constituição de 1988. Logo de cara, para quem estava acompanhando ao vivo as apurações, um medo: Jair Bolsonaro chegou a fazer cócegas nos 50% e o campo progressista correu o perigo de perder de forma acachapante. Agora, porém, sobra-nos a tarefa de conseguir a missão quase impossível de ultrapassá-lo no segundo turno. Mas o que me chama mais a atenção nem é tanto o quadro dramático das eleições do Executivo, mas o que indica o Legislativo.

Houve uma brutal renovação no Congresso Nacional e nas Assembleias Legislativas - brutal no sentido mais Jogos Mortais que se possa dizer: os partidos mais tradicionais da direita, como o PSDB, foram trocados pelo PSL, um partido formado basicamente por militares, policiais, pastores e lunáticos diversos. Os gerentes do coronelato (MDB e "centrão" tradicional) também viram seus nomes serem trocados pelas mais diversas denominações salvacionistas que surgiram nesses últimos tempos que se cerca o apocalipse brasileiro, com especial atenção à ascensão do PSC, Patetas, Fodemos e Partido "Nôvo". As eleições legislativas consolidaram Jair Bolsonaro como o mais novo líder de massas e o PSL como a nova sigla populista - tudo à direita dos limites do bom-senso. Os militares voltaram ao poder a partir do voto, você tem ideia do que significa isso? Significa que estamos fudidos, porque uma vez dentro, difícilmente fora - e não estou falando de reeleições não.

O empréstimo do "carisma" de Bolsonaro garantiu não só a tradicional eleição nepótica dos membros de sua família, mas também a de figuras mitológicas como Arthur Mamãe Falei, Alexandre Frota e Janaína Paschoal. O partido, minúsculo até ontem, irrelevante desde 1998, agora chega ao centro do debate fazendo 52 deputados federais, compondo a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados, um número 52 x maior que a sua atual composição (façam as contas para entender a magnitude desse fenômeno...). No Senado também fizeram a devassa e tomaram o lugar de políticos tradicionais (Lindbergh Farias, Suplicy, Dilma Rousseff, Jorge Vianna e outros petistas foram os que mais sofreram com esse ascenso rápido dos candidatos pró-Bolsonaro). Fez o que a UDN de 1950 sempre sonhara em fazer, mas lhe faltava Whatsapp, memes e teorias de conspiração para excitar os tiozões da classe média.

Estamos testemunhando a entrada de um novo período no qual o lulismo deixa de ser o eixo da discussão e passa o bastão para o bolsonarismo (não mais Lula e Antilula, mas Bozo e Antibozo). Os conservadores não só aumentaram as cadeiras no parlamento, como aumentaram a dose de conservadorismo em cada cadeira que conquistaram. Isso significa que, mesmo que Haddad ganhe, dificilmente ele irá governar, pois com essa gente não tem conversa. Em verdade, provavelmente sequer tomará posse.

O PT errou e muito nesse primeiro turno. Comportou-se mais como advogado de defesa, do que como partido político de trabalhadores; não soube a hora de perceber a realidade da sua falta de potência, não teve a humildade para compor uma aliança secundando o PDT (sou crítico a alianças centristas, mas vivemos tempos extremos: ao menos uma frente desenvolvimentista, na falta de uma de esquerda, para fazer face ao fascismo, era necessário compor e o PT já fez alianças até com o diabo, que atualmente é presidente do Brasil graças a esse vacilo). Chegamos ao segundo turno à sombra do agonizante binômio lulismo/antilulismo, graças à falta de pragmatismo, de senso de realidade e de excesso de orgulho da ainda maior legenda do campo progressista. Este é o triste fado da esquerda brasileira, que não consegue nem compor uma chapa de DCE para fazer o enfrentamento antifascista em épocas sombrias.

O resultado não foi muito diferente do que as pesquisas prenunciavam. O Datafolha indicava Bolsonaro com até 42% e Haddad com até 27%, na vida real ficou 46% a 29%; os votos vieram da velha guarda de direita, Alckmin, Álvaro Dias e da centro-direitista-que-o-povo-acha-que-é-de-esquerda Marina (essa última terminou mais desidratada que Ramsés II mumificado), algo já esperado, pois os eleitores acharam mais seguro tentar eleger os agentes polarizadores logo no primeiro turno. Foi uma tragédia anunciada. Bem anunciada.

segunda-feira, 13 de março de 2017

A entrevista censurada de Eugênio Aragão sobre Alexandre de Moraes

A juíza Cristina Inokuti, da 3ª Vara Cível de São Paulo, determinou no dia 10 que o PT retire de seu site reportagem feita com o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão, em que ele critica a conduta do futuro ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Na sentença, a juíza diz que a entrevista possui "indícios de abuso do direito constitucional de liberdade de expressão e informação" e que as opiniões de Aragão vinculam Alexandre de Moraes "à facção criminosa e ao cometimento de ilicitudes".


A juíza ainda estipulou um prazo de cinco dias para que o partido retire do ar a reportagem, sob pena de multa no valor de R$ 1.000.


Indignado com a censura sofrida, o PT divulgou nota oficial comunicando que irá recorrer da decisão.


A censura sofrida pelo página do PT na internet, a partir de uma ação judicial movida pelo ex-ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, é mais um atentado à democracia perpetrado por integrante do ilegítimo governo golpista que hoje ocupa o poder no Brasil.


É profundamente lamentável, e causa grande preocupação, o fato de que Moraes, recentemente nomeado para a mais alta corte de Justiça do país, tenha mobilizado seus esforços para censurar a opinião do ex-ministro do Governo Dilma Rousseff, Eugênio Aragão, exposta em entrevista à Agência PT.


O Partido dos Trabalhadores irá recorrer contra essa decisão, que lembra os piores dias do regime militar, e continuará lutando pelo retorno do Brasil ao Estado Democrático de Direito, que só acontecerá quando houver novas eleições diretas para a presidência da República.

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Segue a íntegra da entrevista censurada:








sexta-feira, 22 de julho de 2016

Olimpíadas, Golpe e muito mais!


DS 01/2016

A marcha conservadora continua. A crise mundial dá força a quem tem coragem de enganar o mais fraco, o mais ignorante, o qual, ou encontra-se mergulhado na apatia, ou na revolta.

Aqui no Brasil, o golpe tem avançado e o povo tem sido derrotado pela própria desmobilização. As notícias mudaram drasticamente de foco nos jornais, agora só se fala em Olimpíadas. Não se ouve mais o termo composto “pedaladas fiscais”, a não ser quando o PiG anunciou que o Ministério Público Federal afirmou que os retardamentos orçamentários não constitui crime de responsabilidade, reforçando a tese do golpe.

No dia 8, o TRE-PA julgou como ilegais as arrecadações do Deputado Federal Wladimir Costa, o parlamentar do confete que fez carnaval durante a votação do impeachment da Sr.ª Dilma Rousseff. Além disso, o Ministério Público Eleitoral apurou falsificações de documento, as quais a Globo não quis entrar em detalhes em seu noticiário. Isto serve apenas para ilustrar às gerações futuras, que muito custarão para aceitar que o povo tenha sido tão ludibriado, o quanto a nossa sociedade é hipócrita.

Eduardo Cunha, o ex-presidente da Câmara que caiu em desgraça depois de obliterar a Sr.ª Rousseff de seu lugar, está tentando fechar acordo para aliviar a barra para a sua família, depois da cena patética do chororô em sua renúncia, mas o MPF não parece muito interessado em ouvir o parlamentar – pode ser que comprometa gente importante...

A conduta da esquerda tem sido a coisa mais vergonhosa que existe. A briga entre partidos se sobressai a qualquer pauta comum, as agendas colaterais que tanto fragmentam o união se sobressai sobre a agenda principal, o trabalhismo, justamente o que se encontra mais ameaçado com isso tudo. O maior sintoma de que mais uma vez a esquerda irá perder, e será uma derrota nível fascismo nos anos 1930, foram as eleições da presidência da Câmara dos Deputados: primeiramente, PT, PDT e PCdoB lançaram um candidato próprio, Orlando Silva, enquanto o PSOL se arriscou a lançar Erundina. A mentalidade de “oposição à esquerda”, tanto chacotada pelos próprios conservadores, parece não encontrar no pragmatismo uma tentativa de conformar as duas forças progressistas e o que mais falta ao PSOL é justamente o pragmatismo. Trata-se de um partido que nasceu no ressentimento, cuja única preocupação parece ser a oposição ao PT e o ativismo de sofá. Ao que tudo indica, não houve sequer a cogitação de lançar apenas um candidato. Por outro lado, o PT/PDT/PCdoB deveriam ter cogitado apoiar a Sr.ª Erundina no primeiro turno, ou então buscar um acordo com o PSOL, mas a sanha pelo poder inviabiliza isso. Mas o golpe de machado mesmo veio com o apoio do PT a Rodrigo Maia, que votou a favor do impeachment, no segundo turno, quando o moral, o ético, seria eles terem se abstido. E, também, o partido dos trabalhadores não proibiu alianças municipais com partidos traidores. Com isso, fica difícil apoiar a volta da Sr.ª Rousseff.

A principal motivação dos senhores Rui Falcão e Lupi em pensar em estratégias advém do fato de o primeiro achar ser capaz de o Sr. Lula ganhar as eleições de 2018 (se é que elas vão acontecer) e o segundo acreditar no Sr. Ciro Gomes. Eles ainda não parecem ter se dado conta do que está em jogo e também não levaram em consideração que, separados, a esquerda está do jeito que o diabo gosta. Chega desse mote de Lula 2018, ele não vai voltar; o queremismo já não cola mais, as pesquisas indicam que ele se daria bem em primeiro turno, mas sua rejeição é altíssima e é uma rejeição monolítica, imutável, não interessa a campanha que o cara faça. Após 13 anos no poder, o Partido dos Trabalhadores está se convertendo em um partido minoritário e marginal, enquanto toda a conjuntura está sendo devorada pela direita liberal, que tem ganhado mais por demérito do oponente, do que por mérito próprio. E pensar que, há oito anos atrás, o partido chegou a inspirar o mundo com o seu modelo de política e hoje sofre pelas brechas abertas e aproveitadas pelos partidos conservadores, os quais acabaram se tornando a bandeira destes últimos...

Para parte da população, o golpe roubou o entusiasmo das Olimpíadas. Sinto isso pessoalmente, pois, quando era criança, o meu sonho era participar do evento, seja como atleta ou como mero espectador. Agora, no entanto, a vontade tende a zero, uma vez que esses jogos estão manchados com sangue do inocente, sofrimento do pobre e desvio do erário. Sequer os atletas sorriram na foto com o Decorativo. Não é raro o número de pessoas que tentam apagar a tocha, nem a quantidade de cidades que a receberam com cartazes de Fora Temer. Não obstante, isso parece ser o máximo de protesto que os brasileiros têm conseguido fazer.

Agora a nova é pegar árabes para Cristo e tentar forçar o medo do terrorismo na população, como uma justificativa para endurecer o Estado Policial. Com relação a isso, 12 mandados de prisão foram expedidos para supostos terroristas aqui no Brasil, sendo que um cara era criador de galinhas e o outro professor de árabe, que foi monitorado simplesmente por tirar fotos na frente do “estandarte negro”, em sua viagem para o Egito. Tudo bem que o estandarte negro tem virado uma verdadeira suástica islâmica, mas ninguém nunca proibiu os cristãos de usarem cruzeiros, ao menos não depois das cruzadas. O mais legal nisso tudo é que, se a intenção é dotar a população de pânico, o que tem acontecido é justamente o contrário: a troça transforma tudo em comédia.

E para dar menos graça ainda aos nossos Jogos Olímpicos, a delegação russa de atletismo foi banida da competição, por causa de doping, como se não soubéssemos que a maioria dos competidores se dopam. Em última análise, assistir aos jogos é assistir uma competição entre drogados, mas só é lícito se os drogados não forem subordinados ao Putin.


Enquanto isso, na Turquia, houve um Putsch militar que resultou na morte de 240 pessoas. O presidente turco Erdogan convocou a população para defender a democracia, o que frustrou a tentativa de golpe de Estado. O que acontece agora é um verdadeiro expurgo e um endurecimento do Estado Policial – a cadela do fascismo está sempre no cio e parece ter encontrado um cachorro para o cruzo. Cresce a islamização turca, já trazendo clivagens com a mentalidade secular europeia, o que demonstra a fissura há muito escondida entre o dilema euroislâmico que vive aquele país.

Acredito que a situação internacional, com o Brasil incluído, ainda irá piorar muito. O nazismo está de volta.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Análise realista sobre a esquerda brasileira pós-golpe

Após concluído o segundo estágio do golpe de Estado de 2016, o afastamento da Sr.ª Dilma Rousseff da Presidência da República e a sua suplantação pelo ilegítimo Michel Temer, podemos perceber fissuras na esquerda, tanto quanto à defesa de suas pautas, quanto em relação ao destino do governo caso a Sr.ª Rousseff não deixe o cargo definitivamente.

O problema da esquerda sempre foi a falta de unidade e a incapacidade de entrar em acordo interno com seus diversos setores. Muita vaidade advém da ideologia e uma grande parcela dos manifestantes não vivem o que pregam -- são a favor de reforma agrária, mas nunca conversaram com um sem-terra, por exemplo. Outro problema que surge são os tipos de pautas defendidos por cada grupo; não existe um elemento maior que dê coesão a todas as reivindicações, como por exemplo, existem grupos feministas que não se interessam pelos direitos trabalhistas. Não é raro acontecer de um grupo não participar de determinado ato porque, mesmo apoiando inteiramente a pauta, a manifestação foi convocada por fulano de um partido que não é o seu; essa realidade é especialmente verdadeira quando se trata do binômio PSol-PT. Ao final, o que parece é que, ao contrário de pregar a solidariedade, o sonho de determinados oprimidos é ser opressores.

Essas diferenças ficaram ainda mais relevantes depois que Temer entrou no poder. Houve diversas ameaças de trancaços, greves gerais, oposição legislativa com uma frente unida dos partidos interinamente na oposição, mas apesar da retórica e do ódio destilado nas mídias sociais, nenhum molotov voou, nenhum muro foi pichado, e pouquíssimos pneus incendiados. Mais uma vez, os interesses dos partidos em chegar ao poder parece ditar a derrota da esquerda na História de um país. Pior do que isso, o mais triste é perceber o quanto a população simplesmente está desmobilizada. Protestos como "fora temer" escritos na sopa de letrinhas, impressas nas sacolas de pão, parecem ser o máximo que as pessoas estão aptas a fazer. Pode-se diagnosticar que o conservadorismo JÁ triunfou quando se percebe que as pessoas não fazem greve por medo de perder seus empregos ou, pior, serem taxados de vagabundos; quando as pessoas preferem tuítar na conta do Decorativo, ao invés de gritar na praça da cidade. As manifestações de indignação de hoje em dia são completamente inócuas.

Os ativistas se dividem nas seguintes frentes: o PSol apoia que a Dilma volte para convocar eleições, os petistas querem que ela simplesmente volte e termine o mandato; o PDT acompanha o segundo raciocínio, por achar que somente em 2018 o Sr. Ciro Gomes poderá ganhar a presidência e a Rede, que seria a terceira via, apoia o PSol, por achar que a Marina ganharia. 

A pergunta que não quer calar: o que Dilma fará caso reocupasse a presidência? Eis os interesses de cada grupo.

Lula 2018 

O Partido dos Trabalhadores congrega as grandes massas homogêneas de esquerda: operários, petroleiros, agricultores, trabalhadores em geral. A principal meta do partido é conservar o poder em suas mãos, uma vez que a saída da Sr.ª Dilma significa a perda de direitos e de subsídios a estes movimentos. Conformam o grupo que mais sofrerão com a permanência de Temer no poder.

Apoiam-se nos resultados das intenções de voto para 2018, os quais lançam Lula à primeira posição e, também por esse motivo, não querem eleição-tampão. A ideia é simplesmente anacrônica. Lula fez um bom governo, mas é simplesmente incapaz de ganhar uma eleição, mesmo estando atualmente a frente de Marina Silva: o problema está em seu índice de rejeição, que também é o maior de todos e faz com que seja muito difícil arrancar votos dos outros candidatos.

Os dirigentes do PT, valendo-se desse "queremismo" encabeçado principalmente pela CUT e pelo MST, usam o fato como arma de dissuasão para evitar a prisão do líder-mor. A figura de Lula impossibilita que o PT ache alguém carismático o suficiente para substituí-lo, pois todos ficam à sua sombra. No final, o que pode acabar com o partido é justamente sua síndrome de elefante-grande, de ter alguém tão monstruosamente popular que inviabilize o lançamento de qualquer outro. Com isso, a alternativa PT torna-se extemporânea e provavelmente será descartada, uma vez que o interesse de seus correligionários estão se tornando cada vez menos populares e cada vez mais partidários. Ademais, o Lula já está velho e dificilmente terminaria o mandato -- e mesmo que terminasse, não será tão atuante como foi. O vice teria um papel fundamental em seu governo. O ex-presidente também dá demonstrações periódicas de que não lhe agrada tanto assim o fato de se candidatar em 2018.

Por fim, como áudios revelaram, Lula na presidência significa a manutenção do status quo, um pacto entre a velha elite velhaca do PMDB e os integrantes pra-lá-de-enrolados do PT. E sua política de conciliação resultará em mais clivagens entre os interesses dos ricos e dos pobres: trata-se de continuísmo e não de uma revolução.

Cirão das Massas


Parece-me, atualmente, a alternativa mais acertada para a esquerda moderada eleger Ciro. Porém, o que me incomoda são duas coisas: seu discurso altamente moralista (fonte maior da simpatia da classe média) que, apesar de claro e coerente, é forte o suficiente para dar suspeitas de demagogia; e o pior de tudo: sua biografia -- suas amizades e sua "peregrinação" por uma grande parte do espectro político, desde a extrema direita até a esquerda moderada. O fato de ser declaradamente amigo de Ronaldo Caiado, por exemplo, levanta-me fortes suspeitas de que ele poderá fazer medidas de teor populista, simplesmente para agradar alguns setores, manterá um discurso progressista e humanitário, mas guiará as linhas gerais de seu governo nas linhas do mercado. Ciro fala à aristocracia proletária e somente o discurso moralista atinge os mais simples.


Na verdade, suas medidas anunciadas são moderadas demais, parecendo advogar por um capitalismo acessível, desde que isso não vá de encontro com os lucros da elite. O bem-estar do povo será limitado pelo interesse das grandes empresas, pois Ciro Gomes não será um enfrentador de interesses estabelecidos. Tratará de um governo outrossim de centro-direita, e não de centro-esquerda como aconteceu com o Lula. Gosto de seu discurso, mas desconfio dele.

O PDT não apoia o discurso das eleições-tampão e isso demonstra um íntimo alinhamento com o PT e o PC do B. Provavelmente, a intenção por trás disso tudo é formar uma coligação entre os três, em 2018, encabeçando Ciro Gomes como candidato principal e um escolhido do PT como secundário (mas não Lula); os proventos do apoio do PC do B seriam colhidos ainda em 2016, com o apoio pessoal de líderes do PT, tais como Lula, na eleição de Jandira Feghali, no Rio de Janeiro.

PSOL busca protagonismo para ganhar simpatia


O grande problema do PSOL é que eles são alegadamente socialistas, mas encontram-se longe da realidade do pobre, do camponês sem terra e do morador de rua. A imagem do partido é a de uma reunião de indivíduos que apresentam uma identidade de classe média e um viés trotskista de revolução, revelando um perfil burocrático que não fala ao coração das massas. Carecem de uma liderança carismática mobilizadora.


No plano intelectual, discutem o que se quer almejar, mas dificilmente dão uma solução pragmática de como chegarão lá. Na verdade, a posição pessolista é facilmente entendida como um "antipetismo" misturado com pautas de "nova esquerda", que são aquelas outorgadas a grupos dispersos, sem a mencionada coesão que une todos eles -- mulheres, LGBT, negros, etc. A grande característica desses grupos é que eles não são necessariamente de esquerda, no sentido econômico, pois almejam direitos de equiparação social de grupos, não sendo um absurdo, por exemplo, existir uma feminista que seja a favor do neoliberalismo. E, apesar de haver defesas de pautas da esquerda econômica pelos líderes do partido, o ethos partidário não deixa essas questões muito claras.

Diante disso, não é necessário muito esforço para entender o que está por trás do discurso: utilizam a propaganda da volta da Dilma, apropriando-se da tese do golpe, mas sem politicamente desejar que isso aconteça, pois existe grande vaidade por parte  dos dois partidos e a ideologia já não consegue unificar as duas pautas, a não ser em torno do "Fora Temer". O discurso do golpe serve como um palanque eleitoral. Apoiam as eleições presidenciais pois sabem que o PT não conseguiria se reeleger este ano e nada mudará, para eles, até 2018. Como carecem de lideranças de massas, todo púlpito que conseguirem em torno da denúncia do golpe será bem-vindo.

Eleições-tampão


A tese das eleições-tampão é defendida pelo PSOL e pela Rede e sustenta-se pela teoria de que somente isso poderá devolver a legitimidade ao presidente, o que é uma mentira. A legitimidade, em si, é da presidente Dilma Rousseff até 31 de dezembro de 2017. O PT entende que as eleições-tampão é uma legitimação do golpe, uma vez que provavelmente tirará de vez Dilma da presidência, antes do tempo designado. Tampouco isso é verdade, uma vez que somente a vontade popular pode revogar a vontade popular.


Dilma Rousseff sequer quer voltar a governar, não sejamos ingênuos. Ela defende, pessoalmente, novas eleições, para preencher o vácuo entre sua volta e 31/12/2017, pois vê que será impossível governar com o atual Legislativo, mas não toma posição incisiva por causa dos interesses do Partido dos Trabalhadores. Mesmo Lula já demonstrou simpatia pela saída. Tudo porque já é possível antever que sua presença na Alvorada será muito mal vista pelo mercado, ao passo que estará de mãos atadas para promover medidas destinadas ao povo, tanto orçamentária quanto politicamente. Portanto, as eleições-tampão, apesar de interromper o mandato de Dilma Rousseff e criar um precedente perigoso, devolve a governabilidade e pode pelo menos favorecer a classe média -- o pobre vai se fuder do mesmo jeito.

A Rede quer as eleições porque acha possível lançar Marina Silva, mas, francamente, ela não é párea para Ciro Gomes, pois apresenta um discurso frágil, posições soltas e levanta a suspeita de todos os setores, desde a direita até a esquerda. Quem concorreria com Ciro Gomes seria Serra (não é à toa que o Decorativo o presenteou com o Itamaraty) -- que não tem força -- e Bolsonaro, que pode, infelizmente, ganhar a simpatia dos setores de direita com o seu novo discurso de "extrema direita light".

Não é à toa que não existe projeção para o arranjo Ciro Gomes presidente, Lula vice: é porque provavelmente seria a chapa vencedora. Mas além de tudo isso, não adianta nada apoiar um ou outro candidato se não houver mobilização popular, se os ideais da solidariedade não forem resgatados e vividos e se os setores populares e progressistas não vencerem a apatia política, inclusive se filiando a partidos e mudando suas orientações. Ciro/Lula serão sempre Cirão/Lulão das massas de manobra. Precisamos de uma nova aliança da esquerda brasileira.

domingo, 13 de março de 2016

Movimento pró-corrupção


Hoje é o dia que a direita e uns perdidos vão às ruas pedir para acabar a corrupção do PT. Diversos movimentos engrossam os “batalhões”, deixando várias nuances de reivindicações, desde aqueles exigindo a saída da sr.ª Rousseff, outros a saída dela e do vice e novas eleições e alguns, mais exaltados e nostálgicos, pede a volta das Forças Armadas para “acabar” com a corrupção. Porém, o que será que está por trás da cabeça desse povo todo que se revolta?
As motivações são o descontrole econômico e os escândalos desencadeados pela Operação Lava Jato, a qual comprometeu politicamente nomes importantes da cúpula do Partido dos Trabalhadores; no entanto, a mesma Operação citou diversos membros da oposição. Nomes importantes como o do sr. Aécio Neves, senador pelo PSDB, e o do sr. Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, foram citados diversas vezes, porém, não tiveram a mesma atenção pela mídia do que o nome dos outros envolvidos; mesmo assim, tais nomes foram parar nos ouvidos da Opinião Pública e foram sumariamente ignorados.
Quando tais cartazes pedem a saída da Presidenta, sem pedir a saída dos membros da oposição, uma coisa fica bem claro: não se trata de um movimento anticorrupção pura e simplesmente, mas de um movimento contra a corrupção do PT. Quando se pede a volta dos ditadores, isso significa o controle de todas as coisas que influenciam o povo, tais como as instituições que são supostamente independentes – Ministério Público, Polícia Federal, Tribunais de Contas – e a mídia. Controlar essas entidades significa controlar a percepção da Opinião Pública sobre a corrupção. Alguns dizem que, na época da ditadura, não se ouvia falar de escândalos. E não se ouvia mesmo, por um motivo bem óbvio: os mandatários tinham o controle da comunicação e do vazamento desses esquemas perante a população e, como o regime não era democrático, é até válido se questionar se essa corrupção não era sistemática demais para poder criar a mentalidade de que era “legal”. Com a democracia, os valores mudam, e negócios por baixo dos panos não são mais aceitos. Democracia significa transparência. Não é com falta de transparência que se combate a corrupção.
Levantar um cartaz a favor do impeachment sem levantar outro exigindo, de forma difusa, o mesmo tratamento que teve o sr. Lula por parte do MP com relação às investigações para os srs. Aécio Neves, FHC, Eduardo Cunha, significa dizer que o que incomoda é a corrupção do PT e não a corrupção generalizada. “Mas, para limpar a casa, tem que começar com alguém” – essa é a maior falácia que os políticos passa para que a Opinião Pública engula essa história. Para os amigos, tudo; para os inimigos, a lei. As coisas não podem ser assim. Levantar placa em prol da saída da presidente por causa da corrupção, na situação que se encontra o país, onde TODOS parecem ter o rabo preso, não é um movimento anticorrupção, mas uma forma de legitimar obliquamente a corrupção dos outros. O certo a se fazer, se a população quisesse mesmo tirar os corruptos do poder, era combater a todos e, durante a manifestação, assegurar-se de que, enquanto as operações fossem lançadas, a lei fosse cumprida a cada momento e a todos sem distinção. Fazer a lei valer apenas para alguns, às vezes indo além-da-lei (praeter legem), como aconteceu com a condução coercitiva e a prisão preventiva do sr. Lula, é uma forma de corrupção; e as pessoas que vão para as ruas ratificar tais atos não são menos corruptos que os políticos que estão sendo preso. A voz do povo nem sempre é a voz de deus.