Infelizmente, a terceira temporada de Narcos não conta com o pitoresco castelhano aportuguesado de Wagner Moura e, com a saída do grande herói/vilão, Pablo Escobar, muitos olharam com desconfiança o que estaria por vir. Não obstante a temporada não deixou nada a desejar, tanto em termos de produção e de suspense, quanto de profundidade.
A nova temporada da série conta a história da queda do Cartel de Cali, que conseguiu a primazia sobre o negócio da cocaína depois da morte de Pablo Escobar. Tudo começa com a promessa de rendição por parte de Gilberto Rodríguez e a caçada por parte de Javier Peña contra os quatro godfathers do narcotráfico. Os produtores procuraram explorar as falhas da “guerra às drogas”, deixando para trás o centralismo em torno de um narcotraficante, o que mostra que o tráfico não tem cara - ao se tirar um, outro tomar o lugar. O personalismo é deixado de lado e o problema começa a ser visto através da lógica corporativista.
Algo que também é retratado é a leniência do governo dos Estados Unidos com relação ao real problema - durante toda a trama, Peña vai ter que realizar suas operações a contragosto da Embaixada e do governo de seu país, cujos interesses mediatos são mais escusos do que se pode imaginar à primeira vista. E tudo isso tem um motivo: o narcotráfico nada mais é do que apenas mais um negócio lucrativo no mundo capitalista. O objetivo não é acabar com o mercado, mas controlá-lo de forma a estabelecer oligopólios. Assim como acontece com outros mercados, o processo vai interferir da democracia - algo não muito diferente do que acontece pelas terras tupiniquins quando vemos helicópteros e aviões de senadores e deputados abarrotados de cocaína e nenhuma punição. Tal aconteceria ao Cartel de Cali se não fosse a intervenção da Peña para mobilizar a opinião pública colombiana, colocando o presidente contra a parede.
Além de uma eficiente fonte de financiamento para campanhas, a promiscuidade dos grandes comerciantes de drogas com a democracia serve para legitimar um discurso, o da segurança nacional e, dessa forma, viabilizar o controle social e consequente limitação do gozo dos direitos políticos. No seriado, isso é retratado quando a história esbarra no escândalo de corrupção de Ernesto Stamper, presidente do país, que recebeu dinheiro do Cartel de Cali para se lançar à cadeira executiva colombiana, numa celeuma que ficou conhecida como Processo 8000.
Porém, para os detentores de poder, enquanto houver lucro, haverá o braço curto em se resolver o problema e todos se gostam. Tanto é verdade que, mesmo sendo público e notório que o narcocandidato Ernesto Stamper de fato recebeu o dinheiro sujo do narcotráfico para conseguir chegar à presidência, nenhuma punição foi aplicada e o pior, em verdade o ex-mandatário foi premiado nos dias atuais com a Secretaria-Geral da Unasul, o órgão decisório mais importante do continente sul-americano. A coisa fica ainda mais feia quando vem à tona que Stamper é um arauto dos interesses norte-americanos e a Unasul foi criada justamente para confrontar o imperialismo deste no continente em questão, com aptidão para ser uma alternativa à Organização dos Estados Americanos.
Porém, para os detentores de poder, enquanto houver lucro, haverá o braço curto em se resolver o problema e todos se gostam. Tanto é verdade que, mesmo sendo público e notório que o narcocandidato Ernesto Stamper de fato recebeu o dinheiro sujo do narcotráfico para conseguir chegar à presidência, nenhuma punição foi aplicada e o pior, em verdade o ex-mandatário foi premiado nos dias atuais com a Secretaria-Geral da Unasul, o órgão decisório mais importante do continente sul-americano. A coisa fica ainda mais feia quando vem à tona que Stamper é um arauto dos interesses norte-americanos e a Unasul foi criada justamente para confrontar o imperialismo deste no continente em questão, com aptidão para ser uma alternativa à Organização dos Estados Americanos.
Ao final da temporada, vem à luz o fato de que a Embaixada já sabia de todo o esquema e o ignorava com a desculpa da não intervenção nos assuntos internos, quando na verdade os cartéis já estavam arraigados inclusive em suas entranhas democráticas. Para o capital, a Guerra às Drogas não é um fracasso, mas sim um puta case de sucesso, algo que gera uma demanda infinita por segurança.
Mas, se o discurso da erradicação das drogas pela repressão cai tão bem ao senso comum, por que ele não funciona na prática? A resposta encontra-se no fato de que, movimentando o volume de dinheiro que se movimenta, os narcotraficantes podem comprar todo o aparato do Estado para defender seus interesses - juízes, parlamentares e, no caso, até presidentes. A criminalização do usuário (algo que não foi abordado ainda em Narcos) é algo ainda pior, pois transfere todo o ônus para aquele que é vitimado pela realidade material das drogas, que acede a essa realidade por inúmeros caminhos, desde a pura irresponsabilidade juvenil até o escapismo da péssima vivência em que se encontra - não à toa, os usuários que incomodam a opinião pública encontram-se marginalizados nas ruas e nas favelas.
Após as investidas da DEA e da Embaixada estadunidense no país sul-americano, (portanto, depois de terminar o seriado) a história real continua com o presidente Pastrana defendendo um “Plano Marshall” para desenvolver o país e assim lidar com o problema das drogas. O resultado foi o Plano Colômbia, colocado em prática nos governos Bush e Obama, que nada mais é do que uma desculpa para a presença militar ianque na América do Sul, com o objetivo não só de desmantelar as FARC, mas de ter poder de barganha nas relações internacionais contra os interesses sulistas - uma sutil diplomacia do porrete.
Narcos termina com uma crítica a esse tipo de política e apresenta a solução mais plausível: não faz sentido reprimir o comércio de drogas sem atuar pesadamente na prevenção e recuperação do usuário.
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