Highlights do Depoimento do Ex-Presidente Lula à Polícia Federal – Parte 1 e 2
O ex-presidente Lula foi conduzido coercitivamente para depor à Polícia Federal no dia 04 de março de 2016 a partir de mandado expedido pelo juiz federal Sérgio Moro. A transcrição do áudio foi disponibilizada pelos veículos de imprensa e não me pergunte sobre a legalidade da disponibilidade de tal documento, uma vez que o processo corre em sigilo de justiça.
A seguir, vou resumir alguns dos pontos importantes e outros cômicos, para que os senhores entendam o porquê esse documento é o mais porreta dos últimos anos da história brasileira. Com vocês, Luiz Inácio Lula da Silva e o Delegado de Polícia.
Instituto Lula
Primeiramente, o sr. Lula foi questionado sobre a fundação e a natureza do Instituto. Ficou patente que a matemática não é o forte tanto do sr. Lula quanto do delegado de polícia, os quais afirmaram que 15% da população havia saído da pobreza absoluta, “ou seja, ¼ da população total do Brasil”.
Afora esse pequeno pormenor, o ex-presidente informou que o Instituto se mantinha por doações sem contrapartida. Ressaltou que era apenas o presidente de honra e que não autorizava as despesas da fundação, que isso ficava a cargo do sr. Paulo Okamotto e da diretoria.
O homem foi acordado às 6 horas e precisa de café
O sr. Lula se sentiu à vontade para pegar um cafezinho por conta.
Declarante:Vou pegar um café aqui, deixa eu pegar um café.
Delegado da Polícia Federal:Isso. Se o senhor quiser, vamos ajudar, vamos colocar o cafezinho aqui mais perto da gente, para a gente também poder se servir.
Declarante:Qual era a pergunta?
Algumas vezes as declarações foram um tanto complexas de se entender...
Delegado da Polícia Federal:Há 5 anos atrás, quem tinha essa função de pedir doações a empresas em nome do Instituto Lula?
Declarante:Sempre o diretor financeiro.
Delegado da Polícia Federal:Cinco?
Declarante:Sempre o diretor financeiro.
Delegado da Polícia Federal:Quem foram os diretores financeiros nos últimos 8 anos?
Declarante:Nos últimos 8 anos, não tinha diretor financeiro nos últimos 8 anos.
Depois ele deu uma aula sobre dízimo
Delegado da Polícia Federal:É comum as empresas procurarem espontaneamente o Instituto Lula para oferecer doações?
Declarante:Não. Aliás, eu não conheço ninguém que procura ninguém espontaneamente para dar dinheiro, nem o dízimo da igreja é espontâneo, se o padre ou o pastor não pedir, meu caro, o cristão vai embora, vira as costas e não dá o dinheiro(...)
Sobre as doações ao Instituto Lula
O ex-presidente afirmou que não mexe com a parte financeira do Instituto e que, aliás, nunca tinha mexido. Aliás, se houver uma auditoria sobre quem gastou o dinheiro do supermercado, ele também fará questão de não saber quem foi:
Declarante:Nem no instituto e nem em casa eu cuido disso, em casa tem uma mulher chamada dona Marisa que cuida e no instituto tem pessoas que cuidam.
Delegado da Polícia Federal:O senhor não faz nem ideia?
Declarante:Não faço ideia.
Delegado da Polícia Federal:De quanto entra em dinheiro?
Declarante:E faço questão de não fazer ideia.
Só sei que nada sei
Vários questionamentos foram feitos pelo delegado sobre o emprego desse dinheiro e sobre as doações. Lula foi categoricamente socrático:
Delegado da Polícia Federal:Como são destinadas e aplicadas essas doações?
Declarante: Não sei.
“Aquela região do crack lá...”
Delegado da Polícia Federal:Existe algum museu sendo construído, reformado?
Declarante:Teria se o Ministério Público tivesse deixado, porque nós entramos com o pedido, o Kassab nos deu um terreno ali próximo à região da Estação da Luz, onde está fazendo... Aquela região do crack lá, a cracolândia, o Kassab nos deu o terreno que a gente queria fazer o Memorial da Democracia, o Ministério Público de São Paulo entrou com um processo e está suspenso até agora, então não tem; eu pensei em levar para a universidade, mas aí resolvi deixar lá.
G4 Entretenimentos
O senhor Lula admitiu saber que seu filho Fábio era sócio da G4 Entretenimentos, mas disse não saber como funcionava: “cada um cuida do seu nesse país”. É interessante notar que, durante todos os interrogatórios e pronunciamentos a que foi obrigado a se posicionar sobre os negócios escusos de outrem, o ex-presidente sempre procurou demonstrar apatia sobre o funcionamento dos meios da coisa, demonstrando que dá ampla autonomia a quem executa, importando-se somente com os fins. Escusou-se também no caso do mensalão. Com relação à corrupção alheia, o seu posicionamento sempre foi o mesmo, sempre foi o do “cada um cuida do seu nesse país”. Com relação à empresa de seu filho, Lula foi novamente socrático.
Declarante:Não sei, querido.
Flex BR Tecnologia
Sobre a empresa acima citada, o presidente demonstrou pela primeira vez indignação no depoimento:
Delegado da Polícia Federal:O senhor conhece a empresa Flex BR Tecnologia Ltda.?
Declarante:Essa eu faço questão que você conheça.
Delegado da Polícia Federal:Eu não conheço.
Declarante:Eu não conheço, quero que você conheça, eu não conheço, quero que você vá conhecer.
Delegado da Polícia Federal:Por quê?
Declarante:Porque é uma peça de ficção, eu não conheço, não sei onde fica, eu sei que vocês estão investigando ela porque eu vi no relatório, Deus queira que vá muita gente da Polícia Federal lá para ver, e ver o que ela já produziu na vida.
Delegado da Polícia Federal:O senhor acha que é positivo ou negativo o que ela produz?
E ainda pediu um atestado de boa-fé
Declarante:Não, deixa vocês investigarem que é melhor. Eu só espero que depois que investigarem me deem um atestado de estar dizendo a verdade sobre cada coisa, só isso.
(...)
Declarante:Você perguntou da, da...
Delegado da Polícia Federal:Camargo Correa...
Declarante:Da Camargo Correa, eu disse que a imprensa já deu que a Camargo Correa tinha doado dinheiro para o instituto e disse que ela doou metade do que doou para o Fernando Henrique Cardoso, o restante...
Ou seja, se o Lula tem rabo preso com a Camargo Correa, o FHC também tem. É bom guardar esse fato para lembrar-nos conforme for a apuração.
Lula se preocupa com o sono de seu advogado
Declarante:[Ao delegado] Não entendi a pergunta. [Ao advogado] Dormiu pouco essa noite?
Defesa:Não, dormi bem.
E em seguida, a larica bate
E eles estavam tratando sobre as doações duvidosas de empresas para o Instituto Lula.
Declarante:O que vocês têm aqui para comer?
Delegado da Polícia Federal:Não, pode dar uma olhadinha aí, pode abrir, o que achar que é bom...
Defesa:O pior é que tem os outros todos olhando aí...
Delegado da Polícia Federal:Não, a gente tomou café, o expresidenten o fim saiu sem café e tem todo o direito aí de se alimentar.
Defesa:E pode parar se quiser.
Declarante:Eu não[,] quero só um pãozinho.
Delegado da Polícia Federal:Então vou aproveitar para pegar um cafezinho também.
Declarante:Então eu vou escolher o misto quente.
Defesa:Deveria ter pego outro.
Declarante:Não, é a mesma coisa, vou comer um misto quente... O senhor quer?
Defesa:Não, obrigado.
Mais uma vez, o senhor Lula se importa com a saúde do seu advogado. E ainda ofereceu pão de queijo pra geral.
Declarante:O senhor tomou café em casa?
Defesa:Comi alguma coisinha no caminho.
Declarante:Tem pão de queijo aqui, olha, quem quiser pão de queijo.
Delegado da Polícia Federal:Acho que trouxeram para todos.
Declarante:Não, foi para todos, não foi só pra mim.
E ainda avisou que sabe falar de boca cheia
Defesa:Está desligada, né?
Delegado da Polícia Federal:Não.
Defesa:Mas só lembrar o seguinte, continua ligado isso daqui. [advogado esperto]
Declarante:Se quiser continuar, pode continuar, eu sei falar de boca cheia.
Delegado da Polícia Federal:Não, não, eu só não quero atrapalhar o
seu café.
Declarante:Na fábrica a gente trabalhava em horário corrido, você tinha meia hora para comer, então era uma desgraça, você comia falando, então...
Defesa:Quem tirou tanta gente da miséria tem direito a comer também.
Delegado da Polícia Federal:É verdade.
Paremos para ver a última afirmação do Delegado. Ele poderia estar concordando para criar vínculos com o acusado e assim conseguir alguma declaração reveladora. No entanto, ao longo da entrevista, o delegado demonstra uma ligeira empatia com o ex-presidente, não representando tal afirmação um evento pontual. Voltarei a salientar as outras manifestações do Delegado, quando for tempestivo.
Durante o café, o advogado pergunta sobre a carta precatória do juiz Moro, que nunca chegou às mãos do senhor Lula. Caso realmente não tenha havido expedido essa precatória, a condução coercitiva do senhor Lula foi completamente desproporcional e todo o interrogatório pode ser anulado, pois meios ilícitos geram provas ilícitas (teoria da árvore dos frutos podres, ou algo do tipo), beneficiando o réu. O delegado afirmou desconhecer tal precatória, e mostrou que somente tinha o mandado de intimação encaminhado a ele, por e-mail. O Ministério Público faz uma intervenção para explicar sobre a intimação do senhor Lula, mas o advogado levanta a lebre que a precatória já havia sido cumprida, sem conhecimento do réu, o que levantava certas suspeitas na defesa.
José de Filippi Junior
O ex-presidente Lula confirmou que tinha uma relação partidária e uma boa relação pessoal com o senhor José de Filippi Junior. Confirmou que ele foi o responsável pelas doações à campanha presidencial e que havia sido diretor, podendo inclusive ter pedido doações ao Instituto Lula ao longo do ano de 2006. Afirmou que o senhor José nunca teve relação com a LILS palestras.
99% certeza. Mas aqueles 1%...
Delegado da Polícia Federal:Isso o senhor afirma com certeza?
Declarante:Tem 99% de possibilidade que ele nunca tratou disso.
Delegado da Polícia Federal:Pelo menos com a sua autorização?
Declarante:É.
Delegado da Polícia Federal:Em relação à LILS?
Declarante:Nunca, eu nunca fui fazer uma palestra a convite do Fillipi.
E ainda explicou de forma realista como funciona uma candidatura à presidência
Declarante:Deixa eu lhe falar uma coisa, um Presidente da República que se preze não discute dinheiro de campanha, se ele quiser ser presidente de fato ede direito ele não discute dinheiro de campanha.
Se é taxi ou uber, o que eu tenho a ver com isso???
Delegado da Polícia Federal:O senhor sabe se o José Fillipi costuma usar um serviço de táxi com o mesmo taxista?
Declarante:Serviço de que?
Delegado da Polícia Federal:Táxi, táxi...
Declarante:Eu não sei, querido.
Delegado da Polícia Federal:Não sabe se ele anda de táxi?
Declarante:Não sei.
Delegado da Polícia Federal:Sabe se tem algum taxista que é amigo dele?
Declarante:Não sei, não sei.
Delegado da Polícia Federal:Não?
Declarante:A nossa amizade não chega a tanto.
Delegado da Polícia Federal:Por isso que eu perguntei qual era a sua relação com ele, o senhor disse que era uma relação boa...
Declarante:Como é que eu vou saber como ele anda?
Rogério Aurélio Pimentel
O senhor Lula confirmou que o senhor Rogério era segurança da presidência, mas negou ter conhecimento de qualquer envolvimento dele com o Instituto Lula.
Paulo Cangussú André
O ex-mandatário da república confirmou que existia um menino que trabalhava com Okamotto com esse nome, que seria o responsável para viabilizar as viagens do declarante em suas palestras. Explicou que as palestras que ficavam a cargo do Instituto Lula eram gerenciadas por ela e que a LILS se responsabilizava apenas pelo serviço em si. Em seguida, demonstra certa beligerância contra a Lava Jato e a Polícia Federal:
Delegado da Polícia Federal:E a receita dessas palestras vai para o instituto ou para a LILS?
Declarante:Ela fica na LILS e vai ser utilizada quando todas as empresas que vocês estão destruindo nesse país não puderem contribuir mais financeiramente, o dinheiro vai ser utilizado para manter o instituto.
Declarou que a senhora Clara Ant era a secretária de seus negócios, melhor dizendo, sua assessora, e que o senhor Paulo André cuidava apenas da infraestrutura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário