sexta-feira, 17 de junho de 2016

História do Brasil. O Processo de Independência: A situação política e econômica europeia

A independência americana influenciou o pensamento dos revolucionários franceses, que colocaram fim na França Absolutista e fundaram a República. Prenderam e executaram Luiz XIV, o que fez com que os monarcas europeus olhassem com grande preocupação sobre o que acontecia na França e a tendência à contraposição era natural. O império austríaco, os reinos de Sardenha, Nápoles, Prússia, Espanha e Grã-Bretanha formaram uma coalizão, com o ímpeto de frear a Revolução, numa tentativa de conservar o status quo. O interesse espanhol era dinástico: seu trono era comandado por um Bourbon. Os franceses levaram sua população à guerra total.

La Marseillaise, mais do que o Hino Nacional Francês, é o canto da Revolução Francesa, par excellence

O conflito contra a primeira coalizão terminou quando Napoleão derrotou  os austríacos na Itália e chegou às portas de Viena. Foi assinado o Tratado de Campofórmio. Em 1798, uma segunda coalizão colocou praticamente toda a Europa contra a França Revolucionária.A situação dentro do país era a pior possível: a economia estava péssima, havia fome e privações. A corrupção tomava conta do governo de Diretório. Napoleão, enquanto isso, dava tiros no Egito e descobria algumas múmias. Quando retornou à França, deu um Golpe de Estado (18 Brumário), dissolvendo o Diretório e instaurando um Consulado, sob o comando napoleônico. Reorganizou o exército. Em todas as frentes, os franceses empurraram a coalizão, fazendo os Habsburgos assinarem o Tratado de Lunéville, quando de sua perda. Isolada, a Inglaterra teve que assinar o Tratado de Amiens.



Era o fim da guerra defensiva. A partir daí, a Revolução toma ares expansionistas - era o início das guerras napoleônicas. Napoleão se coroou imperador e presidente da República Italiana (um estado fantoche criado pelos franceses); fundaram também a República Helvética, nos territórios suíços. Tratava-se de uma situação irreversível, muito embora, após a deposição de Napoleão, a população, e mesmo os homens de Estado, pensassem que estivessem restaurado o status quo ante. A ideologia já havia adentrado no DNA do mercado e no modus vivendi das pessoas, sem elas se darem conta.

Devido a grandes desentendimentos entre franceses e britânicos, começou uma guerra, em 1803 que durou até 1814. Foi preciso criar cinco coalizões para vencer os revolucionários.  Cabe lembrar que, apesar de se chamar de guerras napoleônicas, quem declarou foi a Inglaterra, com medo de ser excluído da hegemonia mundial. O que é importante para o processo de independência brasileira? Primeiramente, no plano ideológico, como já disse: a independência americana influenciou a Revolução Francesa, também influenciando pequenos círculos maçônicos cá no Brasil. Depois, com os levantes, a própria ideia de nação veio à tona e vários questionamentos a respeito da monarquia absolutista dos Braganças. Começou a haver, com cada vez mais frequência, conspirações locais para se libertar do poder real, que foram inócuas, de uma forma geral.

Para isolar a Grã-Bretanha, Versalhes lançou mão do Bloqueio Continental. A intenção era estrangular a economia inglesa. Para aceder a esse objetivo, no plano ibérico, fazia-se necessário ocupar a Espanha e Portugal, que estava neutro na guerra. Então, os franceses lançaram a frente oeste e, a muito custo, conseguiram ocupar o território espanhol, vencendo a Guerra Peninsular. A investida fez Carlos IV e Fernando VII abdicarem e o afrouxamento das relações com suas colônias fez com que os colonos tomassem conta da administração das municipalidades, ainda em nome de Fernando. Não durou muito até que alguns percebessem que as rédeas soltas eram propícias para a independência e desencadeou-se uma sangrenta e complexa luta, que durou décadas.

A Inglaterra, interessada no novo mercado que surgiria com a emancipação das colônias, proibiu quaisquer de seus aliados de ajudarem as metrópoles militarmente. Era um jeito de fugir do Bloqueio Continental, inclusive.

A sublevação hispano-americana certamente influenciou os colonizados brasileiros: a possibilidade de independência existia. No entanto, no Brasil, o pacto colonial era bem mais frouxo e havia uma maior mobilidade social, o que gerava um descontentamento muito menor. Para os metropolitanos, a coisa estava feia: as tropas napoleônicas marchavam às suas portas. Tendo o medo de um levante colonial e mais medo ainda de ser destronado, D. João VI resolve mudar a capital de seu reino para o Brasil, o que acaba por afrouxar ainda mais o pacto colonial. Medidas como a revogação do Alvará de D. Maria, a louca, que proibia as manufaturas e a abertura dos portos comprovam essa tendência.

Com a deposição de Napoleão, cria-se um vácuo de poder em Portugal e uma revolta de cunho liberal toma conta da cidade do Porto, forçando a família real a voltar para a Europa. Os portugueses, em Assembleia, queriam o retorno dos grilhões coloniais e a insatisfação brasileira fez desencadear o processo de independência.

A situação econômica europeia nas Guerras Napoleônicas

O que motivou a Revolução Francesa foi a fome das más colheitas e os pesados tributos que foram majorados pela Corte para bancar os custos da Guerra dos Cem Anos (contra a Inglaterra) e da Guerra de Independência dos Estados Unidos (por pura revanche aos ingleses, apoiou os americanos). No decorrer da revolução, a situação econômica somente piorou, devido à corrupção do Diretório, que tornava tudo ineficiente, e aos custos de guerra para fazer valer a República.

Enquanto isso, na Inglaterra, a Revolução Industrial estava a pleno vapor e o país era esmagadoramente mais eficaz em mobilizar sua economia para seus esforços de guerra. A indústria nascitura foi capaz de produzir em larga escala, enquanto a França precisava, e muito, economizar e mobilizar trabalho voluntário. A cadeia produtiva da Inglaterra poderia ser facilmente desviada para a guerra, enquanto a França precisava praticamente entrar num estado de guerra total para mobilizar o necessário à administração bélica.

Já Portugal era abastado. O rei nadava no ouro arrecadado de Minas Gerais. Porém, tinha uma estrutura econômica antiquada e pouquíssima indústria para fazer face ao eficiente exército napoleônico, o qual gozava de imenso moral. Com a primeira invasão de seu país, mudou-se para o Rio de Janeiro. O Tratado de Methuen, assinado com a Inglaterra, no entanto, drenava para o exterior grandes somas de ouro. Quando cá chegou, assinou os tratados desiguais, vendendo sua economia aos ingleses a troco de proteção, em uma forma muito semelhante à "indústria de segurança" que os Estados Unidos promovem nos dias atuais. O Brasil era responsável por três quartos de sua economia e foi elevado à condição de Reino Unido em 1815; o peso econômico no PIB português era grande demais para a elite colonial simplesmente acatar a ideia de voltar ao estatuto de colônia. Entre 1808 e 1822, Portugal experimentou uma grande deflação. O quadro de crise e o vácuo de poder fez eclodir a Revolução do Porto, de caráter liberal, forçando D. João a voltar para a metrópole. Lá chegando, viu-se obrigado a tirar o poder do príncipe-regente e este viu-se obrigado a proclamar a independência do Brasil.






Nenhum comentário:

Postar um comentário