Amanhã (23/06/2016) deverá acontecer um anúncio público, reunindo Antonio Lozada (FARC), Juan Manuel Santos (presidente da Colômbia) e Ban Ki-Moon (Secretário-Geral da ONU), entre outras autoridades, sobre o armistício bilateral. As autoridades acreditam que o acordo definitivo poderá ser firmado no dia 20 de julho. O conflito armado é o mais antigo da América do Sul e os objetivos dos insurgentes é, em linhas gerais, criar um estado socialista e realizar reforma agrária. Desde 1964, o conflito já ceifou mais de 220 mil vítimas.
As perguntas que ficam no ar são as seguintes:
1) Qual que é o destino político das FARC? Eles virarão um partido político? Acredito que não, uma vez que é muito mais interessante se eles se envolverem com política de bastidores. Certamente virarão um lobby na realidade do país.
2) O tráfico de drogas diminuirá? A resposta para essa pergunta talvez seja a mais acertada: Não.
Afirmo que o acordo de paz não acabará com o problema das drogas, pelo menos com relação ao marketshare das FARC, porque este acordo não veio do nada e dificilmente deixariam um negócio tão lucrativo como esse simplesmente em nome da "paz". Na verdade, o fim das atividades de guerrilha sinaliza uma sofisticação do mercado das drogas, algo semelhante ao que aconteceu com o PCC (Primeiro Comando da Capital), a qual pode ser verificada com a promiscuidade do interesse criminoso com o interesse público -- no caso do governo de São Paulo, há um acordo tácito entre os traficantes e o Estado no qual os primeiros promovem a segurança da população, de forma draconiana, e tem assegurado pelo segundo a não interferência nos seus negócios escusos. Muitos homens de Estado lucram com esse arranjo e não acredito que o caso do Sr. Geraldo Alckmin seja diferente, basta lembrar que seu Secretário de Segurança Pública era advogado de membros do PCC. Com as FARC, provavelmente aconteceu a mesma coisa.
3) A influência americana diminuirá?
Os gringos sempre acharam que a América do Sul é o quintal deles. No caso colombiano, o Bushzinho fez um acordo internacional com o presidente na época, Uribe, para criar bases militares e combater o narcotráfico. Mesmo com tanto afinco que os americanos mostram trabalhar para pôr um fim no tráfico de drogas na América (que forma uma cadeia única), nenhum grupo "narcorrevolucionário" foi desmantelado, embora a presença americana fosse crescente no subcontinente desde então.
O que chama a atenção no caso das FARC é o fato de o mediador do acordo ter sido Cuba e o cessar-fogo não haver contraprestação por parte do governo. Seria isso uma forma de entreguismo? Certamente que não. Os colombianos estão "a salvo" do comunismo, mas pagarão a estabilidade social em gramas de pó -- para o governo, é fair enough.
O acordo foi feito sob os auspícios da ONU, que não faz nada de substancial se os cinco membros do Conselho de Segurança não tiverem de acordo, mesmo que seja no âmbito de suas competências "autônomas" -- é a realidade atômica que dita sua posição no mundo. Portanto, há anuência dos Estados Unidos em terminar essa guerra contra as FARC, o que causará o pretexto incômodo de tirar seus marines da América do Sul; não obstante, tenho certeza que os yankees ficarão satisfeitos se trocarem a onerosa presença militar pelo lucrativo livre comércio e um gentlement settlement certamente foi feito nos bastidores, um ajuste que envolve Colômbia, Estados Unidos e a sua mais nova amiga, Cuba.
Ironicamente, nada impulsionou mais o neoliberalismo no norte da América do Sul do que o Exército Popular das FARC.
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