sábado, 21 de março de 2020

Dia 0 - Diário de Quarentena - Coronavírus

Dia 0


Ribeirão Preto, 15 de março de 2020

Há quatro dias a USP registrava o seu primeiro caso de coronavírus, Thiago, um aluno da FFLCH. O Departamento de Geografia tratou o caso com extrema leniência e avisou que não iria suspender as aulas; porém, a pressão foi maior e a FFLCH suspendeu as aulas por 1 dia, retornando no dia seguinte.

De acordo com o aluno infectado, na primeira vez que ele foi no HU, foi tratado com desdém pelos enfermeiros, dizendo que as pessoas estavam em histeria coletiva. Na verdade, ninguém estava se importando muito com a PANDEMIA de Coronavírus, que havia sido decretada com total atraso pela OMS, dois dias depois da infecção do aluno. O caso, porém, já havia feito estragos na China, Coreia do Sul e Irã, e já começava a deixar um rastro de morte na Itália. A USP seguiu a linha do governo Bolsonaro de dizer que não era motivo para pânico para não gerar histeria.
No dia 9, a Arábia Saudita aumentou drasticamente o volume de produção de petróleo e as bolsas derreteram. O gesto era um enfrentamento à Rússia, que não queria diminuir o volume de produção de hidrocarbonetos. O pânico foi agravado pelo aumento de casos de Coronavírus no mundo. No dia seguinte, a Itália bateu recorde no número de mortes mundiais pela doença, deixando para trás o Irã e a China. O mundo, de maneira geral, ficou em choque, mas, no Brasil, as pessoas seguiam a sua vida e faziam piada (como sempre) da situação

O ponto de virada foi quando o Fábio Wajngarten, da SECOM, foi confirmado como positivo para Coronavírus. Outros da comitiva presidencial começaram a sentir alguns sintomas e ele - Jair Bolsonaro - precisou fazer o teste do coronavirus. A ironia disso tudo é que Wajngarten teria contraído a doença um pouco antes de se encontrar com Donald Trump e teria contagiado todo mundo.

Pela internet, Bolsonaro convocou seu rebanho para o ato do dia de hoje; Eduardo informou à Fox que o teste de seu pai havia dado positivo, mas depois que o furo saiu, voltou atrás e envergonhou o Brasil dessa vez nos Estados Unidos. Era uma jogada para desacreditar a imprensa, mais uma vez.
O meu motivo de tentar escrever esse diário de quarentena é que, já no dia 10, eu sabia que tudo iria sair do controle. Quem sabe um pouco de matemática e o mínimo de política não precisa de muito para ligar lé com cré.
Fizemos uma reunião ainda no dia 13, no sintusp, para pressionarmos a USP a nos dispensar das funções na segunda-feira, em razão da contaminação do aluno da FFLCH. Nada foi feito
Tive contato com uma docente que veio da França, país extremamente contaminado, na quarta-feira. Ela deu um bolo para a uma funcionária próxima para comemorar o seu aniversário. Cumprimentei-a à brasileira; não sabia que ela havia voltado da França. Achei-a irresponsável.

Fiz duas reuniões para tratar do assunto do coronavírus, como representante dos funcionários: uma com o Diretor, para demandar a difusão de informações sobre a doença, a colocação de álcool gel em todos os relógios de ponto e o afastamento sumário de um funcionário que estava na Espanha e de qualquer funcionário que voltar do exterior, por pelo menos quatorze dias, sem prejuízo dos vencimentos, tanto com o Assistente, quanto com o Diretor. Os dois me deram garantias que eles não pisariam no ambiente de trabalho

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