terça-feira, 24 de março de 2020

Dia 8 - Diário de Quarentena - Coronavírus

Patrícia Reis:
"Diário de bordo dia 23 -03 2020

Hoje acordei mais tarde ainda, como eu sabia que as galinhas estariam sem ração desde ontem, em primeira mão olhei uns vídeos para saber como sair de casa. 

Usei álcool  líquido, máscara e na volta deixei as roupas do lado de fora e fui direto ao banho.

Nas ruas pouquíssimas pessoas, não achei nada aberto, encontrei somente o Falcão aberto e agora estão vendendo ração e sementes. 

A Ivone arrumou o balcão fechando a área livre da loja, sendo que o cliente não precisa entrar, achei bem responsável por parte dela. 

Todos estamos apreensivos, dá para notar pelo semblante das pessoas. 

Ao sair tinha uma mulher e uma menina que deve ser filha, a criança deve ter uns seis anos, ela veio me pedir trocado para comprar arroz. Eu perguntei onde ela mora e ela apontou o barracão que existe na beira da quadra, ela tem um carrinho de lanche que está escrito uma frase do tipo, de família, e eu doei um trocado. Fiquei pensando o que será dessas famílias tão desamparadas, a margem de qualquer resquício de dignidade de vida. 

As ruas vazias fica mais cômodo de dirigir. 

Enquanto as ruas estão quietas, a internet não. Voldemort é como me refiro a esse crápula que outros denominam presidente, fez uma medida provisória dando direito aos empregador de suspender um empregado que ficar em casa sem pagar o salário, a tarde já revogou, nunca vi uma medida provisória ter vida tão curta. Porém, ainda é uma múmia que fica fazendo briguinha imbecil que só prejudica a nossa sociedade brasileira. 

Assim que cheguei em casa dei ração para o Titi e a Cocó, estavam tão famintos que comeram o milho na minha mão. 

Depois que tomei banho fiz uma refeição a base de grãos e feijão, comi e fiquei assistindo a TV247. 

Dia nublado, uma chuva ligeira caiu e logo passou. 

Tem crianças na rua, mas, parece que são apenas duas. 

Recebi uma denúncia de um enfermeiro da HFA, que generais tentaram furar o isolamento do hospital para visitar o general Heleno, fiquei muito irritada, militar não presta para nada e ainda atrapalha. Lancei a campanha #QueremosEPI, porque o enfermeiro falou que precisava. Então, a gente fica em casa enquanto eles se expões e o máximo que fazemos é bater palmas, não dá, precisamos defende-los de alguma maneira. 

Enviei a denúncia ao Intercept, quem sabe decola a campanha. 

A briga está feia, e o povo no meio. 

Ficar vendo estatísticas me dá paura, então prefiro assistir a TV247 que entra nos meandros da política, é o que me mantém mais calma. 

Bom, por hoje é só."

David:
"
Ribeirao Preto, 23 de março de 2020

Algo que eu sabia que seria o maior desafio nessa quarentena é lidar com o João. Uma coisa é ficar confinado sozinho, ou com uma pessoa da sua idade, outra coisa é ter uma criança de dois anos, que não faz ideia do que está acontecendo lá fora, cheia de energias, testando os limites o dia inteiro. Para conseguir levar a situação, certamente os dois, eu e a Fernanda, precisamos trabalhar muito os freios e contrapesos - quando um estressa, outro tem que apaziguar, quando o outro perde a razão, um tem que chamar esse à realidade. Esse sistema falhou miseravelmente hoje. O João praticamente se amotinou contra a quarentena de manhã. Gritou a manhã inteira. A Fernanda não conseguiu ficar calma e eu em seguida. Estou mais estressado do que imaginei que estaria. Ontem conseguimos ficar o dia inteiro em casa praticamente, só saímos para abastecer o carro e ajudar o João a dormir depois do almoço. A cidade está bem mais vazia que domingo."


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