1.
Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra. Alguns companheiros do MST foram para o meio do mato fazer treinamento
para uma possível guerrilha. Há
relatos de que os grupos estão há pelo menos uma semana sem contato com os
familiares em razão deste treinamento, especialmente lá em Brasília. Há
informações ainda de que eles estão mais concentrados no Sul e Centro-Oeste,
enquanto o MTST encontra-se em São Paulo. Talvez esses dados explicariam a
baixa aderência do MST no dia em que a Senhora Dilma Rousseff foi ouvida pelo
Senado Federal. Não consegui confirmar pessoalmente essas informações, mas as
fontes, apesar de secundárias, são confiáveis. A divisão em duas regiões
geográficas para os dois movimentos parecem corroborar, ademais, uma tática de
enfrentamento contra o governo federal, ainda mais como se dispõem os
manifestantes. O MTST tem fechado rodovias e queimado pneus.
2.
Ocupa MinC. O corpo de Katiane Campos de Gois, 26 anos, foi encontrado
carbonizado em frente ao Teatro Nacional no dia 27 de agosto. De acordo com
algumas pessoas que acompanharam as manifestações desde o dia 27, a jovem
acompanhava o grupo do Ocupa MinC. O Sr. B. afirmou que o crime aconteceu
perto de um destacamento da Guarda Nacional, mas, ao interpelados, os militares
negaram ter tido conhecimento de qualquer crime.
3. Golpe
de Estado. Michel Temer
afirmou que iria revisar as regras do Bolsa Família e que a medida excluiria
algo em torno de 600 mil beneficiários. Geraldo Alckmin proibiu manifestações
na Avenida Paulista, enquanto Temer publicava no Diário Oficial uma autorização
ao emprego das Forças Armadas para conter a manifestação marcada em frente à
Fiesp para o dia 4/09, utilizando como justificativa o fato de a tocha
paraolímpica passar na região. A medida lembrava o AI-5. A Folha de São Paulo,
que outrora havia apoiado o golpe de 64, lançou dois editoriais pedindo uma
maior repressão às manifestações. O Facebook censurou Fernando Morais por três
dias, pois este havia escrevido que quem apoiava golpe era golpista; de acordo
com a mensagem de censura, a alegação violava as “políticas da comunidade
Facebook”.
Em 2 de setembro, Rodrigo Maia,
no exercício da Presidência da República, publicou a Lei 13.332/2016, na qual
ficava autorizada “a abertura de créditos suplementares, restritos aos valores
constantes da LDO, excluídas as alterações decorrentes de créditos adicionais
abertos ou reabertos, desde que as alterações promovidas na programação
orçamentária sejam compatíveis com a obtenção da meta de superávit primário
estabelecida para o exercício de 2016, e sejam observados o disposto no
parágrafo único do art. 8º da LRF e os limites e as condições estabelecidos
neste artigo (...)”. Em suma, não fazia nem dois dias que havia tido a
destituição de Dilma Rousseff e já estava liberado realizar pedaladas fiscais.
E isto, mesmo com a revisão irreal da meta fiscal por Michel Temer, que dava
margem para muitos gastos extraordinários. Portanto, fica patente que a
tese jurídica da criminalização das pedaladas fiscais somente vigorou para a
presidente Dilma, absurdamente aplicada de forma retroativa, sendo extirpada
logo em seguida, havendo verdadeiro juízo de exceção.
Ainda na presidência, contrariando liminar judicial, Rodrigo Maia exonerou por MEDIDA PROVISÓRIA o diretor da EBC, cujo mandato está assegurado por lei até 2019. Cabe lembrar, Senhores, que medida provisória, nesse caso, assemelha-se aos decretos-lei que a ditadura utilizava, porém, com uma "casca" de legitimação a posteriori pelo Congresso Nacional, que encontra-se necrosado.
Na China, o desinterino debochou
das movimentações nas ruas, dizendo ser coisa de 50 arruaceiros. Ao negar a
legitimidade dos protestos, Temer enfurece ainda mais as massas, fazendo com
que as condutas fiquem cada vez mais duras. O que o Capital Em Crise não
percebe é que, quanto mais achacarem a parcela de 99% da população que é explorada,
quanto mais negarem-lhe os direitos, maior será a revolta e haverá, em um horizonte
de algumas décadas, no mundo, a forte possibilidade de revoluções.
O Senhor Lupi afirmou que o PDT
discutirá o destino dos senadores do partido que apoiaram o golpe. Em especial,
o Senador Acir Gurgacz afirmou que ele tinha consciência de que não houve crime
de responsabilidade, mas que havia votado sim em nome da governabilidade e do “conjunto
da obra”. Já Telmário Mota, que havia anunciado que votaria a favor da Senhora
Rousseff, mudou de posicionamento e votou pela destituição. De acordo com o parlamentar,
ele se sentiu “traído” com o fato de o PT ter lançado candidatura própria à
prefeitura de Boa Vista. Ele esperava apoio do partido ao candidato do PDT – ou
seja, não foi por crime de responsabilidade.
O Der Spiegel noticiou: "A
palavra golpe tem um grande peso na América Latina", apontando que o conceito é associado a
generais e tanques nas ruas. "Mas como se deve chamar o processo em que
uma chefe de Estado democraticamente eleita é afastada de seu cargo com uma
justificativa legal duvidosa?"
4. Resistência nas ruas. Nos
dias em que se seguiram à destituição da presidente da República, a repressão
policial aumentou vertiginosamente. Um soldado da PMESP atirou no olho da
ativista Déborah Fabri. A jornalista Giuliana Vallone, nos protestos de 2013,
também foi atingida nos olhos e muitos manifestantes falam que a polícia
realmente mira no rosto na hora de atirar.
O advogado Mauro
Rogério Silva dos Santos foi
buscar seu filho nas manifestações e acabou sendo preso; pessoas filmaram o
momento em que o cidadão mostra a carteira da OAB para o policial, mas este o
agride nas pernas e o ignora. Mauro afirmou que provavelmente foi ignorado por
ser negro, pois a polícia ainda não consegue entender que hoje em dia isso é
possível. Os dois foram encarceirados, sendo o advogado algemado a um banco. No
dia seguinte, Mauro afirmou estar marcado para morrer, pois aqueles policiais
tratavam-se de um esquadrão da morte da PM. Um fotógrafo foi atingido na boca e
afirmou que os PMs teriam falado “se não quer se machucar, não venha para os
protestos”. O questionamento que fica é: se o medo cerceia nossa liberdade de expressão,
a que ponto vivemos em uma democracia?
Dilma mudou-se para o Rio para
combater sua destituição e se juntar ao coro do Diretas Já, enquanto Lula
utilizava seu prestígio internacional para mandar cartas a várias
personalidades na América do Sul e tentava fazer uma coalizão ampla de esquerda
contra Michel Temer. Eduardo Cardozo entrava com recurso no STF contra a sessão
de impeachment e a Globo, em editorial, tentava sensibilizar a opinião pública
a contra o recurso de Dilma Rousseff. Janaína Paschoal, a advogada de acusação,
foi à imprensa avisar que, caso o Supremo voltasse atrás na questão do
fatiamento da votação, Dilma poderia voltar à presidência, pois o novo
julgamento poderia ultrapassar os 180 dias de afastamento previsto na
Constituição.
Geddel Vieira Lima pediu os
nomes dos servidores federais que estão pedindo Fora Temer para tirá-los da administração
pública. Um expurgo já desponta no horizonte.
O Senador Walter Pinheiro (Sem
Partido) disponibilizou uma consulta no site do Senado Federal sobre a PEC
20/2016, que pede Diretas Já. De acordo com o site, quase 90% dos que
responderam são a favor do adiantamento do pleito de 2018.
Em Ribeirão Preto, um policial
deu um tapa em uma jovem que acompanhava os protestos em frente à Câmara dos
Vereadores. Grupos picharam “golpista” e “fascista” no muro da casa do Fábio Zan,
candidato pela Rede Sustentabilidade que havia se posicionado a favor da
destituição da Senhora Rousseff. Outros
dois foram presos. Um ativista afirmou que a intenção era jogar coquetel Molotov
nas vidraças e tentar ocupar o prédio, mas o fato de haver famílias e crianças
protestando junto inviabilizou as ações.
Contra a quebra da ordem, segue a desobediência
civil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário