DS 01/2016
A marcha conservadora continua. A crise mundial dá força a
quem tem coragem de enganar o mais fraco, o mais ignorante, o qual, ou encontra-se
mergulhado na apatia, ou na revolta.
Aqui no Brasil, o golpe tem avançado e o povo tem sido
derrotado pela própria desmobilização. As notícias mudaram drasticamente de
foco nos jornais, agora só se fala em Olimpíadas. Não se ouve mais o termo
composto “pedaladas fiscais”, a não ser quando o PiG anunciou que o Ministério
Público Federal afirmou que os retardamentos orçamentários não constitui crime
de responsabilidade, reforçando a tese do golpe.
No dia 8, o TRE-PA julgou como ilegais as arrecadações do
Deputado Federal Wladimir Costa, o parlamentar do confete que fez carnaval
durante a votação do impeachment da
Sr.ª Dilma Rousseff. Além disso, o Ministério Público Eleitoral apurou falsificações
de documento, as quais a Globo não quis entrar em detalhes em seu noticiário. Isto
serve apenas para ilustrar às gerações futuras, que muito custarão para aceitar
que o povo tenha sido tão ludibriado, o quanto a nossa sociedade é hipócrita.
Eduardo Cunha, o ex-presidente da Câmara que caiu em
desgraça depois de obliterar a Sr.ª Rousseff de seu lugar, está tentando fechar
acordo para aliviar a barra para a sua família, depois da cena patética do
chororô em sua renúncia, mas o MPF não parece muito interessado em ouvir o
parlamentar – pode ser que comprometa gente importante...
A conduta da esquerda tem sido a coisa mais vergonhosa que
existe. A briga entre partidos se sobressai a qualquer pauta comum, as agendas
colaterais que tanto fragmentam o união se sobressai sobre a agenda
principal, o trabalhismo, justamente o que se encontra mais ameaçado com isso
tudo. O maior sintoma de que mais uma vez a esquerda irá perder, e será uma
derrota nível fascismo nos anos 1930, foram as eleições da presidência da
Câmara dos Deputados: primeiramente, PT, PDT e PCdoB lançaram um candidato
próprio, Orlando Silva, enquanto o PSOL se arriscou a lançar Erundina. A
mentalidade de “oposição à esquerda”, tanto chacotada pelos próprios
conservadores, parece não encontrar no pragmatismo uma tentativa de conformar
as duas forças progressistas e o que mais falta ao PSOL é justamente o pragmatismo. Trata-se
de um partido que nasceu no ressentimento, cuja única preocupação parece ser a
oposição ao PT e o ativismo de sofá. Ao que tudo indica, não houve sequer a
cogitação de lançar apenas um candidato. Por outro lado, o PT/PDT/PCdoB
deveriam ter cogitado apoiar a Sr.ª Erundina no primeiro turno, ou então buscar um
acordo com o PSOL, mas a sanha pelo poder inviabiliza isso. Mas o golpe de
machado mesmo veio com o apoio do PT a Rodrigo Maia, que votou a favor do impeachment, no segundo turno, quando o
moral, o ético, seria eles terem se abstido. E, também, o partido dos trabalhadores não proibiu alianças municipais com partidos traidores. Com isso, fica difícil apoiar a
volta da Sr.ª Rousseff.
A principal motivação dos senhores Rui Falcão e Lupi em
pensar em estratégias advém do fato de o primeiro achar ser capaz de o Sr. Lula
ganhar as eleições de 2018 (se é que elas vão acontecer) e o segundo acreditar
no Sr. Ciro Gomes. Eles ainda não parecem ter se dado conta do que está em jogo e
também não levaram em consideração que, separados, a esquerda está do jeito que
o diabo gosta. Chega desse mote de Lula 2018, ele não vai voltar; o queremismo já não cola mais, as pesquisas
indicam que ele se daria bem em primeiro turno, mas sua rejeição é altíssima e
é uma rejeição monolítica, imutável, não interessa a campanha que o cara faça. Após 13 anos no poder, o Partido dos Trabalhadores está se
convertendo em um partido minoritário e marginal, enquanto toda a conjuntura está
sendo devorada pela direita liberal, que tem ganhado mais por demérito do
oponente, do que por mérito próprio. E pensar que, há oito anos atrás, o
partido chegou a inspirar o mundo com o seu modelo de política e hoje sofre pelas
brechas abertas e aproveitadas pelos partidos conservadores, os quais acabaram
se tornando a bandeira destes últimos...
Para parte da população, o golpe roubou o entusiasmo das
Olimpíadas. Sinto isso pessoalmente, pois, quando era criança, o meu sonho era
participar do evento, seja como atleta ou como mero espectador. Agora, no entanto,
a vontade tende a zero, uma vez que esses jogos estão manchados com sangue do inocente, sofrimento do pobre e desvio do erário. Sequer os atletas sorriram na
foto com o Decorativo. Não é raro o número de pessoas que tentam apagar a
tocha, nem a quantidade de cidades que a receberam com cartazes de Fora Temer.
Não obstante, isso parece ser o máximo de protesto que os brasileiros têm
conseguido fazer.
Agora a nova é pegar árabes para Cristo e tentar forçar o
medo do terrorismo na população, como uma justificativa para endurecer o Estado
Policial. Com relação a isso, 12 mandados de prisão foram expedidos para
supostos terroristas aqui no Brasil, sendo que um cara era criador de galinhas
e o outro professor de árabe, que foi monitorado simplesmente por tirar fotos na
frente do “estandarte negro”, em sua viagem para o Egito. Tudo bem que o
estandarte negro tem virado uma verdadeira suástica islâmica, mas ninguém nunca
proibiu os cristãos de usarem cruzeiros, ao menos não depois das cruzadas. O mais legal nisso tudo é que, se a intenção é dotar a população de pânico, o que tem acontecido é justamente o contrário: a troça transforma tudo em comédia.
E para dar menos graça ainda aos nossos Jogos Olímpicos, a
delegação russa de atletismo foi banida da competição, por causa de doping, como se não soubéssemos que a
maioria dos competidores se dopam. Em última análise, assistir aos jogos é
assistir uma competição entre drogados, mas só é lícito se os drogados não
forem subordinados ao Putin.
Enquanto isso, na Turquia, houve um Putsch militar que
resultou na morte de 240 pessoas. O presidente turco Erdogan convocou a
população para defender a democracia, o que frustrou a tentativa de golpe de
Estado. O que acontece agora é um verdadeiro expurgo e um endurecimento do
Estado Policial – a cadela do fascismo está sempre no cio e parece ter
encontrado um cachorro para o cruzo. Cresce a islamização turca, já trazendo
clivagens com a mentalidade secular europeia, o que demonstra a fissura há
muito escondida entre o dilema euroislâmico que vive aquele país.
Acredito que a situação internacional, com o Brasil incluído, ainda irá piorar muito. O nazismo está de volta.
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