Após trinta anos sob regime de emergência, inspirado pelo exemplo da Turquia, o povo do Egito questionou a autoridade de Hosni Mubarak. O documentário "The Square" trata desse processo e da continuidade dos protestos após sua queda, o qual pode-se ter certeza influenciou o Euromaidan e também os protestos generalizados contra o governo em 2013 aqui no Brasil.
De acordo com os reivindicantes, após trinta anos de desmandos, o povo se irritou e perdeu o medo. No começo, todos faziam coro, era o povo egípcio que se sentia irritado; não era incomum ver um cristão ao lado de um membro da Irmandade Muçulmana. Já se queria a revolução desde o início e muitos estavam lá pela democracia.
A pressão foi tão grande que Mubarak renunciou, entregando o poder às Forças Armadas. Os membros mais simples da Irmandade Muçulmana afirmavam que, em breve, o mundo veria que estava enganado sobre o grupo político, encarado pelos aliados pró-americanos como uma força terrorista. Porém, o tempo passou e mesmo após a queda de Mubarak nada mudou.
O que marca os primeiros protestos contra o regime, antes da queda do ditador, era que, ao contrário do Maidan, havia muita alegria e festejo. Não obstante, militar é militar, e logo os detentores do poder começaram a querer deslegitimar a revolução, afirmando que nem todos que estavam na praça eram protestantes, apenas queriam parecer heróis. E o povo quedou-se com pedras em mãos.
O interessante é notar que, assim como acontece cá por nossas bandas, a mídia também se corrompeu, aliando-se ao status quo, na tentativa de taxar os revolucionários como baderneiros e, assim, esvaziar a balança do poder que começava a pender para os mais humildes. A Irmandade Muçulmana, ao perceber que o furor crescia, resolveu dar as caras nos novos protestos, sequestrando a pauta - "O Islã Manda". Como sempre, os religiosos tentam impor ao laicismo. O Estado sabe o poder eclesiástico e fez acordos secretos com os líderes religiosos, fazendo com que a praça fosse dividida. A opressão começou. As eleições também. A Irmandade subiu ao poder.
Aqui, no Brasil, acontece da mesma forma, porém, com menos violência. Quem detém o poder vende a alma à bancada evangélica e tenta cercear os direitos minoritários. Todo o resto é decorrência disso e, no caso dos protestos egípcios, o desfecho envolveu sangue de jovens heróis através de armas americanas.
Vale traçar um paralelo entre os dois documentários - The Square e Winter on Fire. O primeiro é, de longe, o mais neutro deles, mostrando a realidade dos dois lados, tanto dos muçulmanos quanto dos secularistas; já o segundo é quase uma propaganda pró-Europa, mostrando uma imagem deturpada de unanimidade contra o Primeiro-Ministro Yanukovich, sendo que o país estava política e geograficamente dividido. Cabe lembrar que foi na mesma praça Maidan que os ucranianos saudaram os nazistas em 1941.
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