quinta-feira, 30 de maio de 2019

PAULO GUEDES CHANTAGEIA A CLASSE TRABALHADORA


Após a comemoração a um certo humorista da rede SBT, alinhada ao governo Bolsonaro, o ministro da Fazenda Paulo Guedes se viu tendo que se explicar perante a imprensa sobre o fraco resultado da economia de seu ministério ultraliberal - o PIB do primeiro trimestre recuou 0,2% e chegou ao mesmo patamar que 2012; analistas já dizem que o crescimento da renda, se é que vai acontecer, deve ser menor que 1% e os banqueiros já soltaram inúmeros informes e declarações de que o mal resultado se deve à estagnação da Reforma da Previdência.

Nos mesmos moldes da promessa de abundância de empregos após a Reforma Trabalhista, na época do Temer, que não veio, Paulo Guedes afirmou que liberaria o saque do FGTS e do PIS-Pasep dos trabalhadores ativos para reaquecer a economia, mas somente se a Reforma da Previdência fosse aprovada, num claro gesto de chantagem, tal qual fez Abraham Weintraub em relação ao contingenciamento criminoso de 30% das verbas do ensino público. A estratégia de Guedes é torrar toda a poupança pública (inclusive da Seguridade Social) e explicar o milagre do consumo subsequente à Reforma; mas, para além disso, o ministro sabe o tamanho do endividamento das famílias, sabe que muitos estão tão desesperados que aceitaria qualquer dinheiro fácil no momento, mesmo que isso signifique não se aposentar depois - a ocasião faz o ladrão. O Tchuchuca dos Banqueiros afirmou, inclusive, um milagre de queda de juros após a Reforma, pois o "mercado" ficaria confiante para investir - esquece de dizer, no entanto, que os banqueiros controlam os juros independente do nível de consumo e investimento, tamanha é a concentração de riqueza no setor, que é oligopolizado.

A dica deste blog é: não se desespere pelas dívidas. Pegue todo empréstimo que conseguir e dê calote. Quando os bancos te procurarem, diga que somente pagará quando a Reforma da Previdência for arquivada. Devolva a chantagem na mesma moeda.

quarta-feira, 29 de maio de 2019

O SEGUNDO ASSASSINATO DE TROTSKY - e, de quebra, de Stalin, Lênin, Larissa Reissner e tantos outros.


Durante a comemoração dos cem anos da Revolução Russa, a TV estatal russa promoveu a produção da série "Trotsky", a qual caiu nas graças do Ocidente e foi parar na Netflix. Imagine que você está fazendo cem anos de idade e, para comemorar, seus filhos prometem uma festa de arromba; chegada a data da festividade, aparece aqueles carros de som brega, com fumaça com cheiro de morango, que te expõem ao ridículo perante toda a comunidade. Pior, depois de fazer todas aquelas pirotecnias de segunda, alguém abre o microfone e resolve falar sobre a importância sua na vida dos familiares - e destrói a sua reputação perante todos.

Trotsky foi assassinado duas vezes - uma, no México, a mando do poder stalinista, contra o qual rivalizava ativamente, outra, de forma parcelada, com o assassinato de sua reputação. É inegável que, provavelmente, o revolucionário não tivesse uma personalidade fácil. Tocar uma revolução armada, em meio à maior guerra que o mundo conhecia até então (a Primeira Guerra Mundial), não é uma coisa que as correntes paz e amor da esquerda, propugnadas pelas facções alinhadas à teologia da libertação da Igreja Católica, conseguiria fazer. Não obstante, é importante ter em mente que, mesmo em meio a uma guerra civil de grandes proporções, o Partido Bolchevique preservou, até certo tempo, um importante modelo de tomada de decisões, na qual a base tinha a última palavra e o comitê central tomava decisões que poderiam ser referendadas pelos sovietes e pela base do partido; ou mesmo que, se houvesse tempo hábil, determinada decisão importante deveria ser debatida por essas instâncias mais populares de poder. Tal foi o caso do Tratado Brest-Litovski, no qual a Rússia abria mão de boa parte de seu território para conseguir sair da guerra e consolidar a sua revolução. O seriado apresenta esse episódio como sendo um momento de decisão única e exclusivamente de Trotsky, o que irritaria Lênin. É verdade que o Presidente do Comissariado do Povo bolchevique teria ficado contrariado com o grau de concessão, mas ele mesmo havia impulsionado o negociador russo, Trotsky, a conceder o que fosse preciso para consolidar a revolução; houve uma intensa participação dos sovietes para aprovar a proposta e, além disso, o próprio Lênin agiu perante o comitê central e o Politburo para passar a proposta de tratado da forma como se apresentava. A produção também não mostra as condições na qual o tratado foi assinado: a Alemanha pressionava a Rússia com intensas ofensivas militares, os bolcheviques experimentavam graves derrotas e o Exército Vermelho ainda não estava consolidado. Além disso, a atitude do partido bolchevique de tentar fazer emergir uma insurreição alemã para expandir a revolução proletária para a Europa Central é solenemente ignorada.

A série "comemorativa" dos cem anos da Revolução Russa também distorceu completamente os revolucionários envolvidos na guerra. Lênin é apresentado como um líder fraco, oportunista, que joga nos bastidores, que se utiliza do discurso para "manobrar a massa"; o Trotsky netflixiano é visto como um fanático que pouco apreço tinha pela vida dos demais, um ser completamente desumanizado, messiânico, diabólico (arrogante talvez tenha sido, ao se levar em consideração a postura sectária de seu fã clube, que mais se preocupa com o "ópio da revolução", do que com fomentar as bases da solidariedade para avançar na tomada de poder); Stalin aparece como um psicopata invejoso, incapaz, meio zumbificado, que fica puto com Trotsky devido a sua impertinência em não apertar a sua mão... Ignora-se completamente a forma como o dissenso é construído nas instâncias políticas, principalmente nas da classe trabalhadora: nos discursos internos, na geração de facções internas, nas alianças antagônicas e, porque não, no objetivo de chegar ao poder para apresentar um projeto de continuação. Em "Trotsky", no entanto, tudo é apresentado como mera intriga, com ares de novela das nove que bem poderia ser produzido pela Rede Globo se esta falasse russo.

Larissa Reissner, uma combatente da guerra civil, jornalista, uma mulher forte, é apresentada como uma mera "cortesã" de Trotsky, um objeto de conquista sexual que é utilizada por ele dentro de seu trem mágico, que bem poderia ser utilizado em um filme do Harry Potter. Após seu voluntariado, Larissa torna-se comissariada do Partido Bolchevique e espiã nas linhas inimigas, realizando grandes feitos heroicos. Não há qualquer registro bibliográfico que ateste a relação, sexual ou afetiva, entre Larissa e Leon, muito embora os dois tenham participado de algumas batalhas comuns. E mesmo que tivesse uma relação entre os dois, Larissa era uma mulher emancipada, e não uma cortesã que deveria satisfazer os desejos aristocráticos de Trotsky.

Sobre o Terror Revolucionário, numa das cenas do começo da série, Trotsky sai do trem fantástico para estancar um motim e aplica um decimatio, uma forma de punição romana na qual se assassina 10% de um destacamento que teria desertado; é verdade que a violência revolucionária, aprendida na época do exemplo jacobino da Revolução Francesa, foi utilizado, mas, como bem demonstra a Ordem n.º 59, Trotsky não fuzilava aleatoriamente, mas somente os desertores. Os desertores de Kapel, que foram sim fuzilados, não o foram a mando  de Trotsky, mas de um tribunal revolucionário militar de campanha e tampouco foi utilizado o decimatio; Stalin criticou Trotsky pelas execuções por ele estar enviado os próprios bolcheviques à morte. Antes disso, ele dá um relógio caro a um soldado, para afirmar que seriam iguais - demonstrando um populismo tão fajuto, que lembra o presidente brasileiro assinando com a caneta Bic ou lavando roupas no tanque para passar a imagem que era do povão.

A relação de Lênin e Trotsky não era, desde o princípio, de troca de farpas. De início, não houve uma conversa maluca na qual Lênin dizia que queria "mudar o mundo" e supostamente perguntado o papel do povo nisso tudo. Trotsky foi convidado por Lênin a se apresentar em Londres, onde o partido redigia seu jornal. O líder bolchevique queria conhece-lo e convidá-lo a fazer parte do jornal Iskra; apenas quando o próprio Lênin convida-o a participar da direção é que as desavenças com Plekanov surgem. Trotsky conhece Natasha em uma palestra sobre emigrados, e não em um condomínio do seu desafeto. Após a revolução, Trotsky e Lênin trabalharam juntos e moraram quase juntos durante meses - e ninguém tentou jogar ninguém da sacada. Parvus e Trotsky eram conhecidos desde 1903, quando os dois trabalhavam juntos no mesmo jornal; Parvus ajudou-o a desenvolver a sua Teoria da Revolução Permanente e a sua vida era voltada para a política, e não para a obtenção de vantagens econômicas oportunistas. Somente depois de ter voltado para a Rússia, Parvus fez estranhos negócios com Gorky e outras tantas tratativas bizarras - sua amizade política com os comunistas havia cessado, no entanto. É bom também notar que Lênin não era o covarde que a série retrata; participou e comandou ativamente a tomada de poder de Outubro, lado a lado com Trotsky.

Stalin atacou pelo flanco das ligações colaboracionistas que Trotsky tinha no Partido Menchevique - porém, no exterior, não se fazia muita distinção entre o que seria Menchevique e o que seria Bolchevique. Era uma estratégia discursiva que visava polarizar o partido entre Trotsky e Stalin, para que um deles chegasse ao poder - ao fim e a cabo, a rivalidade se tornou paranoia e Stalin mandou assassiná-lo brutalmente, mas não por um jornalista que estava fazendo uma série de entrevistas, mas por um espião contratado que vai a casa de Trotsky apenas com a intenção de mata-lo. As ordens do regime stalinista se justificava no fato de a União Soviética estar terrivelmente atrapalhada na Segunda Guerra Mundial e que Trotsky poderia liderar uma contrarrevolução - algo que seu oponente realmente tinha em mente quando construiu a fragmentada Quarta Internacional para contrapor Stalin e aproveitar o cenário de guerra para fomentar a contrapropaganda. Não foi apenas por um aperto de mão.

Nenhum dos envolvidos é uma espécie de messias, por mais que frações idolatrem tanto a Trotsky, quanto a Stalin e Lênin. Porém, a vida revolucionária, a vida política em última instância, jamais deveria ser novelizada. Isto atende a um ideal de despolitização que muito serve ao poder estabelecido.

quinta-feira, 9 de maio de 2019

CORTE DE VERBAS NA ÁREA DE EDUCAÇÃO



          Uma coisa que é unanimidade no Brasil é a opinião que o governo Bolsonaro tem sido uma surpresa para todos - mesmo para quem ainda o defende-, não tanto pelo seu projeto de poder, mas pelos meios utilizados para conseguir atingir suas metas messiânicas de destruição.
           Utilizando-se de formas pouco ortodoxas para entregar as riquezas brasileiras ao capital financeiro, o capitão do Manicômio-Geral da República escalou verdadeiros profissionais experientes em porra-nenhuma para tocar seu projeto ideológico sanatorial; apesar de haver grande concorrência, o mais ousado até aqui é Abraham Weintraub, o ministro cinco-bola que lê receitas de Cafta nas horas vagas.
           Seu mais novo ataque, o contingenciamento de 1/3 das verbas destinadas ao ensino superior, com a promessa de devolução após a aprovação da Reforma da Previdência, é uma verdadeira extorsão de mão dupla: de um lado se pressiona o trabalhador a aceitar uma reforma miraculosa da Previdência (e a gente sabe bem a natureza desses "milagres" financeiros) e de outro se esconde o interesse tacanho das universidades privadas, muitas delas querelantes do fim do dinheiro fácil do Fies e do Prouni, as quais conseguiram acelerar misteriosamente em 70% o seu registro junto ao governo Bolsonaro.
           Com verba insuficiente, as universidades públicas terão que cancelar parte substancial de suas despesas de custeio e seus investimentos (isto se agrava com o fim das bolsas de agências de fomento como a CAPES e, possivelmente, o CNPq) e, se não contido o ataque, haverá um fosso geracional na nossa pesquisa.
           Os efeitos não são somente de curto prazo: cada aluno que abandona a graduação e a pós é um elo destruído na corrente do conhecimento, uma corrente que liga doutores a mestres, mestres a iniciandos, e iniciandos ao público externo, mediante os projetos de extensão; a lacuna deixada por esses alunos terá que ser suprida posteriormente a partir ou de um período muito mais dispendioso de formação para superar essa lacuna geracional, ou de importação de tecnologia e conhecimento estrangeiro, o que gerará uma dependência ainda maior do Brasil ao capital intelectual estrangeiro.
           Mas não se enganem, eles não fazem isso por não saber os resultados. Isso tudo é um projeto político que vinha sendo gestado há muito! Perdemos nossas condições de vida, perdemos nosso futuro, perderemos nossa soberania. Tudo em prol do capital financeiro e da subserviência a interesses escusos.



A hora de reagir é agora.

SERVIDORES DE RIBEIRÃO PRETO MANTÊM A GREVE APÓS PROPOSTA VAZIA DE TUCANO



Greve dos servidores da educação em Ribeirão Preto se estende por tempo indefinido, dissídio entra em fase judicial e movimento promete unificação com a Greve Nacional da Educação 

Os funcionários da educação do município de Ribeirão Preto decidiram em Assembleia não aceitar uma proposta absurda do prefeito Duarte Nogueira (PSDB), que previa o não desconto das horas paradas, mediante reposição e, quando puder, negociação de uma reposição salarial. Parece piada, mas não: é apenas a arrogância dos políticos neoliberais diante dos trabalhadores que aflora em decorrência da ascensão da extrema direita. 
A greve iniciou-se em meados de abril, diante das iniciativas de precarização do Prefeito e foi alvo de diversas tentativas por parte da mídia de ser desmantelada. Uma delas tratou-se de espalhar fake news diziam que a Justiça havia considerado a greve ilegal e que o sindicato deveria dissolvê-la, incorrendo em multa se não o fizesse. Em editorial publicado em seu site, o Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto, Guatapará e Pradópolis desmentiu haver recebido qualquer intimação e se defendeu, também, de uma boataria propugnada pelo Prefeito de que o Tribunal de Contas considerava a greve ilegal. O Sindicato esclareceu que se tratava da opinião pessoal de um conselheiro do Tribunal de Contas e que não havia nenhuma decisão administrativa sequer tramitando na Corte de Contas (ou que ao menos sequer haviam tomado ciência de qualquer processo administrativo por meio de intimação). Vencida a campanha de desinformação, diante de uma denúncia de um servidor de que a Prefeitura estaria empregando propaganda irregular e cometendo outras improbidades administrativas, como o pagamento de avenças sem homologação judicial, o Sindicato protocolou um pedido de impeachment, mas a instauração da investigação não foi aprovada pela Câmara, que é controlada pelo governo. 
Com a extensão da greve e os ataques sucessivos dos grandes capitalistas à educação pública, a greve dos servidores da educação de Ribeirão Preto irá se unificar com a Greve Nacional da Educação, no próximo dia 14, cuja articulação ganhou força após o governo federal contingenciar mais de 30% do orçamento das universidades públicas. Tal medida governamental acontece como um instrumento de pressão contra o Legislativo e os trabalhadores para aceitarem a aprovação da Reforma da Previdência.