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terça-feira, 12 de novembro de 2019

CONSIDERAÇÕES SOBRE O LULA LIVRE



Editorial
Após o julgamento sobre a questão da segunda instância pelo Supremo Tribunal Federal, a liberdade cantou para Lula. O ex-presidente havia sido feito prisioneiro político pelo então juiz Sérgio Moro, para evitar que ele fosse candidato à Presidência da República. Devido a uma campanha nacional e internacional pela soltura de Lula, ao desgaste do governo Bolsonaro, da imagem de Sérgio Moro e, principalmente, pela crise política que emergiu devido ao caso Vaza Jato, devido ao imenso material jornalístico de Glenn Greenwald, Lula foi beneficiado por um habeas corpus na sexta-feira e, depois, foi para São Bernardo do Campo reorganizar a sua militância.

A soltura de Lula, no entanto, não significa um “retorno” à Constituição, como se magicamente o estado de exceção generalizado que tomou conta dos país a partir de 2016 tivesse sumido com uma canetada do Supremo. Trata-se de um recuo tático da burguesia nacional e da classe política fisiológica para enquadrar Bolsonaro, uma vez que a burrice incomensurável do atual presidente da República por vezes atrapalha os interesses da mesma burguesia que o garante no poder. O que não se está claro é se a tentativa é de conter Bolsonaro ou de fortalecê-lo, uma vez que, com Lula solto, a polarização em torno do PT pode voltar a ser relevante e Bolsonaro pode se fortalecer se souber aproveitar a oportunidade (afinal, muitas alianças somente são possíveis se houver um “inimigo comum”).

No Congresso Nacional, a presença do Lula, que pode voltar ou não a ser o eixo da discussão política, tende a atrair uma parte dos políticos da direita fisiológica (conhecida como Centrão) e repelir a outra parte; dificilmente haverá indiferença com relação a Lula no jogo político. Esse fenômeno deve sufocar o crescimento do PSOL, que vem se verificado de forma lenta e gradual desde o processo de impeachment de Dilma Rousseff. A tendência é a construção de um novo “centro”, hegemonizado pelo PT e MDB, com legendas como o PSB e outros partidos de centro-direita orbitando, que polarize com a extrema-direita de Bolsonaro e asseclas. Isso representa também uma aproximação do PSDB com a extrema-direita, uma vez que a direita tradicional, que fica no meio do caminho dessa polarização, tende a se esvaziar; Rodrigo Maia, que tentava reconstruir a direita tradicional a partir da “moderação” do DEM (que era mais para a extrema-direita no início do governo), poderá sair prejudicado com a saída de Lula, a não ser que tente um acordo anti-Bolsonaro. O PSOL tende a ter uma aproximação inicial, com algumas alianças municipais fechadas com os setores mais à direita do Partido (como é o caso do Marcelo Freixo), mas tende a se afastar à esquerda devido ao sufocamento eleitoral.

No campo progressista, a soltura de Lula certamente é positiva, por se tratar de uma reparação, por retardar a sanha persecutória contra líderes da esquerda, por contrapor elementos burgueses que tentam se pintar como progressistas (como o Ciro Gomes, o qual certamente vai procurar polarizar com Lula, aproximando-se do ex-eleitorado do Bolsonaro) e, também, para pôr fim à paralisia de pauta do partido hegemônico da esquerda, o PT; por outro lado, pode alimentar ilusões institucionais em um momento no qual o avanço neoliberal sobre os trabalhadores se intensifica. Lula é o cara da conciliação, do reformismo fraco, e, em épocas de polarização, a gente sabe muito bem o que isso significa. Quando a luta de classes se radicaliza, é um erro não tomar um posicionamento mais claro contra a burguesia e a favor da classe trabalhadora. #

CurvaCAST 22 - Golpe na Bolívia e Lula Livre



Editorial
No último dia 10 de novembro, Evo Morales renunciou ao mandato de Presidente da República Plurinacional da Bolívia, após violentos protestos patrocinados pela direita e um “pedido” das Forças Armadas. Um sujeito oportunista que surgiu com o golpe é Luis Fernando Camacho, uma espécie de Bolsonaro da Bolívia, membro do “Comitê Cívico pró-Santa Cruz”, que é uma organização fascista que surgiu em Santa Cruz de la Sierra para conservar o espírito colonizador do branco boliviano, que se acha herdeiro direto do europeu, em contraposição aos povos andinos.

A clivagem entre brancos e indígenas existe nos países que foram invadidos pela Espanha através de uma lógica própria, que difere um pouco da cultura brasileira, uma vez que os indígenas participam de maneira mais direta na política dessas nações, tanto que conseguiram emplacar um presidente da República. Lá, os indígenas são franca maioria, compondo 55% da população, ao passo que os brancos são apenas 15%; o que faz a Bolívia ser tão explosiva, no entanto, é o fato que a minoria branca é a detentora da riqueza, enquanto a maioria vive na pobreza ou em uma vida modesta.

A Bolívia apresenta um enorme histórico de golpes e mandatos inconclusos (o fato do nome do prédio presidencial se chamar Palácio Quemado não é à toa). Evo foi o presidente que mais tempo conseguiu ficar no poder - a média de ocupação no cargo da presidência na história pós-Segunda Guerra da Bolívia é de dois anos e meio; Evo conseguiu se manter por treze anos, superando, inclusive, o nazista e ditador Hugo Banzer, sendo que este último, por muito tempo governou sem precisar se eleger e com forte aparato repressivo.

Evo renunciou após grupos financiados pelos Estados Unidos insuflar a população a se insurgir, devido a denúncias de supostas fraudes nas eleições que deram a vitória em primeiro turno ao presidente bolivariano; a Polícia foi a primeira organização a aderir ao golpe, enquanto as Forças Armadas se negavam a prestar apoio a Evo. Casas de políticos ligados ao Movimento al Socialismo foram incendiadas; a prefeita da cidade de Vinto, Patricia Arce Guzmán, foi agredida e humilhada em público, sendo pintada de vermelho, obrigada a andar descalça por horas e tendo seu cabelo cortado. Eventos como este demonstram o caráter fascista do levante. Camacho, quando adentrou ao Palácio Quemado, estendeu a Bíblia sobre a bandeira boliviana e começou a invocar Jesus Cristo! (lembremos que a maioria da população não é cristã!). Os presidentes do Tribunal Superior Eleitoral foram feitos reféns por homens encapuzados com o uniforme da polícia boliviana.

O interessante deste golpe é que ele vem durante uma época de maresia na economia boliviana. Duas semanas antes do acontecido, a BBC publicou um artigo, que foi reciclado após a renúncia, intitulado “O que está por trás do sucesso econômico da Bolívia da era Evo Morales?”. O conflito social emergiu por puro reacionarismo de setores da extrema-direita diante de uma “desculpa”, uma acusação de fraudar mais de 10% dos votos válidos nas eleições gerais. A Organização dos Estados Americanos, quintal oficial dos Estados Unidos, teve um importante papel na escalada dos protestos, quando decidiu adiantar o resultado de seu parecer, mesmo antes de haver concluído a auditoria, ainda que a Bolívia estivesse caminhando para um clima de pacificação, como se importasse com o timing de quem promovia os protestos. É interessante a nota à imprensa do organismo do dia 11, onde conclama a Assembleia Nacional a organizar novas eleições e, ao mesmo tempo, e mesmo com os inúmeros casos de violência contra os indígenas, coloca mais lenha na fogueira, pedindo a continuidade da investigação das fraudes, por parte da justiça boliviana, “até as últimas consequências”, adotando uma postura pouco diplomática e até mesmo intervencionista.

Grupos que apoiam Evo Morales deram um ultimato de quarenta e oito horas aos golpistas, enquanto organizavam uma marcha para La Paz. Durante o caminho, ouvia-se o brado da multidão “Ahora sí, guerra civil”, “Evo no está suelo” e “Evo vencerá”. No percurso, tropas passaram a atirar à chumbo na população, matando ao menos três pessoas, entre elas uma criança.

Os governos do México, da Rússia, da China e do Uruguai denunciaram o golpe de Estado na Bolívia; no Brasil, mesmo com a quartelada, com o ultimato das Forças Armadas e com a barbárie tomando as ruas, os jornais evitam usar a palavra “golpe” e preferem amenizar com “renúncia”. Evo Morales seguiu para o asilo político após o México lhe oferecer seu território. A Rússia mandou um recado ao Brasil através de uma nota diplomática pedindo encarecidamente para ele não se intrometer nas questões internas da Bolívia, em resposta aos vazamentos de áudio nos quais grupos camachistas e religiosos evangélicos diziam ter apoio estadunidense e de “uma pessoa muito próxima a Bolsonaro”.

O levante na Bolívia certamente inspirará grupos fascistas brasileiros a tomarem atitudes mais radicais, muito embora o apoio ao governo Bolsonaro esteja minando dia após dia. É importante ficarmos vigilantes para as pretensões autoritárias de certos “líderes” políticos e, também, vigiarmos as pretensões das lideranças evangélicas; podemos estar sob a lógica de uma nova “Cruzada” por parte deles.

quinta-feira, 9 de maio de 2019

CORTE DE VERBAS NA ÁREA DE EDUCAÇÃO



          Uma coisa que é unanimidade no Brasil é a opinião que o governo Bolsonaro tem sido uma surpresa para todos - mesmo para quem ainda o defende-, não tanto pelo seu projeto de poder, mas pelos meios utilizados para conseguir atingir suas metas messiânicas de destruição.
           Utilizando-se de formas pouco ortodoxas para entregar as riquezas brasileiras ao capital financeiro, o capitão do Manicômio-Geral da República escalou verdadeiros profissionais experientes em porra-nenhuma para tocar seu projeto ideológico sanatorial; apesar de haver grande concorrência, o mais ousado até aqui é Abraham Weintraub, o ministro cinco-bola que lê receitas de Cafta nas horas vagas.
           Seu mais novo ataque, o contingenciamento de 1/3 das verbas destinadas ao ensino superior, com a promessa de devolução após a aprovação da Reforma da Previdência, é uma verdadeira extorsão de mão dupla: de um lado se pressiona o trabalhador a aceitar uma reforma miraculosa da Previdência (e a gente sabe bem a natureza desses "milagres" financeiros) e de outro se esconde o interesse tacanho das universidades privadas, muitas delas querelantes do fim do dinheiro fácil do Fies e do Prouni, as quais conseguiram acelerar misteriosamente em 70% o seu registro junto ao governo Bolsonaro.
           Com verba insuficiente, as universidades públicas terão que cancelar parte substancial de suas despesas de custeio e seus investimentos (isto se agrava com o fim das bolsas de agências de fomento como a CAPES e, possivelmente, o CNPq) e, se não contido o ataque, haverá um fosso geracional na nossa pesquisa.
           Os efeitos não são somente de curto prazo: cada aluno que abandona a graduação e a pós é um elo destruído na corrente do conhecimento, uma corrente que liga doutores a mestres, mestres a iniciandos, e iniciandos ao público externo, mediante os projetos de extensão; a lacuna deixada por esses alunos terá que ser suprida posteriormente a partir ou de um período muito mais dispendioso de formação para superar essa lacuna geracional, ou de importação de tecnologia e conhecimento estrangeiro, o que gerará uma dependência ainda maior do Brasil ao capital intelectual estrangeiro.
           Mas não se enganem, eles não fazem isso por não saber os resultados. Isso tudo é um projeto político que vinha sendo gestado há muito! Perdemos nossas condições de vida, perdemos nosso futuro, perderemos nossa soberania. Tudo em prol do capital financeiro e da subserviência a interesses escusos.



A hora de reagir é agora.

terça-feira, 23 de abril de 2019

CENTRAIS SINDICAIS EM SOLIDARIEDADE COM OS TRABALHADORES DA USP

As Centrais Sindicais reagiram contra o cerceamento da liberdade de organização sindical promovida pelo Reitor da Universidade de São Paulo, Vahan Agopyan, nesta última quinta-feira. A Reitoria decretou que os trabalhadores somente poderiam participar do Congresso Estatutário caso pagassem as horas em que se ausentassem para participar das discussões e se a chefia imediata autorizasse, além de criar uma distinção entre funcionários com cargos administrativos no SINTUSP (Sindicato dos Trabalhadores da USP) e funcionários eleitos apenas para o Congresso. Na prática, muitas Unidades de ensino proibiram os delegados de participarem do evento.

Segue a íntegra da carta enviada pelas centrais sindicais à Reitoria:


Carta em defesa da realização do 7º Congresso do SINTUSP

Ao Sr. Vahan Agopyan
Reitor da USP (Universidade de São Paulo)

As Centrais Sindicais brasileiras abaixo assinadas vêm a público se manifestar em defesa do direito de organização dos funcionários da USP que, por uma inaceitável decisão da reitoria dessa Universidade, viram-se obrigados a que seu Sindicato, o SINTUSP, suspendesse a realização de seu 7º Congresso previsto para os dias 22, 23 e 24 de abril de 2019. Este evento do SINTUSP, com mais de 272 delegados e delegadas eleitos nos locais de trabalho, foi surpreendido pela decisão da Reitoria de não liberar seus funcionários para participarem do Congresso, o que constitui ataque a uma conquista histórica dos trabalhadores da USP. Diante da medida da Reitoria da USP, que na prática inviabilizou a realização do 7º Congresso do SINTUSP, as Centrais Sindicais se colocam firmemente ao lado da entidade e de toda a categoria na defesa de sua liberdade de organização e em protesto contra a decisão, e se dirigem ao Sr. Reitor solicitando que sua posição seja revista.

São Paulo, 23 de abril de 2019. 

Vagner Freitas, Presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) 
Miguel Torres, Presidente da Força Sindical (FS) 
Adilson Araújo, Presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) 
Antônio Neto, Presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) 
José Calixto Ramos, Presidente da Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST) 
Atnágoras Lopes, Secretaria Executiva Nacional da CSP-CONLUTAS 
Ubiraci Dantas, Presidente da CGTB Ricardo Patah, Presidente da UGT 
Mané Melato, Intersindical instrumento de Luta

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

O Julgamento de Luis Inácio




O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) julgará hoje (24/1) o recurso impetrado pelo ex-presidente Lula contra sua a sentença de Sérgio Moro no caso Tríplex. A questão é emblemática, pois o ex-presidente é o favorito isolado nas pesquisas relacionadas às eleições deste ano e, caso seja condenado, sua candidatura poderá ser cassada. Ainda, caso a condenação não seja unânime (com placar 2 x 1), abre-se a possibilidade do acusado entrar com recurso nas instâncias superiores, STF e STJ, para questionar a decisão, utilizando-se de um instrumento jurídico chamado embargos infringentes. Dessa forma, abre-se a possibilidade de o ex-presidente recorrer sem ter sua candidatura cassada pela Lei Ficha Limpa.

A previsão, segundo o que nos ensina a História do Brasil, é que Lula saia do julgamento impedido de ser candidato, mas em liberdade. A conciliação está presente na vida política brasileira.

Posicionamento do Campo Progressista

A questão foi discutida nos movimentos sindicais, nos coletivos e nos partidos. Os posicionamentos deliberados foram os dos mais diversos possíveis. O PT claramente entende que Lula é a sua estratégia eleitoral única e atrela a sua candidatura à preferência eleitoral do povo e, com isso, amarra o discurso de perseguição à obstrução de sua candidatura, devido ao medo da direita de que este ganhe as eleições novamente. Reedita, com isso, o queremismo de Getúlio Vargas, quando da véspera do golpe que sofrera após a Segunda Guerra Mundial. O PC do B, que apesar de apresentar Manuela d’Ávila como pré-candidata, e o PCO são simpáticos ao posicionamento petista. O PC do B inclusive pode se apresentar como herdeiros do lulismo, caso este venha a ter sua candidatura interrompida no dia de hoje.

Mais à esquerda, encontra-se os partidos revolucionários, como o PCR e o MRT, os quais alertam para a perseguição judicial, acreditam que tudo isso seja uma forma de inviabilizar a candidatura do ex-presidente, mas informou que não irão participar dos atos. Por fim, à direita, declarou-se a Transição Socialista e o PSTU, que acreditam que Lula é culpado, que há provas suficientes para a condenação, que não há nada de extraordinário na exceção que possivelmente poderia ser feito à Lula para condená-lo, uma vez que o sistema judiciário é assim mesmo. Dialoga, dessa forma, com a classe pequeno-burguesa, que encampou o mote contra a corrupção (que é o que tem permitido o avanço do fascismo judicial).

Já o movimento Marias e Joãos de Luta defendem o direito de Lula se candidatar, não por acreditar que ele seja a solução para os problemas da República que envelheceu jovem, mas porque negar-lhe esse direito pode significar negar o mesmo direito ao PSOL, ao PC do B, ao PCB, à Unidade Popular, enfim, a qualquer um que se apresentar como pertencente ao campo progressista. O caso do ex-presidente certamente será um precedente para a existência dos demais partidos institucionais e isso pode gerar um efeito dominó que arraste, inclusive, os setores revolucionários da esquerda.



Solução centrista

O partidos e políticos fisiológicos (inclusive alguns que procuram preencher um espaço dentro do PSDB), procuram a condenação de Lula, simplesmente para conseguir um palanque a mais, esquecendo-se de que isso significa abrir a caixa de Pandora. Alguns, no entanto, procuram ficar quietos, pois apresentam uma mentalidade de classe (de classe política) e sabem que o avanço do fascismo pode ser ruim inclusive para eles. Os únicos que realmente querem a cabeça de Lula a todo custo são aqueles que militam na extrema-direita. Os outros apenas usam o caso por conveniência eleitoral, mas já começam a se preocupar com a repercussão do julgamento.

Agrande questão é, apesar de ser aclamado pela classe trabalhadora, Lula é um candidato de centro, que dialoga com os dois lados da luta classista, apresentando um perfil mediador; o único que, talvez, na atual conjuntura política do país, possa dar uma sobrevida à República Nova e à democracia liberal que vivemos. A grande mídia internacional sabe disso e, por essa razão, o dia amanheceu pleno de editoriais a favor de Lula e contra o avanço conservador no espaço político brasileiro. Os mais importantes deles foram do El País (Por que seria melhor para a direita se Lula fosse absolvido) e do The New York Times (A Democracia Brasileira Sendo Empurrada para o Abismo), sendo que este último salienta a fragilidade das provas e comparou o caso brasileiro, na hipótese de haver uma condenação e afastamento de Lula das eleições, com o hondurenho, nas quais as eleições tiveram pouquíssima legitimidade, o que trouxe o país para uma grave crise social (Honduras foi o pioneiro do modelo parlamentar de golpe de Estado na América Latina).

A narrativa de que condenar um líder político da envergadura de Lula através de ilações pode arrastar o Brasil para um Estado de Exceção parecido com o da ditadura é correto. Pode-se argumentar que o sistema judiciário-policial brasileiro sempre foi de exceção - da burguesa em detrimento dos trabalhadores, dos ricos em detrimento dos pobres, dos brancos em detrimento dos negros, dos homens em detrimento das mulheres - e não vou discordar desse fato. O que muda com a condenação de Lula é o espaço que essa exceção pode ganhar. Nos dias atuais, preocupa-se muito com uma suposta justificativa e com a aceitação da opinião pública em relação a ela. Isso funciona como um freio frente às arbitrariedades. O fascismo opera, nos dias atuais, como um vampiro, que só sai para se alimentar durante a noite; depois de legitimada a perseguição contra o campo da esquerda, sob a figura da condenação de Lula, o sol já não vai ser mais um problema para a perseguição vampiresca.

Quem não lembra da cassação da Aliança Nacional Libertadora por Getúlio Vargas, que abriu espaço para o estado de sítio, a cassação dos direitos políticos, a tortura e a ditadura do Estado Novo? Ou mesmo do “julgamento” sumário que Hitler fez, com relação ao incêndio do Reichstag (provocado pelos próprios nazistas), para legitimar a cassação do KDP e do SPD e instaurar a ditadura nazista? Ou até mesmo do expurgo que Stálin empreendeu durante os Processos de Moscou?


ATOS CONTRA A PERSEGUIÇÃO JUDICIAL DO LULA

Porto Alegre amanheceu tomada por apoiadores de Lula. A manifestação contra a perseguição que o ex-presidente sofre, um dia antes do julgamento, foi de grande porte, apresentou entre 80 e 100 mil pessoas. A avenida estava toda tomada.

A ocasião reuniu boa parte da esquerda, seja da velha, quanto da jovem guarda. Diversas forças políticas estiveram presentes. A percepção nítida que se tem, ao questionar as pessoas nas ruas sobre o porquê estar nas ruas no momento, é a de que o golpe parlamentar, desencadeado contra Dilma Rousseff, tem seu potencial catalisador na ação contra Lula. Estar na rua era uma forma de defender a democracia.

A democracia liberal, longe de ser a ideal para a classe trabalhadora, apresenta-se como a última trincheira frente ao avanço conservador. Defendê-la, num momento como este, pode ser uma posição defensiva, mas certamente significa defender a vida de muitos trabalhadores e trabalhadoras, das minorias, frente ao que pode vir a ser um possível Estado policial.

Muitos jovens, como não se viam há um tempo atrás, mulheres principalmente, estiveram presente, o que significa que o lulismo influenciará mais duas gerações, pelo menos. A vanguarda do PC do B, a UJS, estava muito forte no ato e a velha guarda estava toda presente.

Havia delegações de outros países, tanto do Cone Sul (Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile), quanto do Caribe (Costa Rica). A solidariedade internacional pairava em torno daquilo que significou Lula para a integração dos povos americanos. Vários metalúrgicos, sobretudo de Minas Gerais, servidores públicos e aposentados estiveram presentes; a maioria deles apresentaram uma visão realista, no sentido político, do equilíbrio de forças: para eles, defender Lula era a única alternativa contra as reformas que eram colocadas, ou de diminuir seus danos.

O Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra, com a presença de João Pedro Stédile, puxou a frente do ato, como é de praxe. Os Advogados em Defesa da Democracia, grupo político formado por advogados ativistas, que atuam nas manifestações de rua resguardando o direito dos cidadãos de se manifestar livremente, estavam de prontidão. Nenhum incidente foi registrado até o dia do julgamento.


O policiamento era assustador, mas inócuo, porque quando o povo está em grande quantidade, este não teme a força repressiva do Estado.

De acordo com a leitura de Mauro Rogério, que está presente nos atos, a candidatura de Lula escapou de suas mãos, e do próprio partido. O PT jamais colocaria 100 mil pessoas na rua em Porto Alegre, na atual conjuntura de refluxo e com os atuais recursos materiais. O julgamento do ex-presidente tomou um caráter classista, de nós (pobres, trabalhadores, minorias) contra eles (ricos, empresários, maioria). Com a condenação, o queremismo pode transbordar para uma luta de classes (ainda rudimentar, pois as massas ainda são muito crédulas nas soluções por dentro da democracia liberal, mas o que já seria uma certa tomada de consciência, infelizmente ao custo de muita tragédia).

O trabalhador tem o direito de apoiar a candidatura de quem quer que seja, de defender seus companheiros e seus direitos fundamentais, inclusive quando espelhados nos demais. Mesmo que a candidatura apoiada não seja a ideal, o nosso movimento estará junto com a classe trabalhadora, para tentar ao máximo garantir o direito de manifestação e para tomar consciência juntamente com a massa, muito embora, para nós, o ideal seja a auto-organização e a imposição política como classe. Lula representa, para nós, a última chance de estabilização política centrista.




quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Corrupção: Como a Esquerda e a Direita a Enxergam



A destituição de Dilma foi embalada pelo discurso anticorrupção. A polarização ficou clara nessa arena: os partidos de esquerda e centro-esquerda saíram em defesa do mandato da Presidenta, ao passo que a direita votou totalmente a favor de sua queda. Na centro-direita, um ou outro partido vacilante.

A estratégia utilizada pelos verdugos foi a de atribuir crime de responsabilidade a Dilma e, a partir disso, fazer um link com o discurso anticorrupção, aproveitando-se principalmente da situação do ex-presidente Lula perante Sérgio Moro.

Surfando nessa onda, o apoio a candidatos "salvacionistas" crescem de lá para cá, principalmente depois que a Lava Jato abriu a caixa de Pandora da forma burguesa de se fazer política - um alô para Romero Jucá.

A impressão que o senso comum tem ao ver a situação tal como se põe é a seguinte: a direita aposta na moralização, enquanto a esquerda parece "defender vagabundo". Como que os lados veem a questão da corrupção? E o centro, como fica?

Para responder a essas perguntas, devemos nos valer das premissas que fazem gerar o sentido de esquerda e direita, resgatarmos o sentido finalístico de cada uma dessas opções políticas.

A Esquerda é o conjunto de ideologias que acreditam que os seres humanos devem ser socialmente iguais, tendo o mesmo acesso a tudo aquilo que o dignifica, sobretudo educação, saúde e trabalho, enquanto a Direita é o conjunto que entendem que as desigualdades sociais são naturais e, às vezes, até benquistas. A primeira defende a igualdade e a segunda a hierarquização.

Pois bem, a Direita carrega consigo dois tipos principais de militantes: aqueles a favor da defesa do status quo (do estado das coisas), da hierarquia atual - no Brasil, conformam principalmente a gama mais liberal do espectro dos partidos pró-mercado - e aqueles que entendem que a sociedade está em franca decadência e que o status quo deveria voltar a uma época onde a hierarquia era outra, ou a distância hierárquica é entendida como maior - são os grupos conservadores, intervencionistas e até mesmo fascistas da política.

Uma visão há em comum com esses dois grupos: ambos defendem algum status quo. Dessa forma, os dois irão entender que a sociedade estava, em algum momento, no caminho certo, que as leis são boas, que o sistema funciona, e o que estraga a política é a corrupção, que nesse sentido é entendida como a subversão das regras. Para os extremistas, em especial, há a visão de que o progresso (que eles identificam como "degeneração moral") é o que gera a corrupção. Isso explica o porquê de a corrupção ser, para eles, um plano de governo, um motto de campanha eleitoral.

Para a Esquerda, composta por moderados e revolucionários, no entanto, há uma visão de que o sistema não é justo; sua razão de existir é justamente suprimir a hierarquização, visando a igualdade social. O que muda entre os moderados e os revolucionários é o método que deve ser empregado a supressão: os primeiros entendem que, acedendo ao poder pela via democrática, é possível mudar o sistema apenas empreendendo reformas; já os segundos entendem que o confronto é inevitável e que, em alguma altura será necessário empreender alguma derrubada de poder.

Pois bem, seguindo a visão de que o mundo é injusto e de que a missão do ser humano é evoluir nesse sentido, a corrupção surge como consequência dessa injustiça, e não a causa dela.  O acesso fácil pela classe privilegiada (os burgueses) ao poder, em contraposição à dificuldade experimentada pela oprimida (os trabalhadores), faz com que a lei seja um instrumento de manutenção dos privilégios dos burgueses sobre os trabalhadores; como aqueles controlam a execução das leis (via de regra, os juízes, promotores e demais agentes do sistema repressivo do Estado são indicados pelos políticos, que são eleitos pelo impulso dos burgueses), eles ficam livres para não cumpri-la, para corromper (os políticos e trabalhadores) e serem  corrompidos (quando cooperam para superfaturar uma obra pública, por exemplo).

Por essa razão, a Esquerda entende que deve-se acabar com a causa da corrupção, com seu fato gerador, o que torna a pauta da corrupção em si como acessória em seu discurso.

Por fim, temos o centro, que é revisionista, entende que existem desigualdades naturais e desigualdades criadas historicamente, e que estas últimas devem ser suprimidas. Seu discurso vai variar de acordo com a conveniência política. Por exemplo, o Partido dos Trabalhadores, de centro-esquerda, já se valeu do discurso anticorrupção para tentar eleger Lula, nas eleições de 1989 e 1994, mas hoje coloca-se numa posição defensiva. Ao invés de atacar as causas da corrupção, ataca a seletividade dos juízes e parlamentares, individualizando suas condutas, o que demonstra uma postura tipicamente centrista. Já o PSB se dividiu, quando do impeachment de 2016, entre aqueles que encamparam o discurso propalado pela Direita e pela Esquerda.

O cidadão deve fazer um exame de consciência ao escolher o candidato A ou B, afinal, corrupção é o que faz o mundo ser injusto, ou o fato de o mundo ser injusto é o que propicia existir a corrupção? Ao colocarmos um candidato salvacionista na presidência, estaremos realmente resolvendo o problema?

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Invasão da Câmara dos Deputados

do El País, com modificações:

Manifestantes de extrema direita entraram no plenário da Câmara dos Deputados e pediram golpe militar. O governo está se sentindo acuado que outro golpe venha a suplantar o estabelecimento de seu poder no Brasil. Cerca de cem pessoas adentraram ao plenário por volta das 15h30, enquanto deputados discursavam na tribuna e quebraram uma porta de vidro de acesso à Casa.

Quatro deles trocaram socos e chutes com policiais legislativos e foram presos em flagrante. Os agentes tiveram de usar armas de choque para evitar novas agressões. Pelo menos dois funcionários da Câmara foram feridos. Jornalistas e servidores foram retirados do plenário por conta da suspeita de que alguns dos manifestantes estariam armados, fato que não se comprovou.

Foi a primeira vez que um grupo tomou o principal recinto do Legislativo desde a redemocratização do país. Por quase duas horas deputados federais e agentes da Polícia Legislativa tentaram negociar a saída pacífica deles, mas o grupo se negou a deixar o local. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), determinou então, por volta das 18h, que os policiais prendessem os manifestantes. Cerca de 50 deles foram detidos e fichados na Polícia Federal por depredação do patrimônio público e invasão.

A imagem do integrantes do grupo sendo retirada teve um simbolismo fortíssimo. Saíam escoltados pela polícia por debaixo da escada do Congresso Nacional, por onde geralmente passam autoridades em atos solenes. Ao som do hino brasileiro que ecoava em uma caixa de som no gramado do Congresso, os manifestantes deixavam o Legislativo aos aplausos e aos gritos de “valeu, patriotas”. Patriota é um dos termos que militares atribuem uns aos outros. Entre os manifestantes havia vários militares reservistas (aposentados) ou familiares de representantes das Forças Armadas.

Dos 17 entrevistados, apenas um dizia ser contrário a intervenção militar. Todos eles afirmaram que eram anticomunistas, simpatizantes do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), o qual, apesar de dizer ser contra o aparelhamento do Estado, colocou sua família inteira para receber dinheiro público por meio de populismo barato.

A maioria chegou em Brasília no dia 15 de novembro, atendendo a convocações de grupos reacionários nas redes sociais que pediam a invasão do Congresso Nacional e a demissão de todos os políticos de uma só vez. Como a data era um feriado, de proclamação da República, o Legislativo não abriu e a ação não foi possível.

Durante a invasão e após ela, todos os deputados que usaram a tribuna ou concederam entrevistas repudiaram o ato. Até mesmo alguns dos parlamentares mais vinculados à direita se surpreenderam com o protesto. “É um absurdo, uma agressão sem tamanho (...) Não dá para saber se eles são ligados ao PT ou não”, afirmava o deputado Capitão Augusto Rosa (PR-SP). O deputado quis colocar a culpa em movimentos que nada tem a ver com a invasão, e que até a repudiam. Outros também repudiaram o ato: “Esse protesto é o reflexo da divisão que há no país desde a eleição de 2014. Alguns podem imaginar que são pessoas quase lunáticas, que estariam fora do ambiente, mas não são. A nossa democracia está doente e o principal sintoma dessa doença foi o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Agora, todos acham que podem fazer qualquer ato, ainda que ilegal por grupos absolutamente fascistas”, afirmou o deputado Henrique Fontana (PT-RS).