segunda-feira, 22 de julho de 2019

Dark, Paradoxo Temporal e Novas Narrativas


Foto: Cartaz da segunda temporada de DARK


As artes cinematográficas passaram por uma crise de narrativa ao longo do início do século XXI. Olhando mais para o passado que para o futuro, as produções giravam mais em torno do objetivo de atender ao sentimento nostálgico do espectador, do que criticar a sociedade ou mesmo levantar questões filosóficas mais básicas. As narrativas se lançavam sob uma ótica eminentemente liberal, com uma hipertrofia do eu-herói, focada no indivíduo central, ao redor do qual toda a história orbitava. O enredo, invariavelmente, caía em alguma variação da jornada do herói, o que marcava a tônica de toda uma escola liberal de cinematografia – o herói era maior do que o problema, mesmo que o problema fosse maior que a sociedade (como normalmente era, no caso dos super-heróis) e o Estado (assim aconteceu, por exemplo, com Harry Potter, no qual o Ministro da Magia vinha pedir o socorro de um indivíduo de quinze anos, ele mesmo, o sr. Harry Potter). A trama era a história de um personagem ou de um grupo de personagens. Vimos ressurgir velhas franquias e novas franquias, muito embora elas se apoiassem em fórmulas antigas.   
Conforme a crise econômica foi se aprofundando no cenário mundial, a apatia artística marcante da década de 2000 e início da de 2010 foi dando lugar ao pessimismo, e isso não é necessariamente ruim – ao menos não às Artes -, pois deu espaço a novas temáticas e a um novo período criativo. Esse pessimismo tem muito a ver com o futuro da humanidade, com os limites da exploração tecnológica, e com dilemas morais e éticos que emergem disso tudo. As narrativas deixam paulatinamente de focar em indivíduos para contar a história de uma socialidade – isso, mesmo em dramas históricos, como Chernobyl, também se verifica em The Society e DarkStranger Things e The OA olham para alguns dilemas tecnológicos e científicos, mas ainda apresentam uma abordagem de indivíduo, ou de grupo de indivíduos, e a jornada do herói ainda está presente. 
A série Dark lançou sua segunda temporada e teve uma boa aceitação junto ao público. Isso não só porque ele lida com o paradoxo temporal e por trazer diversos questionamentos sobre a nossa interpretação de realidade, mas também pela forma como trabalha as personagens e o roteiro. Não se trata, como em De Volta Para o Futuro, de um herói que viaja no tempo e vive uma aventura, mas de uma história de toda uma cidade, cujas vidas se entrelaçam devido ao paradoxo temporal. É uma história sobre Winden, a cidade, a sua briga contra o tempo e sua destruição a partir de dramas orgânicos que instrumentalizam o uso da viagem temporal para fins próprios.  
O roteiro se apoia em uma visão coerente do paradoxo temporal, no qual a causa nem sempre precede o efeito, pois o efeito da causa pode ser sentido no passado ou a causa estar no futuro de seu efeito, porém, de maneira absurdamente dialética. O universo de Dark busca coerência narrativa ao longo do tempo, e o tempo é uno, logo, se há um viajante ao passado, ele está lá para fazer exatamente aquilo que faz as coisas serem como são. Isto nos gera uma visão fatalista dos acontecimentos, a qual castraria qualquer vontade de poder do ser humano, afinal, as condições do passado já estariam determinadas pelo futuro e o viajante nada mais poderia fazer a não ser agir para confirmar aquela mesma realidade, uma espécie de Maktub. Logo, viajar para o passado não serviria para nada, a não ser para confirmar o próprio futuro e tudo já estaria meio que escrito nas estrelas. 
Eu desconfio, no entanto, que a natureza não estaria muito preocupada com coerência histórica no caso de uma viagem no tempo ser possível. Se um viajante saísse do futuro e voltasse a um passado determinado, ele seria, para o passado, apenas um aglomerado de partículas a mais naquele passado, que poderia agir de forma autônoma, sem compromisso com o futuro. Ele poderia, por exemplo, matar seu pai, para evitar nascer e o máximo que aconteceria seria evitar que ele próprio nascesse de novo e houvesse duas cópias de si, uma mais velha e outra mais nova, perambulando pelo sertão de Goiás - mas ele não sumiria, pois a sua existência já está dada, mesmo que seu passado histórico já não seja o mesmo da linha temporal da História.  
Apesar de ser um drama coletivo, Dark ainda não propôs nenhuma solução coletiva - aliás, não apresentou solução nenhuma; pelo contrário, conforme os eventos vão acontecendo, Jonas vai ganhando cada vez mais protagonismo individual. Isso foi relativizado por uma Martha que surgiu do além, depois de sua própria morte, ao final da segunda temporada. A ver como o casal de roteiristas-diretores irão lidar com a problemática do apocalipse e das múltiplas dimensões. Se eles não caírem na tentação de utilizarem a teoria do multiverso como um deus ex machina que resolva tudo, ainda há chances da série terminar tão boa quanto começou. 

quinta-feira, 18 de julho de 2019

CURVATALKS 03 - TEMPOS DE RESISTÊNCIA




Nesse episódio, iremos receber a ilustre presença de *Carlos Leopoldo Teixeira Paulino*, autor do livro e documentário homônimo “Tempos de Resistência”. Leopoldo iniciou sua militância no movimento secundarista; em 1966 filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e, após o racha do mesmo ano, militou na Dissidência Comunista (DI). Já na Ação Libertadora Nacional (ALN), participou da resistência armada contra a ditadura militar. Preso político, esteve exilado no Chile, na França, Dinamarca, no Panamá e na Argentina Foi preso político pela ditadura de Pinochet em 17 de setembro de 1973. Solto, refigiou-se na Embaixada do Panamá, em Santiago do Chile. De volta ao Brasil, ingressou no Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8) e foi presidente do Comitê Brasileiro pela Anistia em Ribeirão Preto. Após a redemocratização, Leopoldo foi eleito vereador de Ribeirão Preto por seis mandatos. Atualmente milita na Unidade Popular pelo Socialismo, legenda eleitoral organizada pelo Partido Comunista Revolucionário recentemente legalizada pelo TSE. 

Música de abertura: Venceremos, de Quilapayun. Hino da Unidad Popular, coalizão que deu suporte à candidatura e ao governo de Salvador Allende. 

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