terça-feira, 12 de novembro de 2019

Qual o sentido de propor novas eleições sem Evo Morales no atual cenário boliviano?

Artigo do colaborador Luiz Fellipe Lisbôa Mattos, membro do Núcleo Anarquista do Proletariado Revolucionário

Na Bolívia, um setor insiste em apresentar a derrubada do governo Evo Morales como o resultado político de mobilizações populares indispostas com o presidente recém destituído. Esta avaliação desconsidera os motins policiais ou os apresenta como uma tomada de partido da polícia em favor das demandas populares e contra as arbitrariedades cometidas pelo ex-presidente.

Os documentos assinados ou divulgados por essa ala esquerda do golpismo boliviano são a expressão de um projeto político de voo curto. A declaração do Comitê Cívico Nacional, impulsionado desde Chuquisaca, de que se deve convocar novas eleições para recolocar o país na rota da democracia, convida, também, o exército e as polícias a tomarem parte nessa estranha festa da liberdade da qual participam, com seus uniformes militares e bíblias, generais de alta patente, Carlos Mesa, Luis Fernando Camacho e todos os antigos apoiadores de Gonzalo Sánchez de Lozada.

Qual o sentido de propor novas eleições sem Evo Morales no atual cenário boliviano? Facilitar o acesso da direita ao poder? Fazer refluir o confronto entre golpistas e anti-golpistas com a vitória destes últimos?

Evo é acusado de covardia, mas os que o acusam querem capitular diante da ofensiva militar contra o povo e contra a democracia, mais do que isso, apoiam a ofensiva militar e um suposto papel saneador que ela cumpriria neste momento. Ora, se houver derramamento de sangue e ações vandálicas, os responsáveis são aqueles que investiram contra o governo eleito, e se a direita ocupar o poder, deve-se dizer desde agora, a violências será a marca cotidiana do novo governo, como sempre foi durante os anos de dominação da direita boliviana.

A população deve ser mobilizada para impedir que o golpe prevaleça. O exemplo da Federación de Juntas Vecinales de El Alto deve ser seguido por todos os que querem impedir a consolidação de um regime escorado no oficialato das forças armadas, William Kaliman e afins. Deve-se impulsionar, como sugere a federação, a criação dos comitês de autodefesa nos sindicatos e substituir a polícia profissional por membros das comunidades locais.

A partir da criação de organismos controlados pelo povo, pode-se, aí sim, abrir caminho para uma reforma real do poder político a partir dessas bases populares. Que esses organismos tenham vida longa dependerá da campanha política e da experiência das massas no interior da luta contra o golpe, contra os militares e contra a direita.



Os artigos publicados neste blog não necessariamente espelham a orientação política do Diplomatas de Sealand, exceto aqueles de caráter editorial. Esse espaço é cedido como uma forma de democratizar o debate político e a participação popular.



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