Na Bolívia, um setor insiste em apresentar a derrubada do governo Evo Morales como o resultado político de mobilizações populares indispostas com o presidente recém destituído. Esta avaliação desconsidera os motins policiais ou os apresenta como uma tomada de partido da polícia em favor das demandas populares e contra as arbitrariedades cometidas pelo ex-presidente.
Os documentos assinados ou divulgados por essa ala esquerda do golpismo boliviano são a expressão de um projeto político de voo curto. A declaração do Comitê Cívico Nacional, impulsionado desde Chuquisaca, de que se deve convocar novas eleições para recolocar o país na rota da democracia, convida, também, o exército e as polícias a tomarem parte nessa estranha festa da liberdade da qual participam, com seus uniformes militares e bíblias, generais de alta patente, Carlos Mesa, Luis Fernando Camacho e todos os antigos apoiadores de Gonzalo Sánchez de Lozada.
Qual o sentido de propor novas eleições sem Evo Morales no atual cenário boliviano? Facilitar o acesso da direita ao poder? Fazer refluir o confronto entre golpistas e anti-golpistas com a vitória destes últimos?
Evo é acusado de covardia, mas os que o acusam querem capitular diante da ofensiva militar contra o povo e contra a democracia, mais do que isso, apoiam a ofensiva militar e um suposto papel saneador que ela cumpriria neste momento. Ora, se houver derramamento de sangue e ações vandálicas, os responsáveis são aqueles que investiram contra o governo eleito, e se a direita ocupar o poder, deve-se dizer desde agora, a violências será a marca cotidiana do novo governo, como sempre foi durante os anos de dominação da direita boliviana.
A população deve ser mobilizada para impedir que o golpe prevaleça. O exemplo da Federación de Juntas Vecinales de El Alto deve ser seguido por todos os que querem impedir a consolidação de um regime escorado no oficialato das forças armadas, William Kaliman e afins. Deve-se impulsionar, como sugere a federação, a criação dos comitês de autodefesa nos sindicatos e substituir a polícia profissional por membros das comunidades locais.
A partir da criação de organismos controlados pelo povo, pode-se, aí sim, abrir caminho para uma reforma real do poder político a partir dessas bases populares. Que esses organismos tenham vida longa dependerá da campanha política e da experiência das massas no interior da luta contra o golpe, contra os militares e contra a direita.
Os artigos publicados neste blog não necessariamente espelham a orientação política do Diplomatas de Sealand, exceto aqueles de caráter editorial. Esse espaço é cedido como uma forma de democratizar o debate político e a participação popular.
Apoie nosso trabalho em https://apoia.se/diplomatasdesealand
Nenhum comentário:
Postar um comentário