sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Bolsolulismo: uma ideia debiloide para explicar o apoio de parte da esquerda à Operação Lava Jato e ao “Fora Maduro”.

Artigo do colaborador Luiz Fellipe, membro do Núcleo Anarquista do Proletariado Revolucionário

Andamos um pouco distantes dos acontecimentos mais recentes sobre o Chile e a Catalunha, mas a maneira como o governo equatoriano contornou a crise decorrente do aumento de preços do petróleo não dá sinais de desespero por parte da burguesia. A mobilização, num primeiro momento foi contida, e não se precisou fazer uso prolongado do estado de sítio. Em nenhum momento, e isso me leva a conclusões radicalmente diferentes das da TS sobre o papel dos líderes populares, se cogitou lançar mão de Rafael Correa como substituto de Lenín Moreno no papel de contenedor das massas.

O caso colombiano desmente com ainda mais contundência a versão apresentada pela TS: os estudantes que saíram às ruas estão sob influência, predominantemente, da esquerda reformista de lá e de Gustavo Petro, candidato da esquerda moderada nas últimas eleições. São esses os mentores dos protestos de Equador e Colômbia: Rafael Corrêa e Gustavo Petro, coincidentemente, ambos aliados de Nicolás Maduro, o “ditador a serviço da burguesia venezuelana”.

Então, só restaria conceber uma rebelião organizada pelos setores reformistas com vistas a criar instabilidade e se aproveitar dela para retomar o aparelho de estado em apoio à burguesia. Contudo, os exércitos de ambos os países deram mostras, as mais eloquentes, de fidelidade aos governos atuais da direita, por assim dizer, “declarada”, para usar a terminologia infantil da TS. E como esse teatro, seguindo o raciocínio apresentado, substitui a insatisfação das massas, que permanecem desorganizadas, embora insatisfeitas, só nos resta descartar as aparências de luta real e caracterizar o período atual como um período de profunda estagnação, o oposto do que a TS procura demonstrar ao longo de todo o texto. Mas não: há conflitos reais.

Para servir de pano de fundo para as afirmações extravagantes dos nossos colegas, estes introduzem Catalunha e Hong Kong no rol das manifestações populares que ameaçam a estabilidade do regime burguês em nível internacional. Mas a TS não é a maior opositora das manifestações na Catalunha? Elas teriam, agora, um ano depois do início da crise catalã, servido de catalisador para as mais variadas tendências populares?

Vamos à “onda conservadora”, mas vamos sabendo o que se quer dizer com esta sonora expressão. Para os companheiros da TS, não há onda que não dure para sempre, a natureza da onda com que eles pensam fazer analogia é diferente da das ondas convencionais, que se encerram depois de um ciclo relativamente curto, a onda deles é mais como uma onda de desenho animado ou filme de terror, que cresce indefinidamente até arrebentar na costa e fazer naufragar todo o mundo por 40 dias e 40 noites, como na história de Noé, e, mais importante do que isso, o que se confundiu com essa onda gigante é a crise de dominação burguesa, que pode fazer a população pender tanto para a direita quanto para a esquerda. Tratar-se-ia de uma crise de dominação cujos resultados são indefinidos e que, nas suas oscilações internas, seriam apenas caracterizadas como ondas, ondas gigantes, exageradas em tamanho e duração. Ai de quem propuser uma definição mais precisa para tais “ondas”.

No fim, chegamos a um consenso: a direita capitalizou a onda, tirou proveito dela, e todo o palavrório da TS sobre onda, ao fim, serve para endossar uma opinião prévia: PT e Bolsonaro são iguais. Agora, se a TS tinha chegado a esta conclusão empiricamente, desde o início, comparando as medidas repressivas tomadas pelos governos do PT às medidas tomadas pelo governo Bolsonaro, projetando o futuro de um eventual governo Lula que corresponderia à nova etapa da crise capitalista, bastaria dizer isso desde o início e nos poupar da filosofia. O problema é que este governo não parece ser uma opção da burguesia para as amplas massas, afinal de contas, Lula está preso.

E o resto é pura bobagem, bobagem da grosso, daquela que dá indigestão e da qual merecemos ser poupados, antes que nos convençam a participar do próximo ato convocado pela Lava Jato e pelo MBL.

Núcleo Anarquista do Proletariado Revolucionário

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