Procuradores da República discutiram formas de inviabilizar uma entrevista de Lula à colunista da folha Mônica Bérgamo, que havia sido autorizada por Lewandovski, porque, em suas palavrasm ela “pode eleger o Haddad” ou permitir “a volta do PT”.
De acordo com o despacho do Ministro do STF, o Plenário do STF havia assegurado a plena liberdade de imprensa como categoria proibitiva de qualquer censura prévia. Um clima de pânico acometeu os procuradores.
A procuradora Isabel Groba escreveu: “Mafiosos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!” - com 21 exclamações
Laura Tessler, outra procuradora, afirmou no grupo: “sei lá… mas uma coletiva antes do segundo turno pode eleger o Haddad”, demonstrando claro interesse em influenciar no processo eleitoral.
Ao mesmo tempo, Detran Delanhol conversava com uma tal de “Carol PGR”, que lhe confessou: “ando muito preocupada com uma possível volta do PT, mas tenho rezado muito para Deus iluminar nossa população para que um milagre nos salve”
A reunião seguiu como a de um comitê pró-Bolsonaro. Descartada a possibilidade de impedir a entrevista, eles passaram a debater qual o formato que traria menos benefício para o Molusco - uma entrevista solo, ou uma coletiva de imprensa.
O procurador Januário Paludo propôs:
“Plano A: tentar recurso no próprio STF, possibilidade zero
Plano B: Abrir para todos fazerem a entrevista no mesmo dia. Vai ser uma zona, mas diminui a chance de a entrevista ser direcionada”
Athayde Ribeiro Costa sugeriu que a Polícia Federal manobrasse para que a entrevista fosse feita depois das eleições, já que a decisão não havia especificado data. Ao final, a entrevista foi somente autorizada em abril. A PF, sob o comando de Sérgio Moro, tentou transformá-la numa coletiva de imprensa, tal qual o Januário tinha proposto.
Laura Tessler criticou o fato de a Procuradora-Geral da República, Raquel Doge, não intencionar entrar com recurso. De acordo com ela, a PGR queria ganhar o apoio da imprensa (só a Lava Jato pode ter apoio da imprensa, viu, senhores?)
Às 22:49, os procuradores puderam respirar aliviados: Julio Noronha compartilhou que o Partido Nôvo havia recorrido e que Fux havia acatado. Ou seja, um partido liberal pediu o cerceamento da liberdade de imprensa e os procuradores que deveriam ser imparciais comemoraram.
Quatro dias antes da denúncia contra o Lula no caso tríplex ser apresentada, Dallagnol tinha dúvidas sobre a solidez da história que contaria para Moro nos autos: que o tríplex havia sido um presente após supostamente favorecer a empreiteira em contratos com a Petrobrás.
No grupo, rebatizado de “Incendiários ROJ” - os caras se acham, sei lá, do BOPE - Dallagnol falou:
“Falarão que estamos acusando com base em notícia de jornal e indícios frágeis”
“Até agora, tenho receio da ligação entre a Petrobrás e o enriquecimento, e depois que me falaram, estou com receio da história do apartamento”
Para sanar o problema, o procurador apresentou um Power Point…
A ligação do apartamento com a corrupção na petrolífera havia gerado uma guerra jurídica naqueles meses: se não houvesse tal elo, o caso deveria ficar em São Paulo, longe das mãos de Sérgio Moro. Os promotores do MPSP entendiam que o tríplex não tinha nada a ver com o Petrolão, mas com o Caso Bancoop - eles argumentavam, sobretudo, que, quando Marisa e Lula começaram a pagar a cota-parte do imóvel, em 2005, não havia qualquer indício de corrupção na Petrobrás.
Com a revelação das conversas, percebe-se que sequer havia convicção da ligação com a Petrobrás.
Um dia depois, o Detran vibrou com o que leu nos documentos da denúncia encaminhados por seus companheiros
“Vou dar um beijo em quem de vocês achou isso” - tendências à bissexualidade
Tratava-se de um artigo d’O Globo intitulado: “Caso Bancoop: tríplex do casal Lula está atrasado”. A reportagem era de 2010 e não mencionava a Petrobrás, dizia simplesmente que a falência da cooperativa que construía o prédio poderia prejudicar o casal, uma vez que a entrada da OAS no negócio encareceria o valor da compra.
Ele se animou, porque a reportagem dizia que o casal já era dono do imóvel em 2010; no entanto, a mesma reportagem, na verdade, confirmava a tese da defesa, de que o triplex era uma opção de compra lançada pela Bancoop, quando da sua falência. Ao final da matéria, aparece justamente uma cooperada que havia investido para a construção de um imóvel, mas que, com o aumento do valor, preferiu receber de volta o valor investido. A reportagem também confirmava que a entrada da OAS, ou de uma incorporadora qualquer, diante da falência, não era uma exclusividade do prédio do Lula, o que esvaziava a tese de se tratar de uma vantagem indevida. O texto também coloca como fonte uma declaração eleitoral de Lula de 2006, que consta: “Participação Cooperativa Habitacional - apartamento em construção no Guarujá”. A cota poderia ser utilizada para qualquer apartamento e a palavra triplex não aparece em nenhuma lista de bens.
Outra inconsistência, a reportagem diria que o apartamento de Lula ficaria no prédio B, que seria prejudicado pelo prédio A, pois taparia a vista para o mar; o triplex atribuído como pagamento a Lula, denunciado por Dallagnol, ficava na torre A: ou seja, a acusação sequer sabia qual que era o objeto da denúncia.
Dallagnol, falou ao grupo:
“Acho que o slide do apartamento tem que ser didático também. Imagino o mesmo do Lula, balões ao redor do balão central, ou seja, evidências ao redor da hipótese de que ele era o dono” - ou seja, aquele slide que ficou uma bosta foi planejado
Dois dias depois de oferecer a denúncia, Dallagnol conversou com Moro, reclamando que a opinião pública tinha achado o slide dele uma merda. Confirmou que havia utilizado a expressão “líder máximo” para vincular o Molusco aos 87 milhões de desvio, e não somente ao valor do triplex. Dallagnol sempre demonstrou, nas suas conversas, ter muito apreço à sua imagem perante a opinião pública - narcisista do caralho.
Sérgio Moro atuou além de sua competência como juiz e deu pistas informais para Dallagnol, ajudou a conduzir operações e tramou para tirar o PT do poder.
Atuou como um verdadeiro juiz-acusador, o que contamina a sua suposta imparcialidade.
Em fevereiro de 2015, Moro passou uma pista sobre o caso Lula:
“Então. Seguinte. Fonte me informou que a pessoa do contato estaria incomodado por ter sido a ela solicitada a lavratura das minutas de escrituras para transferências de propriedade de um dos filhos do ex-presidente. Aparentemente, a pessoa estaria disposta a prestar informação. Estou então te repassando. A fonte é séria”
Nota-se aqui uma preocupação em conseguir uma forma de ajudar a acusação. De acordo com o Código do Processo Penal:
“O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes se aconselhar qualquer das partes” (Art. 254, V).
Dallagnol ligou para a fonte, mas ela se recusou a falar. Relatou em seguida ao Sérgio Loro e confessou que queria forjar uma denúncia anônima para intimá-la:
“Estou pensando em fazer uma intimação oficial até, com base em notícia apócrifa”
O juiz, ao invés de falar, “não, mano, vc está fazendo cagada”, endossou a gambiarra:
“Melhor formalizar então”.
Em março do ano seguinte, as ruas testemunhavam diversas manifestações pró-impeachment. Dallagnol parabenizou Moro:
“Parabéns pelo imenso apoio público hoje. (...) Seus sinais conduzirão multidões” - Dallagnol devia de achar que Moro era uma espécie de Jesus Cristo do avesso.
Moro responde com falta modéstia
“Parabéns para todos nós (...) Ainda desconfio muito da nossa capacidade institucional de limpar o congresso. O melhor seria o congresso se autolimpar, mas isto não está no horizonte. E não sei se o STF tem força suficiente para processar e condenar tantos e tão poderosos” - discurso higienista e messiânico.
Três dias depois, Dilma tenta nomear Lula para a Casa Civil e incendiaria a política brasileira. Moro divulgou uma conversa grampeada entre a Presidenta e o Molusco. Mas não sem antes acertar os ponteiros com o MPF:
“A decisão de abrir está mantida mesmo com a nomeação, confirma?”
“Qual a posição do MPF?”
“Abrir”
No despacho, Moro escreveu algo interessante: “Apesar disso, pela relevância desse diálogo para o investigado, não há falar em direito da privacidade a ser resguardado, já que ele é relevante jurídico-criminalmente para o ex-presidente”. Ou seja, o direito à intimidade, para Moro, é menor do que o interesse público em saber das conversas. Espero que esse entendimento também sirva para esse vazamento do Intercept contra ele…
Seis dias depois, Dallagnol afirmou:
“A liberação dos grampos foi um ato de defesa”
E Moro respondeu: “Não me arrependo do levantamento do sigilo. Era a melhor decisão. Mas a reação está ruim”. Na semana seguinte, após um sermão do falecido Teori Zavascki, Moro pediu desculpas (apesar de não ter se arrependido) ao Supremo Tribunal Federal e ficou tudo por isso mesmo.
No meio do ano, Dallagnol apresentou uma prévia impressionante dos indícios de corrupção revelados pela delação de 77 executivos. Tinha tucano e PMDBista no meio. Sérgio Moro resolveu então pisar no freio.
“Reservadamente. Acredito que a revelação dos fatos e abertura dos processos deveria ser paulatina para evitar um abrupto pereat mundus”
Depois de dois meses, cobrou o MPF: “Não é muito tempo sem operação?”. Dallagnol então preparou uma outra operação.
Depois que nomes de peso do tucanato e do PMDB foram implicados, Sérgio Moro tentou limitar o escopo dos investigados:
“Opinião: Melhor ficar com os 30% iniciais. Muitos inimigos e que transcendem a capacidade institucional do Ministério Público e Judiciário”
Pouco antes do dia da audiência do Lula, devido à grande comoção que estava nas ruas, com mais de trinta mil apoiadores, Moro passou um sermão para o MPF: “Que história é essa que vocês querem adiar? Vocês devem estar brincando”. Dallagnol intercedeu junto ao relator substituto para rejeitar o pedido de adiamento: “Defenderemos manter. Falaremos com Nivaldo”
Em junho deste ano, Sérgio Moro afirmou para a imprensa que nunca havia utilizado o Telegram e afirmou que seu telefone tinha sido invadido.