“Por favor, mostrem como podemos reformar ou mudar [o Conselho] e trabalhar pela paz. Se não houver alternativa, então a próxima opção seria dissolvê-lo completamente.”
Esta é a mais nova escalada discursiva de Volodymyr Zelensky em relação às contradições da institucionalidade internacional vigente. A frase foi dita ao Conselho de Segurança da ONU, depois de haver um tensionamento pelo mandatário ucraniano pela imediata afiliação do país à OTAN e à União Europeia, ambas negadas pelas respectivas organizações.
Além de haver uma afinidade ideológica muito grande entre Zelensky e Putin, a estratégia de política internacional dos dois, em matéria de guerra, se complementam em muitos sentidos.
O papel do Putin é mais claro no embate ocidentalista. Já Zelensky causa um dano incalculável à legitimidade das alianças ocidentais, em especial à OTAN, quando mostra suas limitações operacionais e mesmo ideológicas. Causa também um dano irreparável à suposta imagem universalista da União Europeia quando tensiona uma candidatura à jato para o bloco - e causa ressentimento principalmente aos europeístas ucranianos.
Não bastasse todo o cataclisma econômico que o mundo ocidental abraçou para apoiar a causa ucraniana, Kiev agora coloca em xeque a legitimidade do próprio Conselho de Segurança da ONU, dizendo que se ele não pode fazer nada, deve fechar de uma vez. Tal Conselho é decorrência da dominação atlantico-europeia no sistema mundo no pos-guerra em matéria de institucionalização internacional. Deslegitimar o CS é deslegitimar a própria Ordem de São Francisco e a Comunidade Internacional como um todo, algo que cai no colo não só do interesse da Rússia, mas que é agenda clara dos tradicionalistas - Dugin/Putin (Rússia), falecido Olavo de Carvalho/Bozo (Brasil), Praviy Sector (Ucrânia), Orban (Hungria), Bannon/Trump (EUA), pra dizer apenas os mais proeminentes.
Se tem algo que une Ucrânia, Rússia e Partido Republicano é a agenda antiglobalização.