(Foto: Roberto Parizotti/Fotos Publicas)
No dia 1.º de julho, milhares de entregadores se reuniram no vão livre do MASP para reivindicar melhores condições de trabalho e pagamento. O movimento contrapunha o discurso ideológico do empreendedorismo, uma falácia que busca confundir o trabalhador com a figura do "colaborador", uma artimanha para ludibriar os interesses das classes envolvidas. A principal característica dessa greve, assim como de tantas outras que têm surgido pelo mundo afora, é o espontaneísmo de uma categoria que, embora não tenha organização sindical, sente na pele os conflitos de classe do capitalismo contemporâneo.
Os sindicatos vêm sido sistematicamente atacados pelo projeto neoliberal, desde, pelo menos, os anos 70. O objetivo dessa investida é individualizar os trabalhadores, de forma a competirem entre si, erradicando a solidariedade de classe, para conseguir, em seguida, depreciar o custo da mão de obra e concentrar, ainda mais, a renda da riqueza produzida. Com a revolução tecnológica que assistimos a partir dos anos 2000, os aplicativos de entrega se colocaram como supostos intermediadores entre entregadores e donos de estabelecimentos comerciais, aprofundando a individualização e a concorrência intra-classe. O resultado, ao longo do tempo, não tem sido a emancipação do sujeito-trabalhador, mas uma forma brutal de precarização que se aprofunda ainda mais com a crise do coronavírus e que nos remete aos primórdios da Revolução Industrial. Com essa greve, os conflitos de classe voltam à tona e, com eles, a questão sindical: afinal, quando temos trabalhadores organizados, demandando por seus direitos, não temos aí um sindicato?
Vale lembrar que vários marcos regulatórios, como a Reforma Trabalhista, vem sendo utilizado para desagregar os sindicatos constituídos, desfazer direitos, e colocar os trabalhadores em extrema insegurança. Até os dias atuais, verificamos que a maioria das centrais sindicais e sindicatos estão lutando para sobreviver e se colocando na defensiva; com o acirramento das contradições de uma sociedade que privilegia o lucro acima da vida, toda essa mecânica será escancarada ainda mais e empurrará os trabalhadores a buscarem organização, como estamos vendo com o Breque dos Apps. Podem tentar esvaziar seus marcos jurídicos, mas a necessidade material dos trabalhadores, a verdadeira classe produtora, jamais vai deixar que os sindicatos deixem de existir.
Fernando Tremura é advogado, guarda universitário e representante de base do SINTUSP (Sindicato dos Trabalhadores da USP)
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