OPINIÃO DO EDITORIAL DO JORNAL WASHINGTON POST SOBRE A GUERRA COMERCIAL E CAMBIAL CONTRA A CHINA.
Atritos com a China não irão longe. Os Estados Unidos precisam de uma estratégia melhor.
Para onde estão os Estados Unidos guiando seu confronto contra a China, agora que a disputa deixou de ser meramente comercial e se transformou em uma batalha cambial - com desdobramentos perigosos em Hong Kong e Taiwan avultando-se ao fundo?
Por acaso os Estados Unidos têm uma estratégia nessa competição que ora se escala? As ferramentas diplomáticas e militares americanas são adequadas para as sutilezas dos desafios que estão por vir? A ansiedade crescente americana sobre Pequim está criando uma política de pãnico que superestima as ameaças chinesas e subestima a força estadunidense?
Esta "batalha por primazia" contra a China foi o tópico do encontro anual do Aspen Strategy Group, um grupo de ex-secretários de estado, conselheiros de segurança nacional e outros oficiais seniores, suplementados por alguns jornalistas e formadores de opinião, que se juntam durante uma semana desde 1984.
"O consenso de nosso encontro foi que a guerra comercial contra a China é, de longe, o maior desafio da segurança nacional que os Estados Unidos enfrentarão nas próximas décadas", disse Nicholas Burns, um professor de Harvard e ex-subsecretário de estado que serviu como diretor do grupo. O fórum concordou que "a fundação da política americana em relação à China tem de ser a força interna dos Estados Unidos", disse.
Depois de três dias de discussão, era possível notar um grande apoio sobre a visão de outros temas específicos: China se tornou um rival potente na área militar e tecnológica, bem como na influência econômica, e o presidente Trump está certo em adotar uma linha mais dura que seus antecessores nas práticas comerciais bilaterais. Porém, as políticas de Trump têm sido mais uma coleção de táticas mutáveis ao invés de um plano sistemático para lidar com a China -- "têm sido mais uma atitude do que uma estratégia", de acordo com um membro do grupo Aspen.
As tarifas impostas pelo governo americano têm produzido um crescente olho-por-olho durante esta semana, chegando ao ponto máximo de a China deixar o câmbio desvalorizar abruptamente, enquanto os Estados Unidos responderam acusando o governo chinês de ser um manipulador cambial. O ex-secretário do tesouro Lawrence H. Summers, que não é um alarmista usual, avisou segunda-feira em um tweet que "nós podemos estar no momento financeiro mais perigoso desde a Crise Financeira de 2009".
"A raiva pública e frustração em relação à China estão lá, mas a política e a estratégia não estão", disse ao grupo Kevin Rudd, um ex-primeiro-ministro australiano. "No presente momento, vocês não têm estratégia, isto é uma realidade".
O que preocupa o grupo é que a luta econômica de Trump está acontecendo com um pano de fundo de desafios de segurança potencialmente explosivos -- os protestos crescentes em Hong Kong e as eleições em janeiro em Taiwan que Pequim vê como uma província rebelde. Essas duas batalhas políticas trazem um risco de intervenção militar chinesa, a qual os Estados Unidos não estão preparados.
Philip Zelikow, um ex-oficial do Departamento de Estado que leciona na Universidade de Virgínia, advertiu o que ele enxerga como "uma chance em três de haver uma crise de grande porte em Taiwan nos próximos anos". O grupo pondera como os Estados Unidos devem reagir em caso de intervenção chinesa, não importa o quanto ela seja improvável no momento.
As opções militares estadunidenses poderiam ser arriscadas no caso de uma crise em Taiwan. Em mais de uma dúzia de guerras na última década, os relatórios apontam que os Estados Unidos e aliados saíram perdendo. "A força que temos não torna possível a vitória", avisa Chris Brose, ex-diretor de gabinete da Comissão de Serviços Armados do Senado Federal. Em uma confrontação no estreito de Taiwan, "uma força tarefa não duraria um minuto, Okinawa seria um lugar para soldados morrerem".
O grupo concorda que os Estados Unidos devem se preparar para um período longo e dificultoso de competição com a China, que não pode mais ser considerada como uma parceira benigna. "Atrito é o novo normal", disse David Shambaugh, um pesquisador sobre a China que leciona na Universidade George Washington.
Porém, conforme a discussão progride, membros do grupo salientam que o mais importante para os Estados Unidos é não reagir com desproporcionalidade, tanto em Taiwan, quanto em qualquer outra questão, e se lembrar das forças perenes americanas -- se elas são adequadas para resolver os problemas políticos atuais.
As conversas de Aspen não foram um chamado para a corrida armamentista contra a China, mas um chamado para uma política de segurança nacional prudente. China está ganhando peso no balanço de poder, disse o professor Graham Allison, mas os Estados Unidos retêm a balança se mantiver a parceria com aliados como o Japão e a Europa e trazê-los à competição.
Rudd somou-se àqueles que clamaram por uma estratégia clara por parte de Trump neste contexto: "As chances são 50-50", disse ao grupo. "Tudo depende do que vocês irão fazer -- e da confiança em vocês mesmo". É um jogo longo, que requererá os mais preciosos e escassos recursos nos Estados Unidos -- paciência, unidade e decisão.
"A raiva pública e frustração em relação à China estão lá, mas a política e a estratégia não estão", disse ao grupo Kevin Rudd, um ex-primeiro-ministro australiano. "No presente momento, vocês não têm estratégia, isto é uma realidade".
O que preocupa o grupo é que a luta econômica de Trump está acontecendo com um pano de fundo de desafios de segurança potencialmente explosivos -- os protestos crescentes em Hong Kong e as eleições em janeiro em Taiwan que Pequim vê como uma província rebelde. Essas duas batalhas políticas trazem um risco de intervenção militar chinesa, a qual os Estados Unidos não estão preparados.
Philip Zelikow, um ex-oficial do Departamento de Estado que leciona na Universidade de Virgínia, advertiu o que ele enxerga como "uma chance em três de haver uma crise de grande porte em Taiwan nos próximos anos". O grupo pondera como os Estados Unidos devem reagir em caso de intervenção chinesa, não importa o quanto ela seja improvável no momento.
As opções militares estadunidenses poderiam ser arriscadas no caso de uma crise em Taiwan. Em mais de uma dúzia de guerras na última década, os relatórios apontam que os Estados Unidos e aliados saíram perdendo. "A força que temos não torna possível a vitória", avisa Chris Brose, ex-diretor de gabinete da Comissão de Serviços Armados do Senado Federal. Em uma confrontação no estreito de Taiwan, "uma força tarefa não duraria um minuto, Okinawa seria um lugar para soldados morrerem".
O grupo concorda que os Estados Unidos devem se preparar para um período longo e dificultoso de competição com a China, que não pode mais ser considerada como uma parceira benigna. "Atrito é o novo normal", disse David Shambaugh, um pesquisador sobre a China que leciona na Universidade George Washington.
Porém, conforme a discussão progride, membros do grupo salientam que o mais importante para os Estados Unidos é não reagir com desproporcionalidade, tanto em Taiwan, quanto em qualquer outra questão, e se lembrar das forças perenes americanas -- se elas são adequadas para resolver os problemas políticos atuais.
As conversas de Aspen não foram um chamado para a corrida armamentista contra a China, mas um chamado para uma política de segurança nacional prudente. China está ganhando peso no balanço de poder, disse o professor Graham Allison, mas os Estados Unidos retêm a balança se mantiver a parceria com aliados como o Japão e a Europa e trazê-los à competição.
Rudd somou-se àqueles que clamaram por uma estratégia clara por parte de Trump neste contexto: "As chances são 50-50", disse ao grupo. "Tudo depende do que vocês irão fazer -- e da confiança em vocês mesmo". É um jogo longo, que requererá os mais preciosos e escassos recursos nos Estados Unidos -- paciência, unidade e decisão.
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