No último domingo, a equipe de Michel Temer se reuniu com representantes das associações de caminhoneiros para traçar um plano para pôr fim à greve-locaute dos caminhoneiros e transportadoras, que entra hoje para o seu 8.º dia. O acordo assinado apresenta o compromisso do governo federal em:
- diminuir o preço do diesel em R$ 0,46 por sessenta dias; finda a data, os reajustes do preço final serão mensais, e não mais diários;
- isentar eixos suspensos em todas as rodovias do país;
- estabelecer um piso nacional para todos os fretes;
- reservar 30% do valor dos fretes da Conab para os caminhoneiros autônomos.
Algumas das entidades mais representativas dos caminhoneiros gostaram do novo acordo, principalmente porque ele atende, prioritariamente, os interesses dos empresários de frete. O que esperar daqui para frente? A seguir, faço algumas análises da situação para os caminhoneiros e para o trabalhador em geral
- O acordo aprovado não levou em consideração as questões trabalhistas (os caminhoneiros são um dos tipos de proletário urbano mais precarizados do Brasil), portanto, é de se esperar que, embora o movimento perca força, o caráter patronal suma e a greve-locaute se torne uma greve mesmo, somente com pautas trabalhistas e sem o apoio da burguesia;
- Outra galera que não vai desmobilizar tão fácil assim é aquele povo que quer um golpe militar no Brasil, pois eles tiveram uma real ascensão no discurso político com a greve-locaute. Estes irão continuar encampando a suposta luta contra a corrupção, instando alguns caminhoneiros a “resistirem” ao acordo para fazer um Brasil “melhor”;
- Portanto, haverá um reabastecimento parcial, mas a greve continua por mais alguns dias;
- Para o consumidor comum, nada muda; a formação do preço da gasolina continua o mesmo, as altas vão continuar da mesma forma como eram antes, podendo inclusive acontecer diariamente
- A tendência de alta para todos os combustíveis, inclusive para o diesel, vai continuar, pois o mundo caminha para uma enorme insegurança, face às crises da Venezuela, da Síria e da Coreia do Norte (o que puxa o valor do barril para cima) e à política isolacionista de Donald Trump (que faz valorizar o dólar);
- O custo do subsídio no óleo diesel vai ser bancado pelo contribuinte, como o próprio governo federal já falou, e pelo industriário. A equipe de Temer vai reonerar a folha de pagamento da Indústria e, como protesto, os barões da FIESP vão mandar vários trabalhadores embora, a pretexto de “readequar” sua folha de pagamento, gerando mais desemprego e aprofundando o processo de pauperização da população;
- O setor industriário pode se virar contra o governo de Michel Temer, inclusive fazendo incursões golpistas, tal como fez várias vezes ao longo de nossa história;
- A inflação tende a aumentar nessas duas semanas, a começar por hoje, devido aos efeitos do reabastecimento. Em seguida, vai haver uma arbitragem natural dos preços que acontecerá de acordo com a permissividade do consumidor. Certamente, o preço final vai ser maior do que aquele que seria justo, pois o consumidor está traumatizado e tenderá a comprar os bens a um preço injusto, especialmente os perecíveis, gerando uma pressão inflacionária inercial;
- Outra pressão inflacionária advirá do aumento dos tributos para bancar o subsídio do diesel e ambas as pressões inflacionárias acontecem sem um aumento real de renda - ou seja, é o pior tipo de inflação possível.
- Outra onda de desabastecimento pode acontecer devido à greve de três dias dos petroleiros, mas ela será mais fraca que a dos caminhoneiros, tendo impactos maiores no comércio exterior e no resultado da Balança Comercial
- Os setores intervencionistas ganharam ímpeto com a greve. Em reação, Michel Temer tende a aumentar o militarismo de seu governo, fazendo aproximações com um golpe em prol de uma ditadura civil. O movimento de extrema-direita encontra-se rachado em torno do grande (pró-Temer), do médio oficialato (pró-Mourão e autoritarismo judiciário) e da extrema-direita “light”, que quer chegar ao poder através do voto - e depois o que acontece dali por diante é lucro.