quinta-feira, 18 de julho de 2019

CURVATALKS 03 - TEMPOS DE RESISTÊNCIA




Nesse episódio, iremos receber a ilustre presença de *Carlos Leopoldo Teixeira Paulino*, autor do livro e documentário homônimo “Tempos de Resistência”. Leopoldo iniciou sua militância no movimento secundarista; em 1966 filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e, após o racha do mesmo ano, militou na Dissidência Comunista (DI). Já na Ação Libertadora Nacional (ALN), participou da resistência armada contra a ditadura militar. Preso político, esteve exilado no Chile, na França, Dinamarca, no Panamá e na Argentina Foi preso político pela ditadura de Pinochet em 17 de setembro de 1973. Solto, refigiou-se na Embaixada do Panamá, em Santiago do Chile. De volta ao Brasil, ingressou no Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8) e foi presidente do Comitê Brasileiro pela Anistia em Ribeirão Preto. Após a redemocratização, Leopoldo foi eleito vereador de Ribeirão Preto por seis mandatos. Atualmente milita na Unidade Popular pelo Socialismo, legenda eleitoral organizada pelo Partido Comunista Revolucionário recentemente legalizada pelo TSE. 

Música de abertura: Venceremos, de Quilapayun. Hino da Unidad Popular, coalizão que deu suporte à candidatura e ao governo de Salvador Allende. 

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terça-feira, 18 de junho de 2019

SINDICAST 01 - GREVE GERAL




Bom dia a você que acorda às cinco e meia da manhã para gerar riqueza para o patrão, enquanto ele sai para pescar numa quarta-feira. Está começando o primeiro SINDICAST, o podcast favorito de militantes, ativistas e pelegos da classe trabalhadora.

Hoje irei conversar com o Luís Ribeiro, jornalista e dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da USP, sobre a Greve Geral contra a Reforma da Previdência.


CURVACAST 14 - VAZA JATO



Procuradores da República discutiram formas de inviabilizar uma entrevista de Lula à colunista da folha Mônica Bérgamo, que havia sido autorizada por Lewandovski, porque, em suas palavrasm ela “pode eleger o Haddad” ou permitir “a volta do PT”.
De acordo com o despacho do Ministro do STF, o Plenário do STF havia assegurado a plena liberdade de imprensa como categoria proibitiva de qualquer censura prévia. Um clima de pânico acometeu os procuradores.

A procuradora Isabel Groba escreveu: “Mafiosos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!” - com 21 exclamações

Laura Tessler, outra procuradora, afirmou no grupo: “sei lá… mas uma coletiva antes do segundo turno pode eleger o Haddad”, demonstrando claro interesse em influenciar no processo eleitoral.

Ao mesmo tempo, Detran Delanhol conversava com uma tal de “Carol PGR”, que lhe confessou: “ando muito preocupada com uma possível volta do PT, mas tenho rezado muito para Deus iluminar nossa população para que um milagre nos salve”

A reunião seguiu como a de um comitê pró-Bolsonaro. Descartada a possibilidade de impedir a entrevista, eles passaram a debater qual o formato que traria menos benefício para o Molusco - uma entrevista solo, ou uma coletiva de imprensa.

O procurador Januário Paludo propôs:

“Plano A: tentar recurso no próprio STF, possibilidade zero
Plano B: Abrir para todos fazerem a entrevista no mesmo dia. Vai ser uma zona, mas diminui a chance de a entrevista ser direcionada”

Athayde Ribeiro Costa sugeriu que a Polícia Federal manobrasse para que a entrevista fosse feita depois das eleições, já que a decisão não havia especificado data. Ao final, a entrevista foi somente autorizada em abril. A PF, sob o comando de Sérgio Moro, tentou transformá-la numa coletiva de imprensa, tal qual o Januário tinha proposto.

Laura Tessler criticou o fato de a Procuradora-Geral da República, Raquel Doge, não intencionar entrar com recurso. De acordo com ela, a PGR queria ganhar o apoio da imprensa (só a Lava Jato pode ter apoio da imprensa, viu, senhores?)

Às 22:49, os procuradores puderam respirar aliviados: Julio Noronha compartilhou que o Partido Nôvo havia recorrido e que Fux havia acatado. Ou seja, um partido liberal pediu o cerceamento da liberdade de imprensa e os procuradores que deveriam ser imparciais comemoraram.



Quatro dias antes da denúncia contra o Lula no caso tríplex ser apresentada, Dallagnol tinha dúvidas sobre a solidez da história que contaria para Moro nos autos: que o tríplex havia sido um presente após supostamente favorecer a empreiteira em contratos com a Petrobrás.
No grupo, rebatizado de “Incendiários ROJ” - os caras se acham, sei lá, do BOPE - Dallagnol falou:

“Falarão que estamos acusando com base em notícia de jornal e indícios frágeis”

“Até agora, tenho receio da ligação entre a Petrobrás e o enriquecimento, e depois que me falaram, estou com receio da história do apartamento”

Para sanar o problema, o procurador apresentou um Power Point…

A ligação do apartamento com a corrupção na petrolífera havia gerado uma guerra jurídica naqueles meses: se não houvesse tal elo, o caso deveria ficar em São Paulo, longe das mãos de Sérgio Moro. Os promotores do MPSP entendiam que o tríplex não tinha nada a ver com o Petrolão, mas com o Caso Bancoop - eles argumentavam, sobretudo, que, quando Marisa e Lula começaram a pagar a cota-parte do imóvel, em 2005, não havia qualquer indício de corrupção na Petrobrás. 

Com a revelação das conversas, percebe-se que sequer havia convicção da ligação com a Petrobrás.

Um dia depois, o Detran vibrou com o que leu nos documentos da denúncia encaminhados por seus companheiros

“Vou dar um beijo em quem de vocês achou isso” - tendências à bissexualidade

Tratava-se de um artigo d’O Globo intitulado: “Caso Bancoop: tríplex do casal Lula está atrasado”. A reportagem era de 2010 e não mencionava a Petrobrás, dizia simplesmente que a falência da cooperativa que construía o prédio poderia prejudicar o casal, uma vez que a entrada da OAS no negócio encareceria o valor da compra.

Ele se animou, porque a reportagem dizia que o casal já era dono do imóvel em 2010; no entanto, a mesma reportagem, na verdade, confirmava a tese da defesa, de que o triplex era uma opção de compra lançada pela Bancoop, quando da sua falência. Ao final da matéria, aparece justamente uma cooperada que havia investido para a construção de um imóvel, mas que, com o aumento do valor, preferiu receber de volta o valor investido. A reportagem também confirmava que a entrada da OAS, ou de uma incorporadora qualquer, diante da falência, não era uma exclusividade do prédio do Lula, o que esvaziava a tese de se tratar de uma vantagem indevida. O texto também coloca como fonte uma declaração eleitoral de Lula de 2006, que consta: “Participação Cooperativa Habitacional - apartamento em construção no Guarujá”. A cota poderia ser utilizada para qualquer apartamento e a palavra triplex não aparece em nenhuma lista de bens.

Outra inconsistência, a reportagem diria que o apartamento de Lula ficaria no prédio B, que seria prejudicado pelo prédio A, pois taparia a vista para o mar; o triplex atribuído como pagamento a Lula, denunciado por Dallagnol, ficava na torre A: ou seja, a acusação sequer sabia qual que era o objeto da denúncia.

Dallagnol, falou ao grupo:

“Acho que o slide do apartamento tem que ser didático também. Imagino o mesmo do Lula, balões ao redor do balão central, ou seja, evidências ao redor da hipótese de que ele era o dono” - ou seja, aquele slide que ficou uma bosta foi planejado

Dois dias depois de oferecer a denúncia, Dallagnol conversou com Moro, reclamando que a opinião pública tinha achado o slide dele uma merda. Confirmou que havia utilizado a expressão “líder máximo” para vincular o Molusco aos 87 milhões de desvio, e não somente ao valor do triplex. Dallagnol sempre demonstrou, nas suas conversas, ter muito apreço à sua imagem perante a opinião pública - narcisista do caralho.


Sérgio Moro atuou além de sua competência como juiz e deu pistas informais para Dallagnol, ajudou a conduzir operações e tramou para tirar o PT do poder.

Atuou como um verdadeiro juiz-acusador, o que contamina a sua suposta imparcialidade.

Em fevereiro de 2015, Moro passou uma pista sobre o caso Lula:

“Então. Seguinte. Fonte me informou que a pessoa do contato estaria incomodado por ter sido a ela solicitada a lavratura das minutas de escrituras para transferências de propriedade de um dos filhos do ex-presidente. Aparentemente, a pessoa estaria disposta a prestar informação. Estou então te repassando. A fonte é séria”

Nota-se aqui uma preocupação em conseguir uma forma de ajudar a acusação. De acordo com o Código do Processo Penal:

“O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes se aconselhar qualquer das partes” (Art. 254, V).

Dallagnol ligou para a fonte, mas ela se recusou a falar. Relatou em seguida ao Sérgio Loro e confessou que queria forjar uma denúncia anônima para intimá-la:

“Estou pensando em fazer uma intimação oficial até, com base em notícia apócrifa”

O juiz, ao invés de falar, “não, mano, vc está fazendo cagada”, endossou a gambiarra:

“Melhor formalizar então”.

Em março do ano seguinte, as ruas testemunhavam diversas manifestações pró-impeachment. Dallagnol parabenizou Moro:

“Parabéns pelo imenso apoio público hoje. (...) Seus sinais conduzirão multidões” - Dallagnol devia de achar que Moro era uma espécie de Jesus Cristo do avesso.

Moro responde com falta modéstia

“Parabéns para todos nós (...) Ainda desconfio muito da nossa capacidade institucional de limpar o congresso. O melhor seria o congresso se autolimpar, mas isto não está no horizonte. E não sei se o STF tem força suficiente para processar e condenar tantos e tão poderosos” - discurso higienista e messiânico.

Três dias depois, Dilma tenta nomear Lula para a Casa Civil e incendiaria a política brasileira. Moro divulgou uma conversa grampeada entre a Presidenta e o Molusco. Mas não sem antes acertar os ponteiros com o MPF:

“A decisão de abrir está mantida mesmo com a nomeação, confirma?”

“Qual a posição do MPF?”

“Abrir”

No despacho, Moro escreveu algo interessante: “Apesar disso, pela relevância desse diálogo para o investigado, não há falar em direito da privacidade a ser resguardado, já que ele é relevante jurídico-criminalmente para o ex-presidente”. Ou seja, o direito à intimidade, para Moro, é menor do que o interesse público em saber das conversas. Espero que esse entendimento também sirva para esse vazamento do Intercept contra ele…

Seis dias depois, Dallagnol afirmou:

“A liberação dos grampos foi um ato de defesa”

E Moro respondeu: “Não me arrependo do levantamento do sigilo. Era a melhor decisão. Mas a reação está ruim”. Na semana seguinte, após um sermão do falecido Teori Zavascki, Moro pediu desculpas (apesar de não ter se arrependido) ao Supremo Tribunal Federal e ficou tudo por isso mesmo.

No meio do ano, Dallagnol apresentou uma prévia impressionante dos indícios de corrupção revelados pela delação de 77 executivos. Tinha tucano e PMDBista no meio. Sérgio Moro resolveu então pisar no freio.

“Reservadamente. Acredito que a revelação dos fatos e abertura dos processos deveria ser paulatina para evitar um abrupto pereat mundus”

Depois de dois meses, cobrou o MPF: “Não é muito tempo sem operação?”. Dallagnol então preparou uma outra operação.

Depois que nomes de peso do tucanato e do PMDB foram implicados, Sérgio Moro tentou limitar o escopo dos investigados:

“Opinião: Melhor ficar com os 30% iniciais. Muitos inimigos e que transcendem a capacidade institucional do Ministério Público e Judiciário”

Pouco antes do dia da audiência do Lula, devido à grande comoção que estava nas ruas, com mais de trinta mil apoiadores, Moro passou um sermão para o MPF: “Que história é essa que vocês querem adiar? Vocês devem estar brincando”. Dallagnol intercedeu junto ao relator substituto para rejeitar o pedido de adiamento: “Defenderemos manter. Falaremos com Nivaldo”

Em junho deste ano, Sérgio Moro afirmou para a imprensa que nunca havia utilizado o Telegram e afirmou que seu telefone tinha sido invadido.



quinta-feira, 30 de maio de 2019

PAULO GUEDES CHANTAGEIA A CLASSE TRABALHADORA


Após a comemoração a um certo humorista da rede SBT, alinhada ao governo Bolsonaro, o ministro da Fazenda Paulo Guedes se viu tendo que se explicar perante a imprensa sobre o fraco resultado da economia de seu ministério ultraliberal - o PIB do primeiro trimestre recuou 0,2% e chegou ao mesmo patamar que 2012; analistas já dizem que o crescimento da renda, se é que vai acontecer, deve ser menor que 1% e os banqueiros já soltaram inúmeros informes e declarações de que o mal resultado se deve à estagnação da Reforma da Previdência.

Nos mesmos moldes da promessa de abundância de empregos após a Reforma Trabalhista, na época do Temer, que não veio, Paulo Guedes afirmou que liberaria o saque do FGTS e do PIS-Pasep dos trabalhadores ativos para reaquecer a economia, mas somente se a Reforma da Previdência fosse aprovada, num claro gesto de chantagem, tal qual fez Abraham Weintraub em relação ao contingenciamento criminoso de 30% das verbas do ensino público. A estratégia de Guedes é torrar toda a poupança pública (inclusive da Seguridade Social) e explicar o milagre do consumo subsequente à Reforma; mas, para além disso, o ministro sabe o tamanho do endividamento das famílias, sabe que muitos estão tão desesperados que aceitaria qualquer dinheiro fácil no momento, mesmo que isso signifique não se aposentar depois - a ocasião faz o ladrão. O Tchuchuca dos Banqueiros afirmou, inclusive, um milagre de queda de juros após a Reforma, pois o "mercado" ficaria confiante para investir - esquece de dizer, no entanto, que os banqueiros controlam os juros independente do nível de consumo e investimento, tamanha é a concentração de riqueza no setor, que é oligopolizado.

A dica deste blog é: não se desespere pelas dívidas. Pegue todo empréstimo que conseguir e dê calote. Quando os bancos te procurarem, diga que somente pagará quando a Reforma da Previdência for arquivada. Devolva a chantagem na mesma moeda.

quarta-feira, 29 de maio de 2019

O SEGUNDO ASSASSINATO DE TROTSKY - e, de quebra, de Stalin, Lênin, Larissa Reissner e tantos outros.


Durante a comemoração dos cem anos da Revolução Russa, a TV estatal russa promoveu a produção da série "Trotsky", a qual caiu nas graças do Ocidente e foi parar na Netflix. Imagine que você está fazendo cem anos de idade e, para comemorar, seus filhos prometem uma festa de arromba; chegada a data da festividade, aparece aqueles carros de som brega, com fumaça com cheiro de morango, que te expõem ao ridículo perante toda a comunidade. Pior, depois de fazer todas aquelas pirotecnias de segunda, alguém abre o microfone e resolve falar sobre a importância sua na vida dos familiares - e destrói a sua reputação perante todos.

Trotsky foi assassinado duas vezes - uma, no México, a mando do poder stalinista, contra o qual rivalizava ativamente, outra, de forma parcelada, com o assassinato de sua reputação. É inegável que, provavelmente, o revolucionário não tivesse uma personalidade fácil. Tocar uma revolução armada, em meio à maior guerra que o mundo conhecia até então (a Primeira Guerra Mundial), não é uma coisa que as correntes paz e amor da esquerda, propugnadas pelas facções alinhadas à teologia da libertação da Igreja Católica, conseguiria fazer. Não obstante, é importante ter em mente que, mesmo em meio a uma guerra civil de grandes proporções, o Partido Bolchevique preservou, até certo tempo, um importante modelo de tomada de decisões, na qual a base tinha a última palavra e o comitê central tomava decisões que poderiam ser referendadas pelos sovietes e pela base do partido; ou mesmo que, se houvesse tempo hábil, determinada decisão importante deveria ser debatida por essas instâncias mais populares de poder. Tal foi o caso do Tratado Brest-Litovski, no qual a Rússia abria mão de boa parte de seu território para conseguir sair da guerra e consolidar a sua revolução. O seriado apresenta esse episódio como sendo um momento de decisão única e exclusivamente de Trotsky, o que irritaria Lênin. É verdade que o Presidente do Comissariado do Povo bolchevique teria ficado contrariado com o grau de concessão, mas ele mesmo havia impulsionado o negociador russo, Trotsky, a conceder o que fosse preciso para consolidar a revolução; houve uma intensa participação dos sovietes para aprovar a proposta e, além disso, o próprio Lênin agiu perante o comitê central e o Politburo para passar a proposta de tratado da forma como se apresentava. A produção também não mostra as condições na qual o tratado foi assinado: a Alemanha pressionava a Rússia com intensas ofensivas militares, os bolcheviques experimentavam graves derrotas e o Exército Vermelho ainda não estava consolidado. Além disso, a atitude do partido bolchevique de tentar fazer emergir uma insurreição alemã para expandir a revolução proletária para a Europa Central é solenemente ignorada.

A série "comemorativa" dos cem anos da Revolução Russa também distorceu completamente os revolucionários envolvidos na guerra. Lênin é apresentado como um líder fraco, oportunista, que joga nos bastidores, que se utiliza do discurso para "manobrar a massa"; o Trotsky netflixiano é visto como um fanático que pouco apreço tinha pela vida dos demais, um ser completamente desumanizado, messiânico, diabólico (arrogante talvez tenha sido, ao se levar em consideração a postura sectária de seu fã clube, que mais se preocupa com o "ópio da revolução", do que com fomentar as bases da solidariedade para avançar na tomada de poder); Stalin aparece como um psicopata invejoso, incapaz, meio zumbificado, que fica puto com Trotsky devido a sua impertinência em não apertar a sua mão... Ignora-se completamente a forma como o dissenso é construído nas instâncias políticas, principalmente nas da classe trabalhadora: nos discursos internos, na geração de facções internas, nas alianças antagônicas e, porque não, no objetivo de chegar ao poder para apresentar um projeto de continuação. Em "Trotsky", no entanto, tudo é apresentado como mera intriga, com ares de novela das nove que bem poderia ser produzido pela Rede Globo se esta falasse russo.

Larissa Reissner, uma combatente da guerra civil, jornalista, uma mulher forte, é apresentada como uma mera "cortesã" de Trotsky, um objeto de conquista sexual que é utilizada por ele dentro de seu trem mágico, que bem poderia ser utilizado em um filme do Harry Potter. Após seu voluntariado, Larissa torna-se comissariada do Partido Bolchevique e espiã nas linhas inimigas, realizando grandes feitos heroicos. Não há qualquer registro bibliográfico que ateste a relação, sexual ou afetiva, entre Larissa e Leon, muito embora os dois tenham participado de algumas batalhas comuns. E mesmo que tivesse uma relação entre os dois, Larissa era uma mulher emancipada, e não uma cortesã que deveria satisfazer os desejos aristocráticos de Trotsky.

Sobre o Terror Revolucionário, numa das cenas do começo da série, Trotsky sai do trem fantástico para estancar um motim e aplica um decimatio, uma forma de punição romana na qual se assassina 10% de um destacamento que teria desertado; é verdade que a violência revolucionária, aprendida na época do exemplo jacobino da Revolução Francesa, foi utilizado, mas, como bem demonstra a Ordem n.º 59, Trotsky não fuzilava aleatoriamente, mas somente os desertores. Os desertores de Kapel, que foram sim fuzilados, não o foram a mando  de Trotsky, mas de um tribunal revolucionário militar de campanha e tampouco foi utilizado o decimatio; Stalin criticou Trotsky pelas execuções por ele estar enviado os próprios bolcheviques à morte. Antes disso, ele dá um relógio caro a um soldado, para afirmar que seriam iguais - demonstrando um populismo tão fajuto, que lembra o presidente brasileiro assinando com a caneta Bic ou lavando roupas no tanque para passar a imagem que era do povão.

A relação de Lênin e Trotsky não era, desde o princípio, de troca de farpas. De início, não houve uma conversa maluca na qual Lênin dizia que queria "mudar o mundo" e supostamente perguntado o papel do povo nisso tudo. Trotsky foi convidado por Lênin a se apresentar em Londres, onde o partido redigia seu jornal. O líder bolchevique queria conhece-lo e convidá-lo a fazer parte do jornal Iskra; apenas quando o próprio Lênin convida-o a participar da direção é que as desavenças com Plekanov surgem. Trotsky conhece Natasha em uma palestra sobre emigrados, e não em um condomínio do seu desafeto. Após a revolução, Trotsky e Lênin trabalharam juntos e moraram quase juntos durante meses - e ninguém tentou jogar ninguém da sacada. Parvus e Trotsky eram conhecidos desde 1903, quando os dois trabalhavam juntos no mesmo jornal; Parvus ajudou-o a desenvolver a sua Teoria da Revolução Permanente e a sua vida era voltada para a política, e não para a obtenção de vantagens econômicas oportunistas. Somente depois de ter voltado para a Rússia, Parvus fez estranhos negócios com Gorky e outras tantas tratativas bizarras - sua amizade política com os comunistas havia cessado, no entanto. É bom também notar que Lênin não era o covarde que a série retrata; participou e comandou ativamente a tomada de poder de Outubro, lado a lado com Trotsky.

Stalin atacou pelo flanco das ligações colaboracionistas que Trotsky tinha no Partido Menchevique - porém, no exterior, não se fazia muita distinção entre o que seria Menchevique e o que seria Bolchevique. Era uma estratégia discursiva que visava polarizar o partido entre Trotsky e Stalin, para que um deles chegasse ao poder - ao fim e a cabo, a rivalidade se tornou paranoia e Stalin mandou assassiná-lo brutalmente, mas não por um jornalista que estava fazendo uma série de entrevistas, mas por um espião contratado que vai a casa de Trotsky apenas com a intenção de mata-lo. As ordens do regime stalinista se justificava no fato de a União Soviética estar terrivelmente atrapalhada na Segunda Guerra Mundial e que Trotsky poderia liderar uma contrarrevolução - algo que seu oponente realmente tinha em mente quando construiu a fragmentada Quarta Internacional para contrapor Stalin e aproveitar o cenário de guerra para fomentar a contrapropaganda. Não foi apenas por um aperto de mão.

Nenhum dos envolvidos é uma espécie de messias, por mais que frações idolatrem tanto a Trotsky, quanto a Stalin e Lênin. Porém, a vida revolucionária, a vida política em última instância, jamais deveria ser novelizada. Isto atende a um ideal de despolitização que muito serve ao poder estabelecido.

quinta-feira, 9 de maio de 2019

CORTE DE VERBAS NA ÁREA DE EDUCAÇÃO



          Uma coisa que é unanimidade no Brasil é a opinião que o governo Bolsonaro tem sido uma surpresa para todos - mesmo para quem ainda o defende-, não tanto pelo seu projeto de poder, mas pelos meios utilizados para conseguir atingir suas metas messiânicas de destruição.
           Utilizando-se de formas pouco ortodoxas para entregar as riquezas brasileiras ao capital financeiro, o capitão do Manicômio-Geral da República escalou verdadeiros profissionais experientes em porra-nenhuma para tocar seu projeto ideológico sanatorial; apesar de haver grande concorrência, o mais ousado até aqui é Abraham Weintraub, o ministro cinco-bola que lê receitas de Cafta nas horas vagas.
           Seu mais novo ataque, o contingenciamento de 1/3 das verbas destinadas ao ensino superior, com a promessa de devolução após a aprovação da Reforma da Previdência, é uma verdadeira extorsão de mão dupla: de um lado se pressiona o trabalhador a aceitar uma reforma miraculosa da Previdência (e a gente sabe bem a natureza desses "milagres" financeiros) e de outro se esconde o interesse tacanho das universidades privadas, muitas delas querelantes do fim do dinheiro fácil do Fies e do Prouni, as quais conseguiram acelerar misteriosamente em 70% o seu registro junto ao governo Bolsonaro.
           Com verba insuficiente, as universidades públicas terão que cancelar parte substancial de suas despesas de custeio e seus investimentos (isto se agrava com o fim das bolsas de agências de fomento como a CAPES e, possivelmente, o CNPq) e, se não contido o ataque, haverá um fosso geracional na nossa pesquisa.
           Os efeitos não são somente de curto prazo: cada aluno que abandona a graduação e a pós é um elo destruído na corrente do conhecimento, uma corrente que liga doutores a mestres, mestres a iniciandos, e iniciandos ao público externo, mediante os projetos de extensão; a lacuna deixada por esses alunos terá que ser suprida posteriormente a partir ou de um período muito mais dispendioso de formação para superar essa lacuna geracional, ou de importação de tecnologia e conhecimento estrangeiro, o que gerará uma dependência ainda maior do Brasil ao capital intelectual estrangeiro.
           Mas não se enganem, eles não fazem isso por não saber os resultados. Isso tudo é um projeto político que vinha sendo gestado há muito! Perdemos nossas condições de vida, perdemos nosso futuro, perderemos nossa soberania. Tudo em prol do capital financeiro e da subserviência a interesses escusos.



A hora de reagir é agora.

SERVIDORES DE RIBEIRÃO PRETO MANTÊM A GREVE APÓS PROPOSTA VAZIA DE TUCANO



Greve dos servidores da educação em Ribeirão Preto se estende por tempo indefinido, dissídio entra em fase judicial e movimento promete unificação com a Greve Nacional da Educação 

Os funcionários da educação do município de Ribeirão Preto decidiram em Assembleia não aceitar uma proposta absurda do prefeito Duarte Nogueira (PSDB), que previa o não desconto das horas paradas, mediante reposição e, quando puder, negociação de uma reposição salarial. Parece piada, mas não: é apenas a arrogância dos políticos neoliberais diante dos trabalhadores que aflora em decorrência da ascensão da extrema direita. 
A greve iniciou-se em meados de abril, diante das iniciativas de precarização do Prefeito e foi alvo de diversas tentativas por parte da mídia de ser desmantelada. Uma delas tratou-se de espalhar fake news diziam que a Justiça havia considerado a greve ilegal e que o sindicato deveria dissolvê-la, incorrendo em multa se não o fizesse. Em editorial publicado em seu site, o Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto, Guatapará e Pradópolis desmentiu haver recebido qualquer intimação e se defendeu, também, de uma boataria propugnada pelo Prefeito de que o Tribunal de Contas considerava a greve ilegal. O Sindicato esclareceu que se tratava da opinião pessoal de um conselheiro do Tribunal de Contas e que não havia nenhuma decisão administrativa sequer tramitando na Corte de Contas (ou que ao menos sequer haviam tomado ciência de qualquer processo administrativo por meio de intimação). Vencida a campanha de desinformação, diante de uma denúncia de um servidor de que a Prefeitura estaria empregando propaganda irregular e cometendo outras improbidades administrativas, como o pagamento de avenças sem homologação judicial, o Sindicato protocolou um pedido de impeachment, mas a instauração da investigação não foi aprovada pela Câmara, que é controlada pelo governo. 
Com a extensão da greve e os ataques sucessivos dos grandes capitalistas à educação pública, a greve dos servidores da educação de Ribeirão Preto irá se unificar com a Greve Nacional da Educação, no próximo dia 14, cuja articulação ganhou força após o governo federal contingenciar mais de 30% do orçamento das universidades públicas. Tal medida governamental acontece como um instrumento de pressão contra o Legislativo e os trabalhadores para aceitarem a aprovação da Reforma da Previdência.