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quarta-feira, 6 de julho de 2016

O Brasil e a Questão Palestina

A votação da Partilha

O grau de interesse brasileiro pela Questão Palestina é pouco expressivo. A Política Externa Brasileira se orienta em utilizar suas posições naquela região para traduzir e projetar suas posições em defender um arranjo da ordem internacional mais favorável ao Brasil, ou seja, uma ordem multipolar. Não obstante, o voto brasileiro no caso da Palestina, quando da eclosão da problemática em 1945, foi visando a metas de curto prazo, no caso, o alinhamento com os Estados Unidos (a troco de nada).

Sob Lula, o Oriente Médio voltou a ter espaço na agenda internacional brasileira. O Brasil participou, a convite da Casa Branca, da Conferência de Annapolis, em 2007, ocasião em que voltou-se a haver a discussão do processo de paz entre palestinos e israelenses. O chanceler brasileiro, Sr. Celso Amorim, reconheceu que o Brasil não poderia sonhar em ter um papel concreto na resolução do litígio, mas poderiam chamar a atenção par a alguns problemas -- tal como era o papel do coro no teatro grego.

Voltando-se para antes de 1945, chegamos a um Brasil semifascista e antissemita governado por Getúlio Vargas, no período conhecido como Estado Novo. Quando a Segunda Guerra Mundial chegou ao fim, GV não resistiu à onda democratizante que surgiu, a qual vinha somada ao intervencionismo americano.

A coisa era tão explícita que o embaixador dos Estados Unidos chegou a discursar em sindicatos e nos jornais, a favor de Getúlio Vargas, mas contra o Queremismo e a Constituinte com Getúlio. Embora de forte ingerência, a historiografia oficial diz que Vargas autorizou o conteúdo dos discursos. Não obstante, a União Democrática Nacional (avô do PMDB) e a imprensa (o velho PiG, já muito atuante naquela época) fizeram uma interpretação do discurso mais voltada às suas pretensões liberais, e transformaram o não apoio do embaixador ao Queremismo em um apoio à democratização. Embora tenham ajudado a balançar o galho, os Estados Unidos não foram os responsáveis pela queda de Getúlio Vargas.

Durante o Estado novo, a PEB pregava uma equidistância pragmática entre os dois polos de poder emergentes, os Estados Unidos e a Alemanha nazista. Paulatinamente e fazendo uso de muita barganha política, Vargas foi transformando a equidistância em um alinhamento negociado com os Estados Unidos. Vão-se os dedos, ficam-se os anéis. Acaba a Segunda Guerra, cai Getúlio Vargas e entra o presidente Dutra, o eterno BR-116, o vendilhão que trocou o alinhamento pragmático pelo alinhamento automático, esperando prebendas dos Estados Unidos por apoiar suas posições imperialistas no cenário internacional. Apoiavam Eurico Gaspar Dutra a burguesia agrária conservadora e a nova burguesia industrial, todos muito medrosos com o "esquerdismo" das camadas populares, aquele velho medo que o opressor tem de que o oprimido entenda que é ele quem banca a boa vida do primeiro.

A democracia era meramente formal. Incorporava muito do corporativismo e das medidas restritivas de direitos de segurança nacional do Estado Novo. O PCB conseguiu se reorganizar em poucos meses e conseguiu uma expressiva bancada para a constituinte e, por isso, foi preciso aos barões cassar sua inscrição eleitoral.

No plano internacional, o Brasil queria ser parceiro preferencial dos Estados Unidos, e assim achava que seria ao dizer "amém" para tudo o que os gringos queriam. A subserviência era tamanha, que o rompimento de relações com Stalin, sem o menor motivo jurídico ou econômico, seria o emblema do quanto o Itamaraty estava prostrado perante o tio Sam, sem ganhos nenhuns, pois os novos arranjos internacionais excluíam o Brasil.

O MRE estava nas mãos de Raul Fernandes (UDN), que tinha O Estado de São Paulo como seu aliado/patrão midiático. A delegação brasileira na ONU era comandada por Oswaldo Aranha, o qual, apesar de ter uma notória rivalidade com o BR-116, não perdeu seu lugar na política internacional brasileira, graças ao seu prestígio na área. A diferença básica entre o posicionamento do chanceler Raul Fernandes e do chefe da delegação brasileira Oswaldo Aranha é que o primeiro achava que ao Brasil não cabia discordar do voto americano nos organismos multilaterais; já o segundo era a favor do alinhamento pragmático com os Estados Unidos.

Dutra e Raul acreditavam piamente que uma terceira guerra mundial estava prestes a acontecer e que era necessário formar um bloco contra o comunismo; o estressamento deliberado das populações por parte das superpotências influenciou o governo brasileiro. Aranha, no entanto, sabia que era remota a possibilidade de um conflito internacional de grandes proporções, uma vez que existia até mesmo um certo grau de colaboração entre os dois condomínios no sistema ONU. Para ele, não era muito inteligente fazer de nossa solidariedade com a causa americana uma servidão.

Oswaldo Aranha foi eleito presidente da primeira sessão ordinária da Assembleia Geral da ONU e começou a ganhar voz, fazendo com que o BR-116 precisasse afirmar formalmente que seguiria a linha de Raul Fernandes. O peso de Oswaldo Aranha na diplomacia brasileira era tão grande que, mesmo sem o apoio de Raul Fernandes ou do Departamento de Estado americano, seria reconduzido à presidência da sessão ordinária da Assembleia Geral, voltando de Nova Iorque como o maior estadista do Brasil desde o Barão do Rio Branco. Aranha queria a neutralidade brasileira e Fernandes queria apoiar, aumentando os vínculos, achando que assim esse apoio seria revertido em benefícios em favor dos brasileiros, especialmente com relação à superioridade militar na América do Sul e na construção da Nova Ordem Internacional; os Estados Unidos, não obstante, não tinham o menor interesse em conceder vantagens especiais ao país sul-americano, o que foi confirmado pela Missão Abbink.

O resultado desse processo foi o Brasil votar juntamente com os Estados Unidos, apesar das pressões dos imigrantes sírio-libaneses do país, que conformavam 10 vezes mais representantes do que os judeus. Portanto, apesar de ter preferido a formação de um único Estado em que convivessem harmoniosamente judeus e palestinos, sob o arranjo de uma federação, a política externa brasileira não teve espaço para ser formulada e levada ao debate internacional.

Outro fator que fez os brasileiros penderem pro lado americano foi a esperança de encontrar o seu apoio nos problemas da Bacia da Prata, onde Juan Domingo Perón fazia um governo populista que era entendido como comunista pelos sofistas oligárquicos da época.

Tanto a Liga Árabe quanto o movimento sionista fizeram pressão para ganhar o apoio brasileiro na Questão Palestina.Cabe ressaltar, no entanto, que o movimento sionista era muito mais organizado e tinha um poder de expressão muito maior do que os árabes. Foi graças a essa pressão, por exemplo, que BR-116 revogou a proibição de 1938, decretada por Vargas, no qual os imigrantes judeus eram tidos como indesejáveis.

Raul Fernandes desejava a equidistância dos judeus e dos árabes. De acordo com suas comunicações, a melhor atitude que a delegação poderia tomar seria a abstenção, dada a oposição dos árabes à partilha e a existência de uma grande comunidade sírio-libanesa no Brasil; mas, se isso significasse não alcançar 2/3 para que a resolução fosse aprovada, deveríamos votar com as grandes potências. Com a criação do Estado de Israel, haveria um acirramento das contendas. Mesmo sendo preconceituoso, por ter supostamente favorecido a causa sionista, Aranha foi considerado "amigo de Israel". Cabe lembrar que no mundo inteiro, e no Brasil não seria diferente, o nacionalismo foi sobrepujado pela Guerra Fria. 

Carlos Lacerda, jornalista brasileiro que atuou nos golpes contra Getúlio Vargas, que acabaram levando-o ao suicídio, adota uma posição crítica com relação ao apoio brasileiro à causa sionista. Primeiramente, questiona a legitimidade dos judeus em reclamarem aquele torrão de terra, uma vez que os árabes estavam lá assentados há mais de duzentos anos; questiona também que toda essa problemática foi levada a cabo graças aos Estados Unidos, uma vez que era de seu interesse dividir o território em dois estados, graças à sua grande e influente comunidade judaica. Levantou também a hipótese de que os principais povos vencedores da Segunda Guerra, apesar de comover suas populações com o Holocausto, não queriam os povos judaicos em seus territórios, e por isso queriam exportá-los para um lar nacional bem longe. Discordava também da absurda ideia de o Brasil mandar soldados para compor as tropas da ONU, para morrer por uma promessa que Lord Balfour fez a Lord Rothschild, sendo que nenhum dos dois pertenciam à Palestina -- era um crime contra a autodeterminação dos povos, claramente.

O primeiro-ministro egípcio, Nakrashi Pasha, disse: "O seu país é um dos responsáveis pelo sangue que vai correr na Palestina". E assim tem sido.

As posições do Brasil imediatamente posterior à partilha da Palestina.

Finda a votação e depois do circo da declaração de independência dos israelenses, os exércitos dos países árabes que circundam a Palestina invadiram o território, como haviam prometido caso Israel fosse aceito pela ONU. Rolou então a Guerra de Independência. A internacionalização de Jerusalém não aconteceu, sendo ela partilhada entre Israel e Jordânia.

O Brasil tomou algumas atitudes que foram denunciadas como incoerentes, mas que tinha um motivo muito bem claro. Recusou-se a reconhecer Israel de direito e absteve-se na votação para o seu ingresso na ONU, relutando-se a estabelecer relações diplomáticas. A primeira motivação era comum da direita delirante desse país: ...Não ria, pf... Okay. Raul Fernandes e Dutra tinham medo de que o governo provisório israelense estivesse contaminado por alienígenas comunistas. Havia também a preocupação em não prejudicar as relações árabes e um legado antissemita deixado pelo Estado Novo entre os funcionários do Itamaraty, que dizem que se sobrepunha ao trabalho de Aranha. 

No entanto, o motivo internacional mais coerente para a abstenção e para o não reconhecimento de Israel era o não cumprimento da res. 181, principalmente no que diz respeito ao Estatuto de Jerusalém.

À medida em que o cenário vai se definindo, a abstenção vai perdendo a credibilidade, uma vez que havia o interesse brasileiro que todas as nações tivessem representação nas Nações Unidas. A influência do Vaticano também não pode ser negligenciada, pois também queriam a internacionalização de Jerusalém e livre acesso à Cidade Santa.

A partir de 1948, começou a ficar claro para a diplomacia brasileira de que a ajuda econômica americana não viria e que o Brasil estava relegado a segundo plano nas relações internacionais. Como reação, o Itamaraty começou a formular discursos "principistas e moralistas", apegando-se à letra do direito internacional. Uma postura de maior cautela foi adotada e uma fervorosa defesa dos princípios da Carta de São Francisco iniciou-se. Portanto, as posições com relação a Israel podem ser entendidas também como sintoma desse ressentimento. A partir de 1949, já não existia mais aquele medo latente da terceira guerra mundial e o Brasil voltava-se para dentro, para as eleições. 

A Comissão de Diplomacia da Câmara dos Deputados também opinou por retardar o conhecimento, tendo em vista que havia uma grande indefinição nas dimensões do território do novo estado; poucos sionistas no Brasil (10% do número de árabes); uma grande comunidade árabe; e uma clara violação da Resolução 181. Os judeus entenderam que isso fazia parte do jogo político e lançaram uma ofensiva, acusando a massa do Itamaraty como os responsáveis pela paralisia.

Houve também um congelamento de expectativas. Em 1951, Getúlio Vargas anunciou relações diplomáticas com Israel. O estadista prometeu que as questões internacionais seriam tratadas de forma diferente da época do chanceler Raul Fernandes; não obstante, a política externa com relação a Israel não mudaria, ainda que alguns cidadãos judeus fossem escutados pelo presidente. 

Ou seja, durante o período Dutra, o Brasil perdeu uma enorme autonomia e Getúlio Vargas utilizava a Questão Palestina como uma forma de enunciar sua linha de ação mundial. 

Os motivos para não se chegar a um acordo com relação à partilha podem ser sintetizados como sendo frutos:
1) do sionismo inflexível, incapaz de aceitar um meio termo e uma partilha do território que sequer eram deles;
2) do oportunismo árabe, que também se via inflexível até perder quase todo o território e não aceitar negociar a partilha de forma sincera;
3) da fraqueza dos órgãos multilaterais, tanto a falta de autoexecutoriedade da vontade da AG/ONU, quanto da paralisia do Conselho de Segurança, graças ao poder de veto dos dois grandes condomínios de poder: EUA e URSS.

Atualmente, as ocupações de Israel em áreas palestinas colocam dificuldades em achar uma solução para o conflito. A paz parece estar longe por essas bandas.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

A Questão Palestina

A Questão Palestina

As raízes históricas do conflito árabe-israelense datam do século XIX, a partir do momento que os judeus migraram para a região para se juntar aos judeus remanescentes das seguidas diásporas que aconteceram.

A bíblia costuma explicar a diáspora judaica como sendo produto da ira divina contra a idolatria e rebeldia do povo de Israel e Judá. A História, porém, atribui esse movimento devido ao confronto do povo judaico, que desejava subjugar todas as culturas e povos adjacentes.

A dispersão começa ao norte, quando os Assírios invadem e reduzem dez das doze tribos de Israel. Judá consegue se safar por um momento, pagando pesados tributos, mas não resiste à invasão de Nabucodonosor II, rei da Babilônia. 



Reino da Babilônia
 
A segunda diáspora aconteceu bem depois e foi causada pelo Império Romano, quando estes invadiram e destruíram Jerusalém; foi quando os judeus adentraram, como comunidade, no sul da Europa e no norte da África.

No contexto dos nacionalismos do final do século XIX, a ideologia da pátria é absorvida pelas comunidades judaicas, surgindo daí o sionismo, o qual pregava o retorno dos judeus à região da Palestina. Porém, se os judeus saíram, outros entraram, e eram justamente os muçulmanos oriundos principalmente da Síria e do Império Turco-Otomano. Cabe ressaltar que, apesar de sempre estar populada, a Palestina nunca foi parte daqueles que submetiam, mas sim dos que eram submetidos.

Sionismo. 
 
O nacionalismo judeu surge na mesma esteira dos demais nacionalismos europeus, tratando-se de um movimento secular que pregava que a criação de um lar nacional era a única forma dos judeus sobreviverem e conservarem suas tradições. No entanto, não tinham um pedaço exato de terra em mente para atender aos seus anseios, tanto é que os primeiros sionistas cogitaram inclusive criarem um assentamento judaico na Argentina, no Chipre, na África Oriental ou até mesmo no Congo.

Quando chega-se ao consenso dos nacionalistas israelitas de que a Palestina era o "melhor" local para a criação do Estado judaico, nasce o sionismo. O projeto enquadrava-se nas pretensões das grandes potências, que já preparavam o caminho para o debâcle do Império Turco-Otomano, que já fazia hora extra na Terra. No entanto, para a maioria dos rabinos e demais judeus, o sionismo era uma ideia herege, uma vez que quem promoveria a redução de Israel seria o próprio deus. Alguns consideravam a ideologia, inclusive, perigosa demais para o judaísmo autêntico.

Os sionistas, no entanto, não demorariam em remendar a ideologia, dizendo que o Estado-nação que intentavam não ousava concorrer com a esperança messiânica. Outros diziam que se tratava de um ponto de partida para a redução messiânica. Os principais herdeiros dessa corrente reúnem os opositores mais ferrenhos à devolução de qualquer parcela da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, conquistadas após o Yom Kippur e os Seis Dias.

O sionismo ficou mais popular entre os judeus seculares, durante o séc. XIX, que eram perseguidos. Emigraram para a Palestina para fugir da xenofobia e do antissemitismo. Toda a relutância ao projeto sionista acabaria quando a opinião pública foi confrontada com os horrores do Holocausto.

Jacob Tsur via o sionismo como um Movimento de Libertação Nacional (o que soa bem estranho, uma vez que eles estavam diversos em vários países e não se insurgiam contra o local que morava, mas contra um povo que estava bem estabelecido em um território que eles nunca haviam pisado). Usava a lógica da ideologia igualitária pregada pela Revolução Francesa.


Cronologia 1910-1951.

 Durante a Primeira Guerra Mundial, Arthur Bafour, MRE Britânico, declarou a Lord Rothschild que lutaria para que estabelecesse na Palestina um lar nacional aos judeus, desde que não ameaçasse as comunidades e os direitos de quem já estivesse lá estabelecido. Claramente, colocar dois povos iguais, mas diferentes, no mesmo quadrado, não daria nada certo. A Guerra trouxe o débâcle do Império Turco e vários estados o sucederam; secretamente, as duas potências europeias dividiram o Oriente Médio em zonas de influência por intermédio de uma série de negociações que foram consignadas no Acordo Sykes-Picot (1916). A intenção do aceno aos sionistas era conseguir a simpatia dos judeus americanos, para que estes influenciassem Washington a entrar definitivamente na guerra, que se arrastava por anos e devastava a Europa, tanto em termos econômicos, como em vidas humanas.  Além do interesse militar, é sempre importante lembrar que o Oriente Médio era (e é) rico em petróleo e que as maiores reservas estavam presentes no Canal do Suez.

 Acordo Sykes-Picot

A Legião Judaica, voluntários sionistas, ajudou os britânicos a reconquistarem o território da Palestina. Após o desmantelamento do império otomano, a região passou ao domínio dos britânicos, após a Conferência de San Remo (1920). Além disso, a Grã-Bretanha levou o Mar Mediterrâneo, o Rio Jordão e o Iraque.  A França, por sua vez, ficou com as regiões da Síria e do Líbano. Em 1922, a Liga das Nações concedeu à Inglaterra um mandato para estabelecer o tal do lar nacional dos judeus.  A população era majoritariamente muçulmana, exceto em Jerusalém. A declaração Balfour foi incorporada ao Tratado de Sèvres, que selava a paz com o ex-Império Turco-Otomano. A França e a Itália ratificaram a declaração espontaneamente, para não ficar de fora da administração do Oriente Médio.

Eliahu Biltezky assimilou o antissionismo ao antissemitismo, de forma a demonizar aqueles que se opunham à sanha anexatória sionista. Propôs um projeto de partilha da Palestina, pois entendia que palestinos e judeus não conseguiriam nunca se entender dentro de um mesmo território. O Congresso Sionista aceitou a ideia da partilha proposta por Biletzky, com algumas modificações. Biletzky dizia que o sionismo aspirava à igualdade em condições de liberdade e independência para os dois povos em questão;Finkelstein, no entanto, afirmava que o sionismo sempre pretendeu a criação de um Estado às custas dos árabes palestinos, pois:
1. O que desencadeou a posição contrária dos palestinos aos judeus não foi o antissemitismo, mas a perspectiva (correta) da expulsão dos palestinos de seus territórios;
2. No projeto sionista, a Palestina deveria abrigar uma maioria judaica, o que ratificaria o direito dos sionistas a um Estado. Os sionistas diziam que os judeus tinham um "direito histórico" à Palestina, enquanto a população árabe local somente teriam "direitos residenciais" (são forgados pra caralho...).

O autor destaca as três dimensões do sionismo: política, cultural e trabalhista.

Com o desmantelamento do califado turco-otomano, os territórios foram desmembrados, ficando a Turquia, de um lado, e o Iraque, o Líbano, a Síria, a Transjordânia e a Palestina, de outro. Não obstante Iraque (Mesopotâmia, 1928), Líbano (1943), Síria (1944) e Transjordânia (1946) terem conseguido suas independências, o status da Palestina continuava suspenso.
O líder muçulmano Mohammad Amin al-Husayni não aceitou a independência de parte do território para alocar os judeu; não lhe agradava a ideia de uma terra de Israel. A violência escalou cada vez mais e teve um ponto de máximo durante a Segunda Guerra Mundial. O holocausto promovido por Adolf Hitler a um povo de grande influência sobre um dos dois grandes vencedores do conflito, os Estados Unidos, mobilizou a opinião pública internacional em torno da questão israelense.

O Estado da Palestina, no entanto, foi virtualmente criado em 1945, sob os auspícios da ONU. Em seguida, os Estados Unidos deram apoio à causa sionista e começou a haver articulações para a criação do Estado de Israel. A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas aprovou uma resolução que particionava a região em dois Estados: um judeu e um árabe, de acordo com as regiões que habitavam (Res. 181/1947). A cidade de Jerusalém teria um corpus separatum, recebendo estatuto de cidade internacional, sendo administrada pela ONU, a fim de evitar conflitos. Truman e Stalin chegaram ao acordo que o estado judeu deveria ser criado.

 Plano de partição da Palestina

A Agência Judaica aceitou o plano. A Alta Comissão Árabe não. Até hoje os muçulmanos pagam por esse erro. Com isso, assim que acabou o mandato da Inglaterra, cedido pela Liga das Nações, a Agência Judaica declarou a independência e chamou de "Israel" todas as regiões acordadas no âmbito da ONU. Tropas da Transjordânia, Egipto, Síria, Líbano e Iraque atacaram o recém-criado Estado de Israel e houve a Guerra de "Independência". Os estados árabes declararam o propósito de proclamar um "Estado Unido da Palestina" em todo o território, e não um estado judeu e outro muçulmano. Essa intransigência viria a ficar do avesso nos dias atuais: os palestinos querem os dois estados, e os judeus não querem mais, ou pelo menos não agem para viabilizar isso. A luta terminou com o Armistício de Rodes: Israel conseguiu o controle efetivo de toda a parte que seria atribuída aos judeus e anexou mais da metade do território destinado aos árabes. A Faixa de Gaza foi ocupada pelo Egito e o Norte pela Transjordânia. A internacionalização de Jerusalém foi para o saco. Em 1967, Israel conquistou esses territórios, durante a Guerra dos Seis Dias. 

Deu-se início a uma crise migratória: 2/3 dos palestinos fugiram ou foram expulsos de seus territórios e os judeus passaram a administrar o País. Os países árabes recusaram-se, então, a reconhecer o Estado de Israel.

1949 A Linha Verde passou a ser a fronteira administrativa entre Israel e os estados ocupados. O fracasso dos Estados árabes fez surgir atores privados no conflito, tal como a Organização para Libertação Palestina (OLP). A Questão Israelense tornou-se Questão Palestina. A OLP surgiu do partido Fatah, criado por Iasser Arafat, que intentava o reconhecimento como palestino dos territórios palestinos; quando evoluiu para a Organização, Arafat declarou que se tratava de um "Estado no exílio". Em 1974, a OLP seria aceita pela ONU como a única representante dos palestinos.

60s e 70s Os palestinos então começaram a lançar ataques contra judeus em todo o mundo. A querela entre os dois povos tornou-se uma "guerra santa" e o terrorismo é o método utilizado pelo lado mais fraco e oprimido. 1973 Nas Olimpíadas de Munique, houve o famoso e terrível massacre dos atletas israelenses, o que fez Tel Aviv desencadear a Operação Cólera de Deus, para procurar culpados.

1973 A resposta muçulmana foi um ataque surpresa coordenado entre a Síria e o Egito no feriado mais santo do calendário judeu. Estava deflagrada a Guerra de Yom Kippur, que durou 20 dias. Com muito custo humano, os israelenses conseguiram expulsar as forças intrusas; porém, a insatisfação popular fez o primeiro-ministro renunciar.

1977 Menachen Begin assumiu o controle do Partido dos Trabalhadores israelense. Sem o apoio da Síria e da Jordânia (ex-Transjordânia), que mantiveram certa distância da questão, o Egito viu-se forçado a assinar a paz. O presidente egípcio Anwar el Sadat fez a primeira visita a Israel e reconheceu o Estado, no âmbito dos Acordos de Camp David, que abriram caminho para o Tratado de Paz Israel-Egito.

No diploma assinado, houve o comprometimento do mútuo reconhecimento, a cessação do estado de guerra, que perdurava desde 1948,  e a completa retirada das tropas sionistas da Península do Sinai, as quais a haviam ocupado durante a Guerra dos Seis Dias. Em troca, estava garantida a livre passagem de navegações israelenses pelo Canal de Suez e o reconhecimento do Estreito de Tiran e do Golfo de Aqaba como águas internacionais.

1981 O presidente do Conselho de Segurança da ONU declarou, porém, que não seria possível fornecer forças de observação, uma vez que havia a ameaça de veto por parte da URSS. Para resolver o impasse, foi criada uma força multinacional fora do âmbito do CSONU (Protocolo ao Tratado de Paz).

Porém, a paz com os israelenses significou o isolamento egípcio dentro da comunidade dos estados árabes. O símbolo inicial maior desse isolamento foi sua suspensão da Liga Árabe.

Israel começou a encorajar assentamentos israelenses na Cisjordânia, com o intuito de formar uma espécie de usucapião das terras palestinas, o que obviamente criou atritos. Lançou também a Operação Ópera, que visava bombardear reatores nucleares no Iraque, com o temor de que este obtivesse bombas atômicas.

1982 Israel interveio na Guerra Civil Libanesa com o intuito de destruir bases da OLP, a qual respondeu com mísseis. Esse movimento acabou por culminar na Guerra do Líbano. Findo o conflito, Israel retirou a maior parte de seu contingente, mas manteve uma zona de segurança até 2000.

1987 Então aconteceu a Primeira Intifada (guerra das pedras), na qual ocorreram diversos levantes palestinos contra os israelenses nas terras ocupadas. O estopim havia sido a publicação de abusos de soldados israelenses a palestinos e a revolta somente terminou por véspera da  celebração dos Acordos de Oslo.

1991 Alguns anos depois, eclodiu a Guerra do Golfo, na qual o Iraque invadiu o território do Kuwait. A OLP apoiou o ataque de mísseis contra Israel por Saddam Hussein, na tentativa de provocar a entrada de Israel no conflito: assim, destruía-se instalações nucleares sionistas e colocaria em xeque a sustentação da aliança anti-Iraque, capitaneada pelos Estados Unidos. Devido à forte pressão de seu padrinho, Tel Aviv não retaliou os iraquianos.

1992 O Partido dos Trabalhadores volta ao poder no Knesset, representado pelo primeiro-ministro Itzhak Rabin. Finda a guerra, sob o patronato de Bill Clinton, Arafat e Rabin celebraram os Acordos de Oslo, diante da falência do sistema multilateral das Nações Unidas. A crise de legitimidade da ONU evitou que o Brasil tivesse uma atuação mais significativa no âmbito da discussão sobre o estatuto daquela região.

Os principais pontos dos acordos foram:
1) a retirada das tropas israelenses da Cisjordânia e da Faixa de Gaza;
2) um governo interino da autoridade palestina exerceria mandato sobre o território até 1996, quando seria renegociado o status do território palestino;
3) questões referentes ao estatuto de Jerusalém;
4) divisão do território em 3 áreas: a) de controle total dos palestinos; b) de controle civil dos palestinos e militar dos israelenses; c) de controle total dos israelenses.


Ganharam o prêmio nobel, posaram para fotos juntos, porém, a alegria duraria pouco. Itzhak Rabin seria assassinado em meio ao processo definitivo de paz por um extremista religioso judeu, deflagrando o começo do fim do mundo da ordem pós-1945.

2000 Para melhorar a situação, Ariel Sharon, líder da oposição, visitou o Monte do Templo e declarou Jerusalém terra eterna de Israel, o que enfureceu os árabes. Teve início então a Segunda Intifada, ou Intifada de Al-Aqsa, na qual morreram 3400 palestinos e 1000 israelenses.

2002 Surgiu então o primeiro plano de paz relevante sugerido pelos árabes, mais precisamente pela Arábia Saudita. O chanceler israelense não gostou da iniciativa, afirmando que os detalhes de cada plano de paz deveriam ser discutidos entre israelenses e palestinos, e somente depois que a Autoridade Palestina acabasse com o seu terror.

2004 Ariel Sharon promoveu uma retirada unilateral dos israelenses na Faixa de Gaza e nos territórios da Cisjordânia, ocupados desde a Guerra dos Seis Dias (1967). A medida foi aprovada mediante grande polêmica e colocada em prática um ano depois. Paralelamente, o primeiro-ministro ordenou a construção de um muro na Cisjordânia, com o objetivo de dificultar atentados terroristas (e de lambugem deixar os palestinos sitiados e sem acesso para Jerusalém), negando qualquer negociação com as autoridades palestinas sem o fim dos ataques terroristas. Yasser Arafat, velho que estava, esticou as canelas e Mahmud Abbas foi eleito como Autoridade Palestina. Conseguiu-se uma soberania parcial sobre a Faixa de Gaza, mas lutas internas fizeram o Hamas conquistar o poder de facto no território, o que paralisou as negociações.

2006 Então, o poder do Hamas foi chancelado pela via eleitoral. A organização fundamentalista não reconhece o Estado de Israel e houve um recrudescimento das relações. Enquanto a extrema direita chegava ao poder do lado palestino, não demoraria três anos para chegar ao poder também do lado israelense, tendo o demônio encarnado dessa vez na pessoa de Benjamin Netanyahu. Mas antes disso, houve uma escalada de violência que viria a culminar na Guerra de Gaza de 2008. Tel Aviv responde com ataques aéreos desproporcionais e posteriormente invadem o território palestino, promovendo um terror indizível. Enquanto isso, os ataques terroristas dos extremistas muçulmanos tornam-se cada vez maiores. Barack Obama entra em cena para tentar estancar as violências e retomar as negociações de paz. Porém, o extremista Netanyahu é irredutível e a proteção diplomática dos Estados Unidos no Conselho de Segurança inviabiliza qualquer ação internacional, tolhendo também a margem de manobra da Autoridade Palestina, o que fez com que a situação chegasse a um impasse.


A situação piorou muito em 2012, quando Israel promoveu a execução extrajudicial de Ahmed Jabari, do Hamas. Em resposta, 700 foguetes foram lançados em direção ao território israelense; Netanyahu respondeu com a Operação Pilar Defensivo, que ia muito além da mera defesa. O Hamas denunciou o bloqueio da Faixa de Gaza e a reocupação dos territórios da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental. Acusaram os sionistas de usarem como alvos os civis. Em apenas uma semana de campanha, foram mortos 167 civis palestinos e o Hamas executou sumariamente 8 dos seus, por suposta colaboração. A Jihad Islâmica então decidiu declarar guerra. Apesar da maciça quantidade de foguetes lançados contra a porção israelense, o ataque teve pouquíssima efetividade, graças à superioridade tecnológica dos escudos defensivos israelenses.  O Brasil condenou os ataques israelenses posteriores, devido à desproporcionalidade; o Mercosul condenou a violência dos dois lados. Um cessar-fogo mediado pelo Egito foi declarado. Ambos os lados declararam-se vitoriosos... O número de feridos foram de 224 do lado da estrela e de 1269 do lado da luazinha.

Mas a paz não durou muito tempo. Em 2014, três adolescentes israelenses foram mortos por extremistas palestinos; em resposta, os extremistas israelenses raptaram um jovem palestino e atearam fogo ainda com vida. Uma série de protestos eclodiram na palestina e vários foguetes foram lançados. Israel resolveu responder com ataques aéreos e incursões terrestres. Houve crimes de guerra dos dois lados, custando a vida de 6 civis israelenses e de 2.189 civis palestinos. Um verdadeiro holocausto.


A tal da margem protetora significava, mais uma vez, fazer um cerco aos palestinos. Mais uma vez, foi necessária a mediação do Egito para que se conseguisse um cessar-fogo. A quantidade de civis mortos do lado palestino é "justificada" pelos israelenses como sendo "erros" -- mesmo que seja utilizado armas de precisão, como drones. Washington condenou juntamente com Tel Aviv o partido Hamas pelo uso de escudos humanos. A Anistia Internacional afirmou que não se tem evidência sobre essa alegação.

O direcionamento de foguetes para áreas civis, em direção a Israel, é crime de guerra. Assim, também, como é os seis ataques que os israelenses fizeram a escolas da ONU, as quais estavam sendo utilizadas para refugiados. A escola de Beit Hanoun transformou-se em um verdadeiro campo de batalha. A UNRWA afirmou que os oficiais israelenses nunca responderam a pedidos urgentes da agência por um cessar-fogo. Ban Ki-Moon, Secretário Geral das Nações Unidas, pediu investigação e punição: "É um ultraje moral e um ataque criminoso". A Liga Árabe pediu reunião de Emergência do Conselho de Segurança da ONU, condenando Israel pela desproporcionalidade. OS BRICS pediram para que o CS exercesse seu papel plenamente (isso é, fazendo uso da força se preciso), solicitando o fim da violência. A União Europeia condenou os grupos de Gaza e os ataques israelenses de ter feito tantas vítimas civis. O CS, diante do veto americano, simplesmente pediu o fim da escalada de violência e um cessar-fogo. A Alta Comissariada dos Direitos Humanos afirmou que os ataques de Israel podem ter violado o direito internacional humanitário e de guerra. O Brasil, em um gesto coerente com sua postura perante a situação, chamou seu embaixador de Tel Aviv para consultas, pediu um cessar-fogo e condenou o uso desproporcional da força. Netanyahu, bravinho, chamou o Brasil de "anão diplomático" e falou que vergonha era "7 a 1", em uma referência infantil à perda brasileira contra a Alemanha na Copa do Mundo. Os EUA simplesmente pediram um acordo. A Rússia pediu o fim da operação e da crise humanitária.  A Grã-Bretanha, no entanto, se limitou a falar que os feios da história eram os do Hamas, unicamente.

A conduta de Israel é um revisionismo do nazismo: transforma-se Gaza em Auschwitz e a solução final é chamada de margem protetora.É um Sionazismo.

O interesse norte-americano em pacificar a questão israelo-palestina encontra amparo na lógica de que a instabilidade gera custos expressivos para o petróleo explorado no Oriente Médio e que a rivalidade entre os dois povos, que surgiu, diga-se de passagem, graças às fronteiras artificiais criadas pelo Ocidente imperialista, é o fator que mais contribui para a instabilidade e violência naquela região. Trata-se, em última instância, de uma cagada feita pelos imperialistas que acabou por afetar seus próprios interesses: um Frankenstein (monstro).

A situação de Israel estava muito parecida com aquela antes do cativeiro da Babilônia: o país está tretado com todos os seus vizinhos e apresenta um excesso de confiança. Provavelmente estão fadados a repetir o erro. Enquanto isso, a hipocrisia come solta, com os sionistas fazendo homenagens ao holocausto com a mão direita e promovendo o progrom dos palestinos com a esquerda. O mais impressionante em nossa cultura é a promoção do holocausto como exemplo de horror e o total descaso, pelos jornais e pela indústria cinematográfica, das outras hecatombes genocidas que aconteceram e acontecem, como se os judeus fossem os únicos coitados dessa história. Não obstante, essa lógica tem um motivo: Estados Unidos.

Os yankees tinham a maior população judaica do mundo em 1924 - cerca de 2 milhões de judeus. Os aliados tinham o interesse de sensibilizar a população americana, com o intuito de este entrar na guerra. Para além disso, fincar um estado-vendido, como Israel é dos Estados Unidos, naquela região é um grande passo no complexo tabuleiro geopolítico do Oriente Médio, riquíssimo em petróleo. Portanto, sensibilizar o mundo para o problema judeu era preciso, mas falar sobre os armênios e, a posteriori, os palestinos, por exemplo, nem tanto. Por muito tempo, vai ser somente a Lista de Schindler que você vai assistir nos grandes cinemas.